Benfica vai a jogo pela honra, pelos milhões e por Jesus

Garantir a presença na Liga dos Campeões ainda é um objectivo fundamental no projecto “encarnado”, mas também Jorge Jesus precisará de um crescimento exibicional na recta final do campeonato: a retórica de culpabilização da covid-19 assim o exige.

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Chiquinho e Filipe Augusto num dos últimos duelos entre as duas equipas LUSA/MÁRIO CRUZ

Numa fase em que nem o mais optimista adepto do Benfica acredita no título nacional, com o Sporting 16 pontos à frente, a equipa “encarnada” tem de agarrar-se ao que ainda existe. E o que existe, a nível de I Liga, não é desdenhável.

Em quarto lugar no campeonato, o Benfica joga, por agora, por uma vaga na Liga dos Campeões, honra que caberá ao terceiro classificado, ou mesmo pelo segundo lugar, que vale uma vaga directa na competição dos milhões – e, depois do maior investimento de sempre na equipa de futebol, a tesouraria não quererá enjeitar a maquia proveniente da UEFA.

Mas nem só pelos milhões se corre na Luz. Numa fase em que a equipa já caiu na Liga dos Campeões, na Liga Europa, na Taça da Liga, na Supertaça e, teoricamente, na I Liga, Jorge Jesus tem em mãos, mais do que qualquer outra coisa, a legitimação de um projecto.

O técnico “encarnado” tem apontado que a culpa da crise do Benfica é, sobretudo, do surto de covid que assolou o plantel, pelo que agora, sem vírus a perturbar o trabalho, a retórica de Jesus está sedenta de uma resposta em campo.

É neste sentido que o Benfica recebe nesta segunda-feira o Rio Ave, em casa (19h, BTV), em jogo da ronda 21 da I Liga. Para a antevisão da partida, que chega depois da queda europeia, frente ao Arsenal, o clube decidiu que não poria o técnico frente a frente com a imprensa, fazendo uma conferência apenas com a presença da BTV.

Em resposta às perguntas do canal oficial do clube, Jorge Jesus assumiu o cenário de crise, mas voltou a argumentar que a equipa “encarnada” está, apesar dos maus resultados, a melhorar.

“Temos dado alguns sinais de melhoria e espero que se confirmem frente ao Rio Ave”, apontou, reconhecendo que a equipa está em crise: “Sabemos que estamos num momento difícil, mas estamos preparados para tentar passar esta crise de resultados. Nos momentos difíceis é que se constroem os grandes jogadores e grandes treinadores”. “Precisamos de uma vitória e sabemos que, para a termos, precisamos de jogar bem”, concluiu, sobre o estado actual da equipa.

Sobre o adversário, Jesus deixou elogios à capacidade da equipa nortenha nas transições ofensivas. “Com a entrada do Miguel Cardoso, mudou muita coisa na ideia e no modelo de jogo do Rio Ave. E têm um contra-ataque muito forte, com jogadores que eu conheço bem, porque já fui treinador deles”, disse o treinador do Benfica, referindo-se a Carlos Mané e Gelson Dala, jogadores que orientou no Sporting.

Esta análise de Jesus não é apenas palpite, já que há números que comprovam tudo isto. O Rio Ave é a equipa da I Liga com mais golos em contra-ataque, mas não deixa de ser, como tem sido nos últimos anos, uma equipa com predisposição para ter a bola.

E será interessante ver se o Rio Ave manterá a construção curta desde trás ou se terá, na Luz, apetência para explorar as “setas” Dala, Mané e Camacho – sendo que as duas ideias não são necessariamente incompatíveis.

Em contra-ataque ou não, a equipa vila-condense é um dos piores ataques do campeonato, mas o treinador, Miguel Cardoso, desvalorizou esse detalhe estatístico. “Confesso que não é uma preocupação. São dados que resultam do total da época, não de períodos. Os golos são comportamentos que carecem de rotinas, mas estamos a encurtar caminho nesse sentido. Em termos ofensivos, estamos a estabilizar”, vincou.

Do lado contrário, o Benfica irá a jogo sem Otamendi, castigado, pelo que é provável o regresso ao 4x4x2 interno, deixando Jorge Jesus o 3x5x2 com que atacou os recentes jogos europeus. Lucas Veríssimo deverá assumir o lugar do argentino, ao lado de Vertonghen.

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