Movimento pede investigação a fogo “criminoso” na antiga estação da Boavista no Porto

O incêndio deflagrou por volta da 03h30 no edifício devoluto da antiga estação ferroviária da Boavista, onde o Corte Inglés tem intenção de construir.

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A torre chamuscada

O Movimento por um jardim na Boavista instou nesta sexta-feira as autoridades a investigar as causas e os responsáveis pelo incêndio “criminoso” que deflagrou de madrugada na antiga estação ferroviária, no Porto.

O incêndio deflagrou por volta da 03h30 no edifício devoluto da antiga estação ferroviária da Boavista, onde o Corte Inglés tem intenção de construir, tendo, segundo os Sapadores do Porto, consumido parte do interior e da cobertura do edifício.

“Tendo em conta as condições climáticas que afectam o Porto presentemente, o Movimento só pode suspeitar que o incêndio foi uma consequência de fogo posto”, assinala o grupo de cidadãos, em comunicado.

Para os terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista estão previstos, para além de um grande armazém comercial, a instalação de um hotel e de um edifício de habitação comércio e serviços.

O Movimento nota ainda “a estranha coincidência de este acto lesivo de património público ter acontecido praticamente a seguir à publicação da notícia que dava conta do pedido de classificação da estação como imóvel de interesse municipal, ao qual vários partidos políticos com assento na Assembleia Municipal do Porto manifestaram opinião favorável, e num momento em que o edifício sofre uma enorme pressão para a sua demolição para dar lugar a um espaço comercial”.

Neste contexto, o grupo de cidadãos espera que as autoridades competentes apurem “as causas e responsáveis pelo incêndio contra a primeira estação ferroviária do Porto, inaugurada em 1875”, e instam a IP - Infraestruturas de Portugal, proprietária dos terrenos, a pronunciar-se.

“Espera também que a IP - Infraestruturas de Portugal se pronuncie sobre este acto que danificou propriedade pública sobre a sua tutela e que a Câmara Municipal do Porto seja célere a deferir o pedido de classificação da estação como imóvel de interesse municipal, fornecendo-lhe a devida e necessária protecção”, afirmam.

Descrevendo o incêndio de hoje como “um acto criminoso cometido contra a antiga estação ferroviária do Porto-Boavista”, o movimento salienta que apenas a pronta intervenção dos Bombeiros Sapadores do Porto impediu que os estragos fossem maiores, contudo, ainda assim as chamas que deflagraram “numa madrugada chuvosa de outono” consumiram o telhado do andar superior do edifício e destruiu o relógio que ainda ornava o topo da estação”.

Em declarações à Lusa, esta manhã, o comandante dos Sapadores do Porto, Carlos Marques, indicou que, apesar de o combate às chamas ter sido “relativamente fácil”, foi necessário o recurso a meios elevatórios, nomeadamente à auto-escada, mas a integridade do edifício não foi, contudo, comprometida.

No local estiveram ainda presentes o piquete da Protecção Civil e a PSP, a quem cabe inicialmente investigar as causas do incêndio, tendo sido accionada Divisão Investigação Criminal (DIC) para recolher elementos.

De acordo com a PSP, à partida, não há suspeitas de crime.

Em Junho, um grupo de cidadãos pediu à Câmara do Porto a classificação municipal da antiga estação ferroviária da Boavista, onde o Corte Inglés tem intenção de construir, depois de a Direcção-Geral do Património Cultural ter arquivado o pedido nacional.

Na quinta-feira, em comunicado, o Movimento por um jardim ferroviário na Boavista referiu que, apesar do Pedido de Informação Prévia (PIP) ter sido aprovado pela autarquia em Outubro, continua a correr nos serviços municipais um pedido de classificação municipal da antiga estação ferroviária, não havendo ainda resposta.

O movimento considerou ainda “contraditória” a aprovação do PIP da cadeia espanhola sem que tenha havido uma resposta ao pedido de reversão do negócio que a própria autarquia enviou ao ministério responsável.

A autarquia aprovou, por unanimidade, em 25 de Novembro de 2019, uma recomendação ao Governo para reverter o contrato promessa de compra e venda do terreno na Boavista, onde o El Corte Inglés tem intenção de construir.

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