Será que fumar um charro dá gás à crise climática?

A indústria de produção de cannabis industrial pode estar a crescer a olhos vistos, mas políticos e consumidores têm ignorado a sua pegada ecológica. Produzir 0,1 gramas de cannabis num espaço fechado emite mais gases com efeito de estufa do que fazer uma cerveja ou uma chávena de café, conclui estudo.

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LUSA/Carlos Ramirez

Qual é mais prejudicial para o ambiente: uma cerveja, uma chávena de café ou um charro? Se a cannabis for cultivada à escala comercial num espaço fechado, a resposta é provavelmente a última.

Pelo menos, é essa a conclusão dos investigadores da Universidade Estadual do Colorado, que afirmam que o grande crescimento da produção de marijuana em interior nos EUA é uma das principais e crescentes fontes de emissão de gases com efeito de estufa que provocam o aquecimento global.

A indústria, avaliada em 13,6 mil milhões de dólares, quase que quadruplicou desde 2012, quando os estados de Washington e Colorado se tornaram os primeiros a permitir o uso recreativo de cannabis . No entanto, políticos e consumidores têm ignorado o custo ambiental dos grandes gastos energéticos do cultivo de interior, dizem os investigadores. Quase um terço dos estados do país permite o uso recreativo, enquanto o medicinal é legal em cerca de dois terços.

No Colorado, o cultivo de cannabis em interiores é responsável por 1,7% das emissões anuais de gases com efeito de estufa – semelhante à percentagem da extracção de carvão, afirmou Jason Quinn, co-autor do estudo, à Thomson Reuters Foundation, na terça-feira. Para isso contribuem o aquecimento, a ventilação e o ar condicionado, necessários para manter as condições certas para as plantas, as luzes de cultivo de grande intensidade e o uso de dióxido de carbono suplementar para estimular o crescimento. 

Investigações preliminares sugerem que o nível de emissões de gases com feito de estufa produzidas por 0,1 gramas de erva – cerca de um terço de um charro – é, provavelmente, muito maior do que o necessário para produzir um copo de cerveja, vinho ou de uma bebida espirituosa, um café ou um cigarro, dizem os autores.

“Nós ficamos muito surpreendidos com o alto nível de impacto”, acrescentou Quinn, director do laboratório de investigação em sustentabilidade da universidade. “Há aqui uma grande oportunidade para o reduzir. Os consumidores podem começar a perguntar: ‘a tua cannabis é produzida no interior ou exterior?”. Mudar para o cultivo em estufas ou ao ar livre pode diminuir as emissões em 42% e 96%, respectivamente, lê-se no estudo publicado na Nature Sustainability.

A investigação revela ainda uma grande variação nas emissões pelo país e dentro de alguns estados, justificada pelo facto de o cultivo interior em climas mais amenos precisar de menos aquecimento ou ar condicionado para manter a temperatura e a humidade favoráveis. Produzir 28 gramas de cannabis seca na ilha O’ahu do Hawaii é quase equivalente a queimar 60 litros de gasolina, criando o dobro das emissões do que se fosse produzida no sul da Califórnia, diz o estudo.

Os investigadores também sugerem que os estados, que já legalizaram o cultivo, devem levar a produção de cannabis em interiores para regiões com condições climáticas mais adequadas, enquanto os que pretendam legalizar o cultivo, no futuro, devem evitar este tipo de produção. No entanto, mudar a produção para o exterior pode criar problemas de segurança e dificultar que os produtores criem múltiplas colheitas por ano com consistência.

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