Mais de metade dos franceses não quer a vacina para a covid-19

Medo de efeitos secundários e cepticismo quanto à eficácia estão entre principais motivos para evitar a vacina. Brasil, China e Reino Unido entre países onde mais cidadãos querem ser vacinados. Portugal não fez parte do estudo.

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Mauricette foi a primeira cidadã francesa a receber a vacina no país Reuters

Enquanto governos por todo o mundo começaram os planos de vacinação contra a covid-19 com azáfama e milhares de pessoas inoculadas por dia, o governo de França tem preferido uma abordagem menos acelerada e mais discreta com discursos a apelar à confiança da população. Depois da primeira vacina ser administrada, no dia 27 de Dezembro, a Mauricette, uma mulher de 78 anos internada numa instituição de cuidados prolongados nos arredores de Paris, em França, o presidente Emmanuel Macron pediu apenas “confiança nos investigadores e médicos”.

Menos de 100 pessoas foram inoculadas nos primeiros três dias do plano de vacinação francês. Em Portugal, só no primeiro dia foram vacinados 4534 profissionais de saúde.

A estratégia francesa deriva do cepticismo da população: apenas quatro em cada dez franceses querem receber a vacina contra a covid-19. Os dados são de um inquérito global publicado esta terça-feira pela analista Ipsos Global Advisor, que nos últimos meses tem recolhido opiniões sobre a vacinação em todo o mundo em parceria com Fórum Económico Mundial.

Segundo dados da Ipsos, 60% da população francesa não pretende ser vacinada contra a covid-19 (no último estudo da Ipsos, publicado em Novembro, apenas 46% não queria). Além da França, os cidadãos da Rússia (apenas 43% quer a vacina) e da África do Sul (53% quer a vacina) estão entre os que estão menos motivados para receber a vacina. 

Os resultados baseiam-se em inquéritos preenchidos por 13.500 cidadãos com idades compreendidas entre os 16 e os 74 anos, em 15 países. 

Confiança mantém-se alta na maioria dos países 

Os valores de França e Rússia contrariam a norma. “Em oito dos 15 países que participaram, mais de dois terços concordam que receberiam uma vacina assim que esta fique disponível”, notam os investigadores. Os países com mais cidadãos a querer ser vacinados ao longo de 2021 incluem a China (80%) Brasil (78%), e Reino Unido (77%). 

As autoridades de saúde francesas reconhecem o problema e notam que a vacinação não é uma corrida rápida. “O início é cauteloso, mas vamos intensificar [o plano] e vacinar em larga escala”, disse à AFP um funcionário do ministério da Saúde francês. “[Enfrentamos] um grande cepticismo da população”, continuou. “Não partimos para um sprint de 100 metros, mas sim para uma maratona”.

Os analistas da Ipsos notam, no entanto, que apesar de muitas pessoas ainda quererem ser vacinadas contra a covid-19, a confiança desceu na maioria dos países. Particularmente na África do Sul (confiança desceu 15 pontos percentuais no últimos mês). Os Estados Unidos foram o único país onde a motivação aumentou: em Dezembro, 69% dos cidadãos norte-americanos querem ser a vacinados (em Outubro eram 60%). 

Portugal não fez parte do estudo da Ipsos, mas segundo números de Setembro da universidade portuguesa Nova SBE (Nova School of Business & Economics), apenas 25% dos inquiridos estavam hesitantes sobre as vacinas contra a covid-19.

Medo de efeitos secundários 

Segundo o estudo da Ipsos Global Advisor, o medo de efeitos secundários adversos é a maior razão para evitar a vacina. Outros motivos incluem cepticismo quanto à eficácia da vacina ou a ideia de que a covid-19 não é um risco. Estudos publicados em Novembro pela Ipsos (com base em mais de 18 mil respostas) mencionam ainda receios sobre ensaios clínicos apressados — principalmente entre cidadãos de Espanha e do Brasil.

“Em quase todos os países, entre 57% e 80% das pessoas que dizem que não querem ser vacinadas contra a covid-19 mencionam preocupações sobre os efeitos secundários”, lê-se no estudo da Ipsos. “Dúvidas sobre a eficácia são a segunda maior razão [para evitar a vacina] em muitos países.” 

Os cidadãos inquiridos na China e no Reino Unido são os mais mencionaram não querer tomar a vacina pelo vírus não representar um risco. 

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