Galp vai suspender operações de refinação em Matosinhos

Empresa vai concentrar operações em Sines. Governo garante segurança dos abastecimentos e está disponível para se reunir com empresa e trabalhadores.

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Refinaria da Petrogal em Matosinhos Paulo Pimenta/PÚBLICO

A Galp confirmou, esta segunda-feira, que vai concentrar as operações de refinação na refinaria de Sines, deixando de as realizar em Matosinhos. O Governo manifesta preocupação com a situação dos trabalhadores e diz estar disponível para reunião. 

“As alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos, motivados pelo contexto regulatório europeu e pelos efeitos da pandemia de covid-19, originaram um impacto significativo nas actividades industriais”, explica a empresa em comunicado enviado à CMVM.

Depois de uma avaliação, “a Galp irá concentrar as suas actividades de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar as operações de refinação em Matosinhos a partir de 2021”.

Já em Dezembro, a Galp desactivou a monobóia ao largo de Matosinhos que permitia aos navios de grande envergadura fazerem descargas de crude para abastecer a refinaria ao longo do ano, mesmo em condições de mar adversas.

Esta reconfiguração “permitirá uma redução de mais de 90 milhões de euros por ano em custos fixos e investimentos e 900 mil toneladas das emissões de CO2 associadas ao sistema actual”, refere a nota. “O valor contabilístico das actividades a serem descontinuadas é de 200 milhões de euros”, acrescenta a empresa no comunicado.

A Galp diz ainda que se vai focar “no aumento da resiliência e competitividade do complexo industrial de Sines, com uma capacidade de processamento de crude de 200 kbpd e equipado com unidades de maior conversão, estando em análise iniciativas com vista ao aumento da sua eficiência processual e energética, bem como a integração da produção de biocombustíveis avançados e de outros produtos com baixo teor de carbono e maior valor acrescentado”.

“Os investimentos potenciais associados a estas iniciativas poderão ser suportados pelas poupanças da reestruturação em curso e pelos mecanismos de apoio à transição energética”, acrescenta a empresa.

Governo preocupado com trabalhadores 

O Governo, através de um comunicado enviado pelo Ministério do Ambiente e Acção Climática, manifestou estar preocupado com o “destino dos trabalhadores afectos àquela unidade industrial”.

Deste modo, o gabinete de João Pedro Matos Fernandes disse estar disponível para se “reunir com a Galp e com as estruturas representativas dos trabalhadores, exigindo da empresa todo o empenho e sensibilidade social para procurar soluções para o futuro próximo”. 

Adicionalmente, o executivo acrescenta que “foi criado na Europa, e objecto de acordo com o Parlamento Europeu em 9 de Dezembro, o Fundo para a Transição Justa, que mobiliza verbas destinadas precisamente a apoiar regiões da Europa onde existem empresas como esta refinaria”. Nesse sentido, “o Governo decidiu, assim, propor a elegibilidade a estes apoios da região onde se encontra a refinaria de Leça da Palmeira. Com este fundo, com uma verba estimada de 200 milhões de euros para Portugal, será possível proteger os trabalhadores afectados e financiar novos negócios que apoiarão a transição para uma economia neutra em carbono”.

Sobre os trabalhadores, o comunicado relembra ainda que foi constituído “um grupo de trabalho para a avaliação da oferta e da capacidade de resposta do Catálogo Nacional das Qualificações, mediante a criação de novos perfis profissionais e/ou o desenvolvimento dos referenciais de formação dos existentes. O caso da refinaria de Leça da Palmeira, tal como o da central eléctrica a carvão de Sines, são óbvias prioridades deste grupo de trabalho”. 

Apesar da decisão, o Governo garante que a segurança de abastecimento de combustíveis está assegurada. “O Porto de Leixões continuará a receber produtos refinados, que serão transportados por pipeline para o local da refinaria, de onde serão distribuídos para a região Norte do país. Mantendo-se apenas a função logística, deve a Galp procurar rentabilizar os activos físicos que detém em Leça da Palmeira para o desenvolvimento de novos negócios industriais no domínio da energia, estando o Governo disponível para colaborar com a empresa nesse domínio”, sublinha o ministério.

Sindicato fala de “razia total” e teme despedimento de 1500 trabalhadores

“Já desde o início do ano que estavam a fazer movimentações que nos deixaram preocupados”, admitiu Bruno Oliveira, do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (Sicop), em declarações ao PÚBLICO.

“Matosinhos é diferente de Sines, que faz exclusivamente combustíveis. Em Matosinhos, produz-se óleo, combustíveis e aromáticos. Estas duas últimas continuarão a laborar. É essa a esperança que temos”, diz o responsável, que não esconde a preocupação com a decisão da empresa: “Podemos ter uma razia total de trabalhadores. Somos 500 directos e mil indirectos, mas estes 1500 serão afectados”. 

Empresa tinha suspendido operações em Abril e Outubro 

Em Abril, a Galp tinha anunciado a suspensão das operações em Matosinhos. A quebra da procura associada à covid-19 obrigou a “rever” o funcionamento das refinarias, explicou, na altura, a empresa. 

Em Outubro, a Galp voltou a suspender a produção de combustíveis na refinaria de Matosinhos. Fonte oficial da petrolífera adiantou ao PÚBLICO que “as condições no mercado nacional e internacional, em grande parte decorrentes dos impactos provocados pela pandemia de covid-19, forçaram” a empresa “a avançar com um ajustamento operacional planeado do seu sistema refinador”. 

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