Líder do CDS pergunta se “vale a pena continuar” e convoca conselho nacional

Em reunião da comissão política nacional, um apoiante de Francisco Rodrigues dos Santos atacou Adolfo Mesquita Nunes e considerou que o partido não pode ficar “refém” dos “barões”.

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Francisco Rodrigues dos Santos mantém-se em reflexão sobre o seu futuro à frente do partido LUSA/NUNO FOX

O líder do CDS-PP decidiu convocar um conselho nacional para debater a crise interna do partido, mas, no final de uma reunião da comissão política nacional, esta madrugada, não revelou se está disposto a bater-se para continuar à frente do CDS. Na reunião que se prolongou madrugada fora, Francisco Rodrigues dos Santos queixou-se da forma como “está a ser tratado” pelos militantes e questionou-se se “vale a pena” continuar, segundo relatos feitos ao PÚBLICO. Um dos seus apoiantes criticou abertamente Adolfo Mesquita Nunes e outros elementos deste grupo, ao considerar que estes “barões” mantêm o partido “refém” há anos e que estão “agarrados a lugares”.

Depois da demissão de uma parte da sua direcção e do desafio para um congresso antecipado para discutir a liderança, Francisco Rodrigues dos Santos mostrou, na reunião que decorreu via digital, ainda estar em reflexão sobre o seu futuro, confessando não saber se “tem disponibilidade” para uma luta interna e se o partido “merece esse sacrifício”. Como era esperado, a maioria dos membros da comissão política nacional mostrou solidariedade para com o líder do CDS-PP e apelou a que resistisse ao que alguns consideraram ser uma “golpada” por parte de Adolfo Mesquita Nunes. 

Além das demissões de Filipe Lobo d’Ávila e de dois vogais da comissão executiva, que pertencem ao mesmo grupo (apelidado de Juntos pelo Futuro), o líder do CDS foi desafiado por Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente da anterior direcção, a antecipar o congresso do próximo ano para discutir a liderança por considerar que está em causa a “sobrevivência” do partido.

João Almeida, também antigo dirigente da anterior direcção, já deu um sinal de que está ao lado de Mesquita Nunes e, ontem à noite, também Nuno Melo veio dizer que Francisco Rodrigues dos Santos “deixou de ter condições” para continuar à frente do partido.

O eurodeputado tinha defendido, esta quinta-feira, numa entrevista ao PÚBLICO e Rádio Renascença, que o actual líder tinha legitimidade para cumprir o mandato até ao fim, mas que Adolfo Mesquita Nunes também tinha legitimidade para o questionar. Ao fim do dia, depois das demissões de três elementos da direcção, Nuno Melo mudou de opinião e tirou o tapete ao actual líder, considerando que as circunstâncias se alteraram em 24 horas. Também este antigo vice-presidente do CDS deu um sinal ao seu colega da anterior direcção: “Haver pessoas como o Adolfo Mesquita Nunes e terem disponibilidade [para serem candidatos à liderança] é uma boa notícia”.

Na reunião desta madrugada, Francisco Rodrigues dos Santos reconheceu as dificuldades que o partido atravessa, na sequência da demissão de elementos da sua direcção, mas considerou que os dirigentes da sua equipa “nunca foram aceites como legítimos” e que foram vistos como “usurpadores de poder”.

Apesar de não revelar qual será a decisão a tomar no futuro, o líder do CDS escusou-se a deixar a ideia de que, se abandonar o cargo, não será por causa do repto de Mesquita Nunes lançado num artigo de opinião no Observador: “Se sair, não é pelo artigo, é porque quero sair, é porque não estou para isto”.

Um dos elementos da comissão política nacional que saiu em defesa de Francisco Rodrigues dos Santos foi Fernando Almeida, que considerou que “o partido está há demasiado tempo refém de barões que estão agarrados a lugares”. Apesar de admitir que há “melhorias a fazer” na intervenção da direcção do partido, o dirigente atacou directamente Adolfo Mesquita Nunes por ter sido vice-presidente de uma direcção que “deixou o partido com uma dívida colossal”, apurou o PÚBLICO. 

Outro apoiante do actual líder, Pedro Pestana Bastos, aconselhou a que Francisco Rodrigues dos Santos reunisse o Senado, que congrega os antigos líderes do partido, para ouvir opiniões de pessoas que já têm mais distanciamento em relação ao dia-a-dia do CDS. Entretanto demitiram-se outros quatro membros do grupo Juntos pelo Futuro: dois da comissão política nacional, Paulo Almeida e José Carmo, de dois do gabinete de estudos (José Seabra Duque e Tiago Leite).  

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