Primeiro-ministro eslovaco demite-se por causa de acordo para compra de vacina russa

Negociação foi secreta até para os seus parceiros de coligação de Igor Matovic. Partidos preparam-se para formalizar novo governo chefiado pelo até agora ministro das Finanças.

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Eduard Heger a caminho de ser o novo primeiro-ministro da Eslováquia Reuters

O primeiro-ministro da Eslováquia demitiu-se e vai trocar de cargo com o ministro das Finanças, numa remodelação para tentar acabar com a crise desencadeada por um acordo secreto para comprar a vacina russa contra a covid-19.

Igor Matovic anunciou que propôs a troca de cargos com o ministro das Finanças, Eduard Heger, também membro do partido Pessoas Comuns e Personalidades Independentes (Olano), populista anticorrupção, e que Heger aceitou “o desafio”.

Heger indicou que vai abrir conversações com os parceiros da coligação sobre um possível novo governo e que planeia encontrar-se com a Presidente, Zuzana Caputova, esta segunda-feira, para consultas. Na semana passada, a própria Presidente disse que seria aconselhável a saída de Matovic do cargo.

A crise política na Eslováquia começou há três semanas, quando foi revelada a existência de um acordo secreto entre Bratislava e Moscovo para a compra de dois milhões de doses da vacina russa Sputnik V.

A Agência Europeia de Medicamentos ainda não autorizou esta vacina, que está a ser, no entanto, usada na Hungria, com outros países a terem começado também negociações de contratos. 

Dois partidos membros da coligação de governo, Liberdade e Solidariedade, críticos da forma como o partido de Matovic tem gerido as questões relacionadas com o combate à pandemia da covid-19, exigiram a demissão do chefe do Governo como condição para a coligação sobreviver.

Matovic defendeu a compra da Sputnik V com o argumento de que permitirá acelerar o programa de vacinação na Eslováquia.

O primeiro-ministro afirmou há uma semana que se demitiria se o seu principal rival, líder do partido da Liberdade e Solidariedade, Richard Sulik, e a ministra da Justiça, Maria Kolikova, do partido Para o Povo, também se demitissem, o que ambos fizeram na semana passada.

A crise levou já à demissão de seis ministros dos quatro partidos da coligação de governo.

O Liberdade e Solidariedade rejeitou, entretanto, outras condições de Matovic, incluindo um pedido para que o partido de Sulik desistisse de um dos seus três ministérios.

Matovic anunciou, entretanto, que deixou cair todas as condições “para que a coligação continue”. A sua saída total do governo era exigida pelos outros partidos da coligação para a manterem.

Mas dois dos partidos da coligação – os conservadores do Para o Povo e os populistas de direita Somos Família – anunciaram de imediato que aceitam o plano do primeiro-ministro de saída para a crise.

E o liberal Liberdade e Solidariedade, que se retirou da coligação até que Matovic aceitasse demitir-se, disse que está pronto a regressar ao governo.

A Eslováquia parece estar a recuperar aos poucos de uma situação difícil com um grande aumento de casos de infecções pelo vírus que provoca a covid-19, e um número de mortes por milhão de habitantes que chegou a ultrapassar o Brasil e ser o maior do mundo, segundo o site Our World in Data.

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