Um Rio de hesitações

São várias as situações de hesitação, ou ausência de determinação no PSD, mas para o país interessa mesmo é saber se Rui Rio algum dia mostrará a sua alternativa.

A política, enquanto alternativa, exige posições inequívocas. Exige saber o que cada um defende em relação aos temas essenciais que atravessam a vida das nações. Alguns mais estruturais, outros menos, mas, em qualquer dos casos, só os timoratos se deixam ficar no limbo, à espera de ver o que é que dá. A tibieza é, no limite, a demonstração da ausência de alternativa. O País assiste, atónito, a um PSD que, nos assuntos mais importantes, não clarifica a sua posição. Refugia-se na concha da bolha mediática para não ter de tomar posição de fundo sobre nada. Enrola e critica, mas não esclarece a sua posição. Aquilo que podia ser uma tática tornou-se num estado de letargia permanente. Onde está a assertividade de Rui Rio?

O país discute o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), já houve duas consultas públicas e um debate muito importante com a presença do António Costa na Assembleia da República, além de vários debates setoriais e duas consultas públicas. No primeiro caso, o PSD poderia ter-se envolvido, participado e apresentado a sua alternativa. Nos segundos, participou ou, pelo menos, esteve por lá. No resto foi o deserto habitual. Em nenhum dos casos apresentou ideias ou soluções alternativas. Apenas críticas avulso. Por isso, sabemos pouco ou mesmo nada sobre o que faria este partido se tivesse de desenhar o PRR. O Governo e o PS, aliás, como poucas vezes na nossa história democrática, suscitou a participação não só daquilo que se convencionou chamar a classe política, mas da própria sociedade, com aportações francamente positivas. E do outro lado? Que me desculpem, mas assistiu-se, e vou ousar a conhecida expressão camoniana, a “uma apagada e vil tristeza” que o escrutínio democrático “não deixa durar muito”, para citar de novo o poeta.

Noutro plano, mas com o mesmo resultado, encontra-se o processo de reestruturação da TAP. O PSD, até hoje, não foi capaz de dizer aos portugueses o que faria. Deixavam a empresa falir? Financiavam a reestruturação com dinheiro público, deixando o controlo nas mãos do privado? Deixavam todo o ónus sobre os trabalhadores, com despedimentos em massa? Fariam cortes brutais de salários? Não sabemos nada, apenas que, nuns dias, “a gestão privada foi catastrófica”; e, noutros, devíamos ter deixado os “únicos que percebiam do assunto dentro da TAP”, que, segundo o PSD, seria o mesmo empresário a quem talvez devêssemos entregar o dinheiro dos contribuintes para que continuasse uma gestão autónoma do Estado e dos contribuintes no seu quotidiano, mas dependente do Estado, quando e quanto precisassem para o seu financiamento. Ao final do dia, pagávamos a conta.

Poderia continuar a enumerar situações de hesitação, ou ausência de determinação, mas para o país interessa mesmo é saber se Rio algum dia mostrará a sua alternativa.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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