Vulnerabilidade ou a fonte das nossas forças

Para os diferentes tipos e vulnerabilidades, temos de ajustar as nossas acções. Aquelas que são comunitárias, temos de agir de forma global. Juntarmo-nos ou constituirmos organizações que as combatam para que todos possamos ganhar.

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"Como contribuir para diminuir as vulnerabilidades de cada um, de um sistema, da sociedade?" Daniel Rocha

Muito tenho ouvido falar de vulnerabilidade nestes últimos tempos. A pandemia de covid-19 deixa expostas muitas das vulnerabilidades de vários sectores da sociedade. E a educação não fica de fora.

Como é que a vulnerabilidade pode ser encarada de modo positivo? Como percebemos as nossas vulnerabilidades? Habitualmente consideramos vulneráveis os que não... Não têm, não são, não estão… Enfim, os que não qualquer coisa. É um facto, os que não têm dinheiro, são mais vulneráveis a ter doenças, a não ter educação, a não ter casa, a serem explorados, entre muitas outras situações que não são compatíveis com a dignidade humana.

Parece que a vulnerabilidade está associada, de uma forma imediata, a ter baixo poder económico. Mas se isto é verdade, também é verdade que aqueles que têm alguma margem de manobra nas suas contas, também estão e são vulneráveis a umas quantas outras coisas. A maior delas é perderem o que têm, são e fazem para que isso não aconteça. É o que acontece quando se sentem com poucas hipóteses de escolha das acções que podem tomar.

A pouca vulnerabilidade pode traduzir-se na redução dos riscos e na capacidade de encarar várias hipóteses de resolução de situações. Como li num livro de coaching de Ana Teresa Penim e João Catalão, quando só temos uma hipótese temos uma obrigação; com duas hipóteses temos um dilema; e apenas com três ou mais hipótese somos livres de fazer escolhas.

O que podemos fazer para conseguirmos fazer escolhas e eventualmente dizer não? Como contribuir para diminuir as vulnerabilidades de cada um, de um sistema, da sociedade? Há vulnerabilidades que se podem prever, como sejam as crises climáticas e económicas, às quais estamos todos sujeitos se não continuarmos a alterar o nosso estilo de vida e de gastos de recursos.

Para os diferentes tipos e vulnerabilidades, temos de ajustar as nossas acções. Aquelas que são comunitárias, temos de agir de forma global. Juntarmo-nos ou constituirmos organizações que as combatam para que todos possamos ganhar. Quantos seres humanos que não, poderão ser determinantes no desenvolvimento humano com impacto global, se tiverem oportunidade de mostrarem o seu potencial? O que estamos a perder em não contribuir para a diminuição das fragilidades do mundo? Os invisíveis e desconhecidos são apenas e somente aqueles a quem ainda não demos a oportunidade de desenvolvimento deles próprios para o mundo.

De um ponto de vista micro, como podemos dar resposta às nossas fragilidades? Quando as conhecemos previamente, podemos sempre tomar medidas preventivas e não nos ‘pormos a jeito’. Quando somos apanhados desprevenidos, devemos fazer com que o trio maravilhoso de que todos somos dotados, cabeça, coração e mão, que é o mesmo que dizer, razão ou consciência, emoção e necessidade, e acção, tomem a melhor decisão das várias hipóteses que conseguimos ver.

As fragilidades ou vulnerabilidades trazem ao de cima o nosso melhor quando as transformamos em objectivos e investimos nelas todas as nossas forças, sem vergonha ou auto julgamento.

Quando é que este ponto de viragem se dá? O tempo que concedemos a nós próprios, se na realidade queremos ver as várias e diferentes hipóteses, concede-nos este insight poderoso e maravilhoso de transformação e evolução.

Habituarmos as nossas crianças e jovens a não terem preconceitos e darem a elas próprias tempo para se conhecerem de uma forma inteira, íntegra e integral, é dar-lhes uma ferramenta para a vida. E isto acontece se lhes proporcionarmos momentos de diversidade onde consigam ver que as suas vulnerabilidades são as forças de outros e vice-versa. Só vamos lá em comunidade, só ganhamos em equipa.

A educação para a solidariedade tem um impacto brutal, nos que ajudam e nos que são mais vulneráveis. É um impacto duradouro e propaga-se dentro da comunidade e de geração em geração.

É também mais este, um dos papéis da escola. Sem preconceitos, nem julgamentos, fazer dos desconhecidos e mais frágeis, os futuros amigos e parceiros. E há desconhecidos e frágeis dentro e fora da escola. Educar o agora e o futuro.

Assim, e neste tempo de Natal, mais confinados e com mais tempo, vamos dar oportunidade às nossas vulnerabilidades de se tornarem as nossas forças e contribuir de alguma forma para diminuir as fragilidades da nossa sociedade local e global. É um desejo de Natal para todo o ano.

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