Reino Unido

No Dia da Mulher, um tributo às que estão na linha da frente no combate à pandemia

REUTERS/Hannah McKay
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Um ano depois de a pandemia ter abalado o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), mulheres do hospital East Lancashire NHS Trust contam como têm vivido — e o que tem significado — a crise provocada pela covid-19. A Reuters fotografou-as e partilhou os seus depoimentos — mesmo a tempo de as celebrar no Dia da Mulher. Desde a chef que prepara refeições que são últimos desejos à enfermeira que perdeu a mãe durante a pandemia. 

No Reino Unido, há mais de quatro milhões de casos e 124 mil mortes por covid-19. Até meados de Fevereiro, 15 milhões de britânicos pertencentes a grupos de risco já tinham sido vacinados. E Boris Johnson comprometeu-se a vacinar todos os adultos até final de Julho. Os profissionais de saúde já começam "a ver a luz ao fundo do túnel". Mas Maxine Sharples, paramédica de 36 anos, assegura: "Fomos ao inferno e voltamos. Todos os membros do NHS."

Por cá, também o fotojornalista do PÚBLICO Adriano Miranda fez "uma radiografia às formigas" e retratou aqueles que, diariamente, trabalharam para salvar vidas. São profissionais de saúde do Hospital São João, no Porto, e do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro. Vale a pena rever.

