Poda severa de árvore causa indignação na Graça

Junta diz que a intervenção era necessária e que a árvore se vai recompor rapidamente. Informação no local era muito escassa, contrariando um regulamento municipal.

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A árvore depois da poda Nuno Ferreira Santos
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Os restos da copa podada ainda estavam no local esta sexta-feira Nuno Ferreira Santos
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A borracheira está a largar uma resina Nuno Ferreira Santos
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O aviso colocado no local é genérico e não cumpre o regulamento municipal Nuno Ferreira Santos

A Junta de Freguesia de São Vicente decidiu podar uma borracheira na Rua da Verónica porque a copa da árvore estava tão grande que impedia a passagem ao camião do lixo. Vários moradores da Graça reagiram com indignação, criticando o que dizem ser uma intervenção demasiado violenta para o exemplar, e duas pessoas queixam-se de terem sido ameaçadas por funcionários da junta quando estavam a fotografar a árvore.

A poda aconteceu na terça-feira à tarde junto à Escola Secundária Gil Vicente. No local foram colocadas grades para impedir o estacionamento automóvel e foram afixados cartazes anunciando apenas uma “intervenção no espaço público”, sem mencionar mais detalhes, o que contraria um artigo do Regulamento Municipal do Arvoredo segundo o qual “as entidades gestoras do arvoredo deverão divulgar e noticiar todas as intervenções em árvores, nomeadamente poda e abate, indicando os motivos das mesmas e a entidade que executará os trabalhos, devendo fazer os avisos com antecedência de 10 dias úteis”.

Apanhados de surpresa, alguns moradores fotografaram o resultado da poda e publicaram-no nas redes sociais com críticas à junta. A borracheira ficou praticamente despida de folhagem e com vários ramos cortados, constatou o PÚBLICO no local. “Quem faz isto não são pessoas competentes para fazer podas, massacram as árvores”, diz Catherine Morisseau, residente da freguesia e dirigente da Associação de Defesa do Património Cultural Edificado de São Vicente (ADPEV).

João Adrião, gestor ambiental da junta de freguesia, garante que esta poda era necessária e que a árvore vai recuperar rapidamente: “É uma espécie resistente a podas severas. Ela vai rebentar vigorosamente e em pouco tempo reconstitui a copa.”

De acordo com o responsável, a borracheira “não é das árvores mais indicadas para o espaço urbano” e aquela – a única da Rua da Verónica – “cresceu um bocado para cima da estrada”, o que “motivou uma poda há dois anos”. Há uns meses, a Câmara de Lisboa instalou a pouca distância da árvore alguns ecopontos enterrados, que só podem ser despejados com recurso a camiões com gruas. A copa da borracheira era de tal maneira grande, diz João Adrião, que “nem o camião lá conseguia passar”.

“Tivemos de fazer uma segunda poda”, justifica. “Optámos por cortar dos dois lados e por cima. Quando árvores deste tamanho ficam dois ou três anos sem intervenção começam a acumular folhagem seca.”

Desde a reforma administrativa da cidade, em 2014, e a publicação do Regulamento Municipal do Arvoredo, em 2017, que as juntas de freguesia têm competência para fazer podas e abates de árvores que não estejam em espaços verdes considerados estruturantes (aí a responsabilidade é da câmara). Uma primeira versão do regulamento, a que foi aprovada em câmara em 2015, dava a esta um parecer vinculativo em todas as podas e abates, mas essa regra desapareceu quando o documento foi a votos na assembleia municipal.

A Plataforma em Defesa das Árvores, que congrega associações da cidade e ambientalistas, já pediu uma revisão deste regulamento e Fernando Medina chegou a prometê-la para 2020, mas a pandemia adiou a discussão.

Contactada pelo PÚBLICO sobre este caso concreto, a câmara responde que “as podas de árvores em espaços não estruturantes são da competência das juntas de freguesia ao abrigo da legislação e, como tal, existe autonomia das autarquias sobre as podas, devendo ser cumpridas as normas publicadas em Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa.”

Queixas de ameaças

Além da borracheira, foram também podadas mais duas árvores vizinhas. Catherine Morisseau fotografou a grua usada no trabalho, que pertence a uma empresa de iluminações festivas, e julgou que eram pessoas dessa empresa que estavam a fazer a poda – para a qual a companhia não tem competências. João Adrião desmente. “A única intervenção ali foi de funcionários da junta de freguesia. Esta empresa foi contratada para montar as iluminações de Natal e deixou a grua para podermos fazer este trabalho.”

Catherine e outra pessoa, Maria José Soares, queixam-se de terem sido ameaçadas pelos trabalhadores quando fotografaram a árvore. “Eu estava a tirar fotografias e, de repente, vem uma pessoa em direcção a mim a dizer que eu não podia fotografar as pessoas”, relata Maria José Soares, que publicou no Facebook um vídeo da altercação que se seguiu. “A reacção do senhor foi tão violenta, agressiva e repentina que adivinhei que não era a primeira a fotografar”, diz Catherine Morisseau.

João Adrião responde que não estava presente na ocasião e que aquilo que lhe transmitiram os funcionários foi que lhes estavam a tirar fotografias sem autorização, sendo insultados de seguida. “Não custa nada telefonarem para a junta, informarem-se, perguntarem, mas preferem este tipo de abordagem”, lamenta.

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