A nova vida do “hotel do Cristiano”

Habituada a receber os craques da selecção portuguesa, a Casa dos Atletas, na Cidade do Futebol, foi convertida em unidade hospitalar de retaguarda para doentes com covid-19.

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No meio da pandemia, Maria de Lurdes, de 87 anos, foi apanhada por uma infecção pulmonar e deu entrada de urgência no Hospital São Bernardo, em Setúbal. Dali, seguiu para o Hospital da Luz, em Lisboa, mas testou positivo à covid-19 e teve de regressar ao São Bernardo, onde esteve uma semana e combateu a doença com distinção. Fora de perigo, mas ainda com o vírus no corpo, a octogenária não podia voltar a casa. Precisava de isolamento porque o risco de contaminação ainda era elevado, mas o ideal era entregar a cama no hospital a outro doente mais grave. No dia seguinte, quando Maria de Lurdes falou com a família ao telefone, contou que estava no “hotel do Cristiano”.

Maria de Lurdes não esteve em nenhum hotel de Cristiano Ronaldo (que os tem), mas num espaço que costuma receber CR7 e todos os jogadores de todas as selecções portuguesas de futebol e futsal, com vista para um campo de futebol onde a única coisa que rola por estes dias são os cortadores de relva. Desde 20 de Janeiro que a Casa dos Atletas, um espaço de alojamento de 3864 metros quadrados inaugurado em Agosto do ano passado na Cidade do Futebol, em Oeiras, funciona como uma unidade hospitalar de retaguarda para receber doentes covid-19 em recuperação, aqueles para quem o pior já passou, mas que continuam a precisar de cuidados e de isolamento.

Não são os craques da selecção portuguesa que chegam agora à Cidade do Futebol a responder a uma convocatória de Fernando Santos, mas doentes de “baixo risco” com algumas patologias associadas, como explica ao PÚBLICO Rafic Nordin, director-executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Lisboa Ocidental e Oeiras.

Numa semana, a Casa dos Atletas foi transformada para aliviar, na medida do possível, a pressão em alguns dos hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo, não estando, no entanto, preparada para receber pessoas que necessitem de cuidados intensivos. Qualquer agravamento na condição dos pacientes – já aconteceu algumas vezes – leva à sua transferência imediata para o hospital.

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“Podem vir de vários hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo, mas também podem vir de lares que têm surtos e que precisam de encerrar. Temos casos desses aqui”, explica Rafic Nordin sobre este espaço que foi disponibilizado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) ao Ministério da Saúde. A componente médica, explica o clínico, é “fornecida” por cinco ACES, havendo “escalas de médicos e enfermeiros diariamente das 8h até às 16h, e, depois, com enfermeiros altamente treinados”.

Toda a componente logística — segurança, limpeza e refeições — é gerida pela própria FPF. A ideia inicial era a de que esta fosse uma estrutura de retaguarda para receber doentes não-covid. “Mas mudou a realidade e a necessidade passou a ser outra”, explica Cláudia Poças, directora da Cidade do Futebol. “Recebemos quem precisa e preparámos tudo para isso”, acrescenta.

Nas últimas semanas, a actividade futebolística na Cidade do Futebol, que serve como sede para a FPF, foi reduzida ao mínimo. Estavam previstos estágios da selecção feminina e de futsal, que foram cancelados, toda a gestão de dia-a-dia da FPF foi deslocalizada e, no complexo, apenas se mantém em funcionamento a sala do videoárbitro (porque o futebol continua) e o canal televisivo da federação. Ambos estão longe desta espécie de hospital de campanha que está previsto ficar em funcionamento até 8 de Março, dependendo sempre da evolução da situação pandémica no país.

Os quartos dos jogadores servem agora como quartos de internamento, a sala onde Fernando Santos conduz as suas palestras com os jogadores da selecção nacional serve agora como local onde médicos e enfermeiros gerem esta unidade hospitalar de apoio. Tem capacidade para receber até 48 pacientes, com staff médico em permanência, em escalas rotativas, mas, para já, vai funcionando a cerca de metade da capacidade, com entradas e saídas todos os dias.

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"Pena não estar nenhum jogador"

Antes da reconversão em unidade hospitalar, a Casa dos Atletas já tinha tido o seu primeiro paciente covid. Em Outubro do ano passado, Cristiano Ronaldo fez o teste, que deu positivo, não defrontou a Suécia na Liga das Nações, e ficou alguns dias em isolamento num dos quartos, deixando-se fotografar à varanda enquanto os colegas treinavam no campo que agora está vazio. “Este é o quarto do Ronaldo?”, é uma pergunta que se ouve de alguns dos pacientes admitidos. “Sim, é este”, será a resposta dos enfermeiros. “É pena não estar cá nenhum jogador”, foi o comentário de outro dos pacientes.

Quem é admitido tem à sua espera no quarto um saco com algumas lembranças, uma televisão com um ecrã de tamanho muito razoável, uma casa de banho privativa que inclui dispensadores de sabão e champô com o logotipo da FPF, uma varanda e vista desafogada para a cidade do futebol. Quem sai, recebe uma camisola da selecção com o nome nas costas. Francisco Pulquério, um setubalense de 61 anos e adepto do FC Porto, também levou um equipamento para casa e a memória de “sete dias extraordinários”.

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“Nunca estive num hospital tão bom como este. Deram-me tudo”, foram as poucas palavras de Francisco antes de sair. Saiu Francisco e entrou, pouco depois, outro paciente, conduzido numa cadeira de rodas até à porta do “hotel do Cristiano”. A cadeira será depois desinfectada e colocada na zona da recepção dos atletas, encostadas à parede onde antes estava um sofá.

É no piso térreo que estão os doentes positivos à covid, uma área de acesso restrito que exige EPI (equipamento de protecção individual) completo. A sala de refeições tem já as mesas preparadas para o almoço, com tabuleiros colocados de dois em dois lugares, e uma televisão ligada a dar futebol. Há mesas de matraquilhos que não parecem estar a ser usadas. No piso acima, estão os pacientes que estão livres de infecção e que estão mais perto de ter alta, embora haja alguns que se mantêm na Casa dos Atletas porque não têm outro sítio para onde ir – casos que serão analisados pela Segurança Social, outro dos parceiros desta iniciativa.

Não foi o caso de Maria de Lurdes, a senhora de 87 anos que gostou muito de estar no “hotel do Cristiano” e que já está em casa, recuperada da infecção. Tanto assim foi que um dos netos, António Miranda, escreveu uma carta dirigida a Fernando Gomes, presidente da FPF, a agradecer a estadia da avó num “hotel de cinco estrelas” e a solicitar um convite para ela poder ver um jogo da selecção ao vivo quando voltar ser seguro ver futebol no estádio. Já tem a camisola.

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