Zebun Nissa, 42 anos, médica: "Uma segunda vaga não me impediu de me juntar ao NHS porque entendi que podia contribuir, podia ajudar, por isso, queria fazê-lo."
Zebun Nissa, 42 anos, médica: "Uma segunda vaga não me impediu de me juntar ao NHS porque entendi que podia contribuir, podia ajudar, por isso, queria fazê-lo." REUTERS/Hannah McKay
Michaela Gildley-Taylor, 31 anos, enfermeira: "Tem sido difícil para nós, em casa. Não podemos ver as nossas próprias famílias, mas estamos lá para as famílias de outras pessoas. Sim, vai ficar connosco definitivamente."
Michaela Gildley-Taylor, 31 anos, enfermeira: "Tem sido difícil para nós, em casa. Não podemos ver as nossas próprias famílias, mas estamos lá para as famílias de outras pessoas. Sim, vai ficar connosco definitivamente." REUTERS/Hannah McKay
Ruby Jocelyn, 19 anos, estudante de enfermagem: "Tornei-me enfermeira por causa da minha mãe. Comecei a trabalhar nos cuidados intensivos porque sabia que era preciso ajuda."
Ruby Jocelyn, 19 anos, estudante de enfermagem: "Tornei-me enfermeira por causa da minha mãe. Comecei a trabalhar nos cuidados intensivos porque sabia que era preciso ajuda." REUTERS/Hannah McKay
Marie Hudson, 61 anos, camareira: "Eles tomaram conta de nós, tivemos refeições grátis. Montes de coisa chegavam todos os dias para nós, desde creme para as mãos até caramelos. Senti-me muito valorizada."
Marie Hudson, 61 anos, camareira: "Eles tomaram conta de nós, tivemos refeições grátis. Montes de coisa chegavam todos os dias para nós, desde creme para as mãos até caramelos. Senti-me muito valorizada." REUTERS/Hannah McKay
Priscilla Manuel, 44 anos, enfermeira-chefe: "A equipa não estava preparada para tantas mortes súbitas, apesar do tratamento e cuidados que tivemos. Enfermeiros e médicos vêm porque querem servir e cuidar, e queremos ajudar as pessoas a melhorarem. Mas quando, independentemente do que fizemos, não trouxe os resultados que queríamos, isso afectou a equipa como um todo."
Priscilla Manuel, 44 anos, enfermeira-chefe: "A equipa não estava preparada para tantas mortes súbitas, apesar do tratamento e cuidados que tivemos. Enfermeiros e médicos vêm porque querem servir e cuidar, e queremos ajudar as pessoas a melhorarem. Mas quando, independentemente do que fizemos, não trouxe os resultados que queríamos, isso afectou a equipa como um todo." REUTERS/Hannah McKay
Sheeba Philip, 44 anos, enfermeira: "Durante a pandemia perdi a minha mãe. E quando ela estava nos últimos momentos de vida, era muito difícil para mim fazer os dois papéis. Enquanto enfermeira, sabia o que deveria estar a fazer, que o fim da sua vida estava a chegar e que ela não iria sobreviver. Como enfermeira, sabia perfeitamente os efeitos que a covid-19 tinham provocado nela. Mas, ao mesmo tempo, enquanto filha, não queria deixá-la ir. Queria que ela se agarrasse ao último fio. Queria gritar o mais alto possível 'não quero que ela vá'."
Sheeba Philip, 44 anos, enfermeira: "Durante a pandemia perdi a minha mãe. E quando ela estava nos últimos momentos de vida, era muito difícil para mim fazer os dois papéis. Enquanto enfermeira, sabia o que deveria estar a fazer, que o fim da sua vida estava a chegar e que ela não iria sobreviver. Como enfermeira, sabia perfeitamente os efeitos que a covid-19 tinham provocado nela. Mas, ao mesmo tempo, enquanto filha, não queria deixá-la ir. Queria que ela se agarrasse ao último fio. Queria gritar o mais alto possível 'não quero que ela vá'." REUTERS/Hannah McKay
Lisa McMullin, 50 anos, auxiliar de acção médica: "Os pés doem, as pernas doem. No final do turno estás, muitas vezes, completamente esgotada, mas tens de ficar melhor, voltar ao trabalho e continuar."
Lisa McMullin, 50 anos, auxiliar de acção médica: "Os pés doem, as pernas doem. No final do turno estás, muitas vezes, completamente esgotada, mas tens de ficar melhor, voltar ao trabalho e continuar." REUTERS/Hannah McKay
Ellie Pearson, 24 anos, fisioterapia: "Não esperas que alguém da mesma idade que o teu pai não seja capaz de se levantar e andar sem ficar sem ar. Pessoas que ainda trabalham a tempo inteiro. Acho que isso é o que te faz acordar."
Ellie Pearson, 24 anos, fisioterapia: "Não esperas que alguém da mesma idade que o teu pai não seja capaz de se levantar e andar sem ficar sem ar. Pessoas que ainda trabalham a tempo inteiro. Acho que isso é o que te faz acordar." REUTERS/Hannah McKay
Rahila Dusu, 33 anos, médica: "Estás assustada. Pessoas estão a morrer. Foi difícil, mas tem sido um óptimo processo de aprendizagem para mim. Há muito que vou levar comigo. A dificuldade, mas também o não ter medo,  sentes-te mais confiante e ousada. Sentes que podes enfrentar tudo o resto que vier na tua direcção."
Rahila Dusu, 33 anos, médica: "Estás assustada. Pessoas estão a morrer. Foi difícil, mas tem sido um óptimo processo de aprendizagem para mim. Há muito que vou levar comigo. A dificuldade, mas também o não ter medo, sentes-te mais confiante e ousada. Sentes que podes enfrentar tudo o resto que vier na tua direcção." REUTERS/Hannah McKay
Jacqui Jocelyn, 53 anos, enfermeira nos cuidados intensivos: "Estamos preocupadas com como vai ser depois para as enfermeiras, porque tem sido bastante traumático ver as coisas que já vimos na unidade."
Jacqui Jocelyn, 53 anos, enfermeira nos cuidados intensivos: "Estamos preocupadas com como vai ser depois para as enfermeiras, porque tem sido bastante traumático ver as coisas que já vimos na unidade." REUTERS/Hannah McKay
