Afirmar Portugal como parte integrante da cadeia de valor da produção de medicamentos e vacinas

Não nos serve de nada ter a receita do bolo se não tivermos forno para o fazer. E é aqui que Portugal pode e deve concentrar os seus esforços, em tornar-se parte integrante da cadeia de valor da produção de vacinas.

Há três factores essenciais para introduzirmos uma vacina (e qualquer medicamento) no mercado: demonstrar evidência de eficácia na população vacinada, fornecer dados de segurança em milhares de pessoas vacinadas e, não menos importante, demonstrar que uma vacina pode ser produzida consistentemente de acordo com os mais elevados padrões de exigência das agências reguladoras do medicamento.

Portugal não é conhecido pela sua indústria farmacêutica forte e, enquanto a Bial é meritoriamente reconhecida por grande parte da população, só para uma pequena franja os nomes Hovione, GenIbet e Bluepharma dizem alguma coisa. É também certo que nenhuma destas empresas possui fábricas direccionadas para a produção de vacinas.

 No entanto,

  • há cinco anos, a GenIbet, uma start-up portuguesa de Oeiras, foi parceira da Moderna na produção de lotes de RNAm, uma tecnologia que se viu famosa agora, no combate à pandemia de covid-19. A Bluepharma, uma empresa farmacêutica sediada em Coimbra, vai avançar com um investimento para a construção de uma unidade de produção de vacinas que espera estar em funcionamento no prazo máximo de quatro anos. E a espanhola Zendal, empresa de biotecnologia, pretende instalar uma unidade de produção de vacinas em Paredes de Coura até ao final do ano;
  • em 2018, a FDA, autoridade reguladora do medicamento dos Estados Unidos, reconheceu ao Infarmed a capacidade e qualidade das suas inspecções e, deste modo, todas as unidades de fabrico em Portugal inspeccionadas pelo Infarmed têm um reconhecimento imediato pela FDA, o que permite alavancar a exportação de medicamentos;
  • em 2011, Portugal, pela voz de Marisa Matias no Parlamento Europeu, foi o principal impulsionador da directiva europeia aprovada que visa impedir a introdução de medicamentos falsificados na cadeia de abastecimento.

Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização, tem feito esforços para atrair multinacionais a investir em Portugal, e poder tornar Portugal num actor essencial na produção de vacinas para a covid-19. Numa altura em que se fala tanto da hipótese de quebra de patentes para colmatar a falta de vacinas no mercado, é importante salientar que o que faz falta é mais capacidade produtiva. Não nos serve de nada ter a receita do bolo se não tivermos forno para o fazer.

E é aqui que Portugal pode e deve concentrar os seus esforços, em tornar-se parte integrante da cadeia de valor da produção de vacinas. Com todo o esforço que tem vindo a ser feito, aproveitem o momento e não nos cortem as pernas, mais uma vez, com ideologias não sustentadas. O futuro de todos constrói-se hoje.

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