Jesuítas dos EUA angariam 100 milhões de dólares para compensar descendentes de escravos

O dinheiro angariado será utilizado para compensar os descendentes de mais de 200 escravos e para continuar a trabalhar nas exigências de compensação e reconciliação dos afro-americanos após quase 250 anos de escravatura.

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Reuters/CARLOS BARRIA

Os jesuítas dos Estados Unidos angariaram 100 milhões de dólares para os descendentes dos escravos que serviram a ordem durante o século XIX, naquela que é até agora uma das maiores realizações dos EUA para reparar a subjugação dos negros ao longo dos séculos.

A Companhia de Jesus anunciou que doará as receitas à Fundação Descendentes Verdade e Reconciliação, que, por sua vez, está associada à GU272, sem fins lucrativos, criada para preservar a memória de 272 escravos vendidos em 1838 pela Universidade de Georgetown, então sob controlo jesuíta.

A venda às plantações no Louisiana serviu para salvar da ruína financeira a universidade, que continua a funcionar como uma das mais prestigiadas do país.

O dinheiro angariado será utilizado para compensar os descendentes desses 272 escravos e para continuar a trabalhar nas exigências de compensação e reconciliação dos afro-americanos após quase 250 anos de escravatura, que os Estados Unidos terminaram oficialmente com a provação da 13.ª emenda à Constituição, em 1865.

“A nossa vergonhosa história de escravos foi limpa com pó da nossa prateleira e nunca mais terá lugar”, disse Tim Kesicki, presidente da Conferência Jesuíta do Canadá e dos Estados Unidos, numa declaração.

“O racismo continuará a permanecer nos Estados Unidos se virarmos as costas ao passado e à forma como ele nos afecta a todos hoje. O passado duradouro da escravatura exige que todos nós trabalhemos pela verdade e reconciliação”, acrescentou o prelado.

“Após 182 anos, os descendentes de escravos e Jesuítas juntaram-se no espírito da verdade e da reconciliação racial e isso faz da Fundação Descendentes Verdade e Reconciliação um exemplo para desmantelar os vestígios da escravatura e mitigar a presença do racismo”, considerou, por seu lado, o presidente da organização, Joseph Stewart.

Este acordo representa o maior esforço da Igreja Católica para corrigir o seu passado de compra e venda de escravos negros nos Estados Unidos, de acordo com fontes e historiadores consultados pelo The New York Times, que noticiou o anúncio.

A Companhia de Jesus trocou escravos durante mais de um século para sustentar as suas finanças e manter as operações das igrejas e escolas, incluindo a Universidade de Georgetown, a primeira universidade católica nos Estados Unidos.

Kesicki disse que o seu objectivo a longo prazo é angariar mil milhões de dólares, tal como solicitado pelos descendentes dos escravos.

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