Charlotte Dugale, 41 anos, especialista em ortodontia:  "Enquanto equipa, temos ficado mais unidos. Percebemos quando, não só a nível profissional, confiamos uns nos outros, mas também a nível pessoal. E temos esse nível de confiança e companheirismo, naquele que tem sido um período muito, muito difícil."
Charlotte Dugale, 41 anos, especialista em ortodontia: "Enquanto equipa, temos ficado mais unidos. Percebemos quando, não só a nível profissional, confiamos uns nos outros, mas também a nível pessoal. E temos esse nível de confiança e companheirismo, naquele que tem sido um período muito, muito difícil." REUTERS/Hannah McKay
Kirsty Wilkinson, 33 anos, auxiliar de acção médica: "É um privilégio estar com eles (pessoas que estão a morrer) e lembras-te de toda a gente. Cada um deles."
Kirsty Wilkinson, 33 anos, auxiliar de acção médica: "É um privilégio estar com eles (pessoas que estão a morrer) e lembras-te de toda a gente. Cada um deles." REUTERS/Hannah McKay
Mable Ng, 25 anos, farmacêutica: "Pessoalmente, sinto que este ano é muito especial e foi ano de sucesso. Por causa destas provas na pandemia, sinto que foram construídos alicerces mais fortes na minha carreira. Especialmente para o futuro."
Mable Ng, 25 anos, farmacêutica: "Pessoalmente, sinto que este ano é muito especial e foi ano de sucesso. Por causa destas provas na pandemia, sinto que foram construídos alicerces mais fortes na minha carreira. Especialmente para o futuro." REUTERS/Hannah McKay
Georgina Robertson, 46 anos, auxiliar de urgência: "Os números foram os mais altos, os pacientes os mais doentes. E, além disso, tivemos que lidar com cortes na equipa a níveis nunca antes vistos."
Georgina Robertson, 46 anos, auxiliar de urgência: "Os números foram os mais altos, os pacientes os mais doentes. E, além disso, tivemos que lidar com cortes na equipa a níveis nunca antes vistos." REUTERS/Hannah McKay
Dulcie Burrows, 52 anos, <i>chef</i>:  "Tivemos alguns desejos de final de vida. Podiam ser apenas uma sanduíche com bacon. Podiam ter sido batatas fritas fora de horas. Mas se o podemos fazer, vamos fazê-lo. Isso é o que importa. Apenas dar a alguém um pouco de felicidade através da comida."
Dulcie Burrows, 52 anos, chef: "Tivemos alguns desejos de final de vida. Podiam ser apenas uma sanduíche com bacon. Podiam ter sido batatas fritas fora de horas. Mas se o podemos fazer, vamos fazê-lo. Isso é o que importa. Apenas dar a alguém um pouco de felicidade através da comida." REUTERS/Hannah McKay
Maxine Sharples, 36 anos, paramédica: "Assim que chego a casa e fecho a porta, estou novamente a ser uma mãe e uma esposa, e apenas tenho de fazer esse papel até voltar a ir trabalhar de novo."
Maxine Sharples, 36 anos, paramédica: "Assim que chego a casa e fecho a porta, estou novamente a ser uma mãe e uma esposa, e apenas tenho de fazer esse papel até voltar a ir trabalhar de novo." REUTERS/Hannah McKay
Gillian Parker-Evans, 56 anos, parteira: "Todas as parteiras estão lá para estar com as mulheres e é isso que 'parteira' significa — 'estar com mulheres'. Então, estamos lá como um apoio, apesar de sermos profissionais. Também estamos lá para nos assegurarmos que as mulheres têm uma boa experiência. No início, quando os acompanhantes de nascimento eram mais restritos, continuámos lá para as mulheres."
Gillian Parker-Evans, 56 anos, parteira: "Todas as parteiras estão lá para estar com as mulheres e é isso que 'parteira' significa — 'estar com mulheres'. Então, estamos lá como um apoio, apesar de sermos profissionais. Também estamos lá para nos assegurarmos que as mulheres têm uma boa experiência. No início, quando os acompanhantes de nascimento eram mais restritos, continuámos lá para as mulheres." REUTERS/Hannah McKay
Mez Bagas, 38 anos, chefe de enfermaria: "Não podia ter pedido uma equipa mais dedicada. Sim, houve alturas em que choramos, mas também houve algumas em que rimos e brincamos. Ultrapassamos isto com humor, com carinho e compaixão."
Mez Bagas, 38 anos, chefe de enfermaria: "Não podia ter pedido uma equipa mais dedicada. Sim, houve alturas em que choramos, mas também houve algumas em que rimos e brincamos. Ultrapassamos isto com humor, com carinho e compaixão." REUTERS/Hannah McKay
Voirrey Quilliam, 25 anos, terapeuta da fala: "Ser capaz de ver expressões faciais, de mostrar comunicações não verbais aos nossos pacientes, e conseguir tirar o melhor deles tem sido um verdadeiro desafio."
Voirrey Quilliam, 25 anos, terapeuta da fala: "Ser capaz de ver expressões faciais, de mostrar comunicações não verbais aos nossos pacientes, e conseguir tirar o melhor deles tem sido um verdadeiro desafio." REUTERS/Hannah McKay
Ruth Clarke, 36 anos, estudante de enfermagem: "É aprender a fazê-los sentir como se fosses a mesma pessoa, ainda que eles não consigam ver as tuas expressões faciais e não lhes possamos tocar e ter interacções humanas, como costumávamos ter."
Ruth Clarke, 36 anos, estudante de enfermagem: "É aprender a fazê-los sentir como se fosses a mesma pessoa, ainda que eles não consigam ver as tuas expressões faciais e não lhes possamos tocar e ter interacções humanas, como costumávamos ter." REUTERS/Hannah McKay
Maxine Sharples, 36 anos, paramédica: "Fomos ao inferno e voltamos. Todos os membros do NHS, acho. Finalmente começamos a sentir que há uma luz ao fundo do túnel."
Maxine Sharples, 36 anos, paramédica: "Fomos ao inferno e voltamos. Todos os membros do NHS, acho. Finalmente começamos a sentir que há uma luz ao fundo do túnel." REUTERS/Hannah McKay
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