Número de crianças vítimas de tráfico humano triplicou nos últimos 15 anos, denuncia a ONU

Mulheres e crianças são as principais vítimas: por cada dez vítimas de tráfico humano, cinco são mulheres e duas raparigas menores de idade. Pandemia de covid-19 veio deixar populações vulneráveis ainda mais expostas aos traficantes.

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Por cada dez vítimas de tráfico humano, cinco são mulheres e duas raparigas menores Reuters

O número de crianças vítimas de tráfico humano triplicou nos últimos 15 anos, de acordo com o relatório do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), um fenómeno que pode continuar a aumentar, também entre os adultos, devido ao impacto da pandemia de covid-19, que deixa as vítimas mais vulneráveis aos traficantes.

De acordo com o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas 2020, divulgado nesta terça-feira, em 2018 foram detectados cerca de 50 mil casos de tráfico de pessoas em 148 países, apesar de a organização sublinhar que o número de vítimas pode ser muito superior.

“Milhões de mulheres, crianças e homens em todo o mundo estão sem trabalho, sem escola e sem apoio social na contínua crise da covid-19, o que as deixa em maior risco de tráfico humano”, afirmou Ghada Waly, directora executiva do UNODC, realçando que os migrantes e os mais pobres são os principais alvos dos traficantes, que exploram as suas fragilidades.

“Precisamos de acções direccionadas para impedir que traficantes criminosos tirem proveito da pandemia para explorar os vulneráveis”, acrescentou Ghada Waly.

As mulheres continuam a ser as principais vítimas deste crime. Em 2018, por cada dez vítimas identificadas a nível mundial, cinco era mulheres adultas e duas eram raparigas menores de idade. Além disso, um terço das vítimas são crianças, enquanto 20% das vítimas são homens adultos e 15% são crianças do sexo masculino.

Na África subsariana, o relatório denuncia casos de crianças traficadas para trabalharem em plantações, minas, pedreiras ou quintas, ou para venderem produtos em mercados e nas ruas; no Sul da Ásia, crianças com 12 anos são traficadas para trabalharem em olarias, hotéis ou na agricultura, enquanto na América do Sul há uma prevalência de casos de trabalho forçado em plantações.

Nos países mais ricos as crianças são traficadas sobretudo para exploração sexual, criminalidade forçada, como tráfico de droga, ou para pedirem na rua.

Nos últimos 15 anos, o perfil das vítimas de tráfico de pessoas tem vindo a alterar-se – o número de mulheres traficadas baixou de 70% para 50% em 2018, enquanto o número de crianças vítimas deste crime aumentou de 10% para 30%. No mesmo período, o número de homens adultos duplicou de 10% para 20%.

A nível global, 50% das pessoas foram traficadas para exploração sexual (verificando-se maior prevalência entre mulheres e raparigas), seguindo-se 38% vítimas de trabalhos forçados (sobretudo homens e rapazes), 6% forçadas à criminalidade e 1,5% obrigadas a pedir na rua. Há ainda registo de casos de casamentos forçados, venda de bebés ou remoção de órgãos para o tráfico internacional.

O UNODC, cujo relatório é publicado a cada dois anos, registou ainda 534 fluxos de tráfico no mundo, sendo as vítimas normalmente traficadas dentro de áreas geograficamente próximas – em 2018, metade das vítimas cuja nacionalidade foi identificada foram detectadas dentro dos seus próprios países, com países do Sul da Ásia, da Europa do Leste e da Ásia Central a registarem os maiores níveis de tráfico interno comparativamente com outras regiões.

Quanto aos criminosos, são maioritariamente homens (62% dos condenados), que actuam sobretudo em organizações criminosas, apesar de também existirem casos de atacantes que actuam individualmente ou em pequenos grupos, verificando-se um aumento da utilização da Internet e das redes sociais para atrair as vítimas.

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