Mais transparência

Nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, aceder ao contacto do médico que o tratou ou segue em consulta é tarefa árdua e, a mais das vezes, infrutífera.

A “vida” dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde tem de ser mais transparente. A maioria destas unidades públicas tem hoje portal web com acesso a informação relevante para a comunidade. Porém, no que respeita a serviços clínicos, a informação disponível é, em geral, ainda limitada.

Sendo certo que uma das virtudes dos hospitais do SNS relativamente aos privados é o trabalho em equipa, tal facto não pode servir de justificativo para que não se discrimine cada um dos elementos integrantes dos serviços de ação médica (médicos, enfermeiros, técnicos e administrativos). A verdade é que a transparência responsabiliza e a opacidade mascara.

Experimente o leitor, aceda ao site do hospital público do distrito onde reside. Provavelmente ficará apenas a saber as especialidades hospitalares existentes. Os profissionais que as exercem e o nome dos diretores dos serviços é informação que na maioria dos casos não consta.

Nos grandes hospitais universitário centrais, a informação melhora mas fica aquém da prestada pelos congéneres Europeus. Vejamos:

  • Verificamos, por exemplo, que no hospital Pitié-Salpetriére (Paris) conseguimos facilmente conhecer o corpo clínico de um qualquer serviço hospitalar, bem como os contactos de cada um dos médicos e respetivo horário de consulta. Tal pressupõe a existência de um secretariado clínico.
  • Para cá dos Pireneus, a opacidade vai adensando. Por exemplo, no portal do hospital Gregório Maranon (Madrid), o corpo clínico das diferentes especialidades está discriminado. Porém, tudo é omisso quanto a horário de consulta e contacto dos médicos.
  • Transpostos os montes Hermínios, o mais que conseguimos conhecer é, salvo raras e honrosas exceções, o nome do diretor do departamento ou do serviço clínico. Aceder ao contacto do médico que o tratou ou segue em consulta é tarefa árdua e, a mais das vezes, infrutífera.

Abra agora o portal de um qualquer hospital privado e procure aceder ao corpo clínico de uma especialidade. Vai ver que com três ou quatro cliques consegue a informação. Mais, na maioria das instituições fica a conhecer os profissionais pelo nome e fotografia. Não procure o nome do diretor do serviço, é cargo que na maioria dos casos não existe, o mais que poderá encontrar é o de um coordenador.

Nos hospitais do SNS, a pandemia fez reduzir as listas de espera, para consultas e cirurgias de doentes não covid, para cerca de metade. Parece paradoxal, mas é verdade. Há duas razões principais para tal ter sucedido, a menor procura da parte dos doentes pelo receio de se ser infetado e a menor referenciação da parte dos Cuidados de Saúde Primários. O principal motivo da menor referenciação prende-se com a primeira razão e, ainda, ao facto da maior atenção dos centros de saúde aos doentes covid.

Esta situação não é específica do País, tão pouco do nosso modelo de saúde. Num report recente da Sociedade de Cirurgiões Torácicos dos Estados Unidos, é referido que o efeito covid conduziu a uma “redução no número de cirurgias cardíacas e a um aumento da mortalidade”. A redução variou de Estado para Estado, sendo em média de 53%. Dito de outra forma: em consequência da pandemia, nos EUA verificou-se uma redução dramática do número de cirurgias cardíacas com agravamento dos resultados.

Como tem vindo a ser assinalado, as patologias não covid-19 não desapareceram, aguardam apenas “melhores tempos” para voltarem a ser o principal centro de atenção. Aproveitemos estas falsas tréguas para reorganizarmos os hospitais do SNS. Entre outras medidas, é fundamental progredir-se na informação disponibilizada ao exterior.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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