Acreditem no milagre

Aquilo em que todos têm de estar empenhados é em conseguir pôr o milagre da vacina para a covid-19 a funcionar.

Mais cedo do que esperávamos, mas certamente mais tarde do que precisávamos, a vacina contra a covid-19 está aí. Em menos de um ano, em diferentes pontos do planeta, vários laboratórios conseguiram produzir soluções de imunização contra o novo coronavírus, no que é o passo decisivo para debelar esta pandemia. O Reino Unido já autorizou a vacina, que nesta terça-feira começa a ser administrada a grupos de risco e deverá chegar a Portugal no início do ano.

Se o regozijo é o sentimento dominante, o cepticismo também se vai multiplicando nas redes e nas conversas de café, desconfiança em muitos casos motivada pelo feito inédito para a humanidade que foi conseguir uma vacina num tão curto espaço de tempo. Parece um milagre, mas este é dos milagres em que vale a pena acreditar.

O milagre justifica-se com razões bem terrenas. Antes de tudo, o desenvolvimento científico nesta área de novas soluções que, mesmo antes de este coronavírus surgir, tornavam mais fácil a produção de vacinas. Mas nada teria surgido tão rápido se não fossem, por um lado, a inaudita canalização de recursos humanos e dinheiro para a tarefa e o trabalho concertado entre reguladores e as empresas obrigadas a testar os seus produtos. E concertação não quer dizer, ao contrário do que alguns possam pensar, queimar etapas. Quer dizer ir verificando os dados conforme eles são produzidos, em vez de se esperar pelo relatório final ou sincronizar o trabalho de forma a evitar todas as perdas de tempo. Em Oxford, por exemplo, foi possível arrancar com os testes em humanos no dia seguinte a os resultados de segurança em testes de animais serem publicados.

Se isto não chega para convencer os mais receosos, pensem que, se ter uma vacina já era excelente, temos a sorte de ter várias a ultrapassar os 90% de eficácia, sendo que só na da Pfizer/BioNtech e na da Moderna mais de 70 mil pessoas estão envolvidas em testes. Aprovar terapêuticas será sempre a sopesar riscos e benefícios. O que está provado é que os benefícios ultrapassam largamente os riscos.

Muito provavelmente, com as campanhas de vacinação no terreno, a força do exemplo reduzirá os cépticos a uma proporção ínfima, mas o ruído que até lá podem fazer será sempre desperdício de tempo e de sentido crítico para aquilo em que todos têm de estar empenhados, que é conseguir pôr este milagre a funcionar. Para isso, a humanidade tem de produzir um outro milagre: fazer a maior a maior campanha de vacinação da história no mais curto espaço de tempo.

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