Grupo aponta contradição em classificação da estação da Boavista no Porto

A Divisão Municipal de Património Cultural da Câmara do Porto propôs que fosse equacionada a transferência, para outro local, do edifício da antiga Estação da Boavista, onde o El Corte Inglés quer construir.

Foto
Paulo Pimenta

O grupo de cidadãos que pediu a classificação da estação ferroviária da Boavista, no Porto, considerou “contraditória” a recomendação da autarquia para estudar a transferência para outro local, concluindo que visa apenas retirar um obstáculo ao El Corte Inglés.

A Divisão Municipal de Património Cultural da Câmara do Porto propôs que fosse equacionada a transferência, para outro local, do edifício da antiga Estação da Boavista, onde o El Corte Inglés quer construir, preservando a história da Linha da Póvoa, devendo as custas de desmonte e reconstrução ser da responsabilidade do promotor, lê-se num documento divulgado pelo Grupo Municipal do Bloco de Esquerda (BE).

Em declarações à Lusa, Hugo Silveira Pereira, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e primeiro subscritor dos pedidos de classificação do imóvel, destacou a contradição da autarquia, que, por um lado, diz que o edifício não tem valor patrimonial, razão pela qual indeferiu o pedido de classificação, mas, por outro, “recomenda a sua preservação noutro sítio”.

“Tendo em conta os projectos que se falam para aquele espaço, creio que só se pode concluir que esta contradição visa apenas não o interesse patrimonial e histórico da estação, mas retirar um obstáculo ao projecto para ali previsto. O que me faz concluir que, de facto, o movimento e os peticionários têm alguma razão ao querer preservar a estação”, afirmou.

Quanto à recomendação, o peticionário considera que vai “claramente contra a opinião dos principais especialistas em património industrial”, nomeadamente contra o estabelecido na carta de princípios sobre património industrial de 2013, que prevê que o património industrial só poderá ser deslocado caso a sua destruição se deva a motivo imperioso de interesse socioeconómico.

“O que não é, de todo, o caso. Não estamos a falar de construir um hospital, ou coisa parecida, estamos a falar em construir mais um centro comercial naquela zona, já pejada de centros comerciais”, observou.

O investigador duvida de que, tanto do ponto de vista técnico como legal, esta proposta possa ser exequível.

“Do ponto de vista técnico, seria necessário ver se é possível fazer essa desmontagem e se é possível essa remontagem noutro sítio, tendo em conta o estado da estação. Do ponto de vista legal, era importante ver a quem é que pertence o edifício e se o proprietário estaria disposto a que isso acontecesse. Porque esta proposta da câmara é um bocadinho meter a foice em seara alheia”, disse.

Para aqueles terrenos está prevista a construção de um grande armazém comercial, de um hotel e de um edifício de habitação, comércio e serviços, cujo Pedido de Informação Prévia (PIP) foi aprovado em Outubro de 2020.

O projecto da cadeia espanhola para a antiga estação ferroviária levou o grupo de cerca de 60 personalidades ligadas à academia e ao património ferroviário a pedir a classificação como imóvel de interesse público e municipal daquele local, defendendo a importância da preservação da antiga estação ferroviária, em risco se o projecto do El Corte Inglés avançar.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários