A transição energética segundo Matos Fernandes e Galamba

As empresas do capitalismo fóssil estão a transformar-se nas empresas do capitalismo verde; e, nesta transição, o Governo só garante a sua “justiça”: a defesa prioritária da propriedade e dos lucros para os accionistas privados.

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Já sabemos o que este Governo entende como transição energética (atrevendo-se até a falar em justa): todo o poder nas empresas que detêm os monopólios económicos sobre a energia, determinando elas como e quando encerram as suas actividades, consoante o momento mais conveniente para garantir a distribuição dos lucros pelos seus accionistas. Isto leva ao despedimento de centenas de trabalhadores e promove a construção de um modelo energético antidemocrático. Modelo este que, sem ouvir os trabalhadores ou a sociedade em geral, pretende reproduzir a mesma lógica fóssil com outras fontes. Tudo pago com dinheiros públicos. Esta é a transição energética segundo Matos Fernandes.

O encerramento da Refinaria de Matosinhos vem de mãos dadas com o despedimento de 1500 trabalhadores. É de notar que o governo e a Galp identificam apenas 400, mas estão lá (e os sindicatos identificam) 1500. Em capitalismo verde, mesmo que o Governo tenha algo a dizer — e o Estado português é accionista da Galp —, deixa aos capitalistas privados as decisões. Os trabalhadores não são tidos em conta esperando-os, no máximo, um eventual novo negócio onde poderão ser empregados, após um calvário que empurrará muitos para o desemprego. Adivinha-se que o Governo tente que alguns voltem a trabalhar numa área geograficamente próxima, em condições decerto mais precárias. Como? Pagando às empresas privadas para se instalarem, isentando-as de inúmeros impostos e, eventualmente, instalando um negócio que passe por renovável (mesmo que a sua integração em qualquer plano seja só circunstancial).

Olhando para a Central de Sines, que nos mostra como isto poderá evoluir: fechou; alguns trabalhadores serão, eventualmente, empregados no projecto para exploração de energias renováveis de hidrogénio verde; fim. Quem trabalhava em Sines, nada teve a dizer sobre o processo de encerramento da central. O projecto de hidrogénio verde substitui a energia que era produzida? Não. Integra-se nalgum plano que forneça às pessoas energia de forma não-poluente e acessível? Não. A transição foi justa? Pelo contrário: a única “justiça” foi o Governo garantir que a empresa privada (EDP) nada teve de pagar da sua responsabilidade histórica pelas suas emissões, nem teve de responder pelo futuro dos trabalhadores que teve a seu cargo, explorou e dividiu entre quadros e precários durante décadas.

Por fim, o massacre de 540 animais na Quinta da Torre Bela liga-se à “necessidade”, identificada pelo promotor de um projecto solar no local, de os eliminar “para minimizar os impactos ambientais”. O modelo de produção solar projectado por Matos Fernandes e Galamba replica o pior do modelo energético fóssil: custos da energia, grandes locais de extracção devastados, grandes centrais produtoras pertencentes aos grandes monopólios, grandes redes de distribuição e controlo não só de como e onde se instalam os projectos, mas também de quem os controla (ou continuará a controlar).

A transição energética de Matos Fernandes e Galamba é mudar a origem dos combustíveis e manter o modelo explorador e destruidor, e a propriedade dos monopólios energéticos históricos em Portugal. Tudo financiado com dinheiros públicos e sem alcançar os cortes necessários das emissões de gases com efeito de estufa. 

As empresas do capitalismo fóssil estão a transformar-se nas empresas do capitalismo verde; e, nesta transição, o Governo só garante a sua “justiça": a defesa prioritária da propriedade e dos lucros para os accionistas privados.

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