Salários das mulheres em Portugal foram os mais penalizados pela pandemia

Relatório da Organização Internacional do Trabalho mostra que Portugal foi o país europeu onde os salários das mulheres mais recuaram na primeira metade do ano. Queda foi de 16%, enquanto o dos homens caiu 11,4%.

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daniel rocha

Portugal foi o país europeu que registou maiores perdas na massa salarial por causa da crise provocada pela pandemia, penalizando sobretudo as mulheres, revela o Relatório Global sobre os Salários 2020/2021 divulgado nesta quarta-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O documento mostra que, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, os salários das mulheres tiveram uma queda de 16%, muito acima da perda de 11,4% verificada nos salários dos homens e a mais elevada entre os 28 países europeus analisados no relatório.

O impacto desproporcional da crise sobre as mulheres não é exclusivo de Portugal. A OIT nota que em todos os países analisados a conclusão é semelhante: as mulheres foram o grupo mais penalizado pela redução sem precedentes do emprego e das horas de trabalho, o que se deve ao facto de elas estarem sobre-representadas nos sectores mais afectados pela crise.

Em média, a perda salarial nas mulheres foi de 8,1%, enquanto nos homens não foi além de 5,4%. As maiores diferenças entre homens e mulheres observaram-se na Bélgica, Reino Unido, França, Portugal, Eslováquia e Alemanha.

A crise também afectou severamente os trabalhadores com salários mais baixos e a OIT alerta que, sem as subvenções temporárias, metade destes trabalhadores teria perdido cerca de 17,3% dos seus salários.

“Este resultado reflecte o facto de os trabalhadores a desempenhar funções pouco qualificadas serem mais propensos a experienciarem perdas de emprego e redução da jornada de trabalho após o início da pandemia, enquanto os que exercem cargos de gestão e funções técnicas mais bem remunerados foram menos afectados pela crise”, lê-se no relatório.

A análise dos dados, sublinham os autores do relatório, sugere que a desigualdade salarial aumentou na Europa desde o início da pandemia, estando Portugal entre os países onde a desigualdade mais cresceu, ao lado da Irlanda e de Espanha.

“O crescimento da desigualdade criada pela crise da covid-19 ameaça deixar atrás de si um legado de pobreza e instabilidade social e económica que seria devastador”, afirmou o director-geral da OIT, Guy Ryder, a propósito da apresentação do relatório. 

Olhando para o impacto global da crise nos salários, Portugal ocupa igualmente o lugar cimeiro, com uma redução da massa salarial de 13,5%, muito acima da média de 6,5% dos países europeus analisados. Com perdas superiores a 10%, surgem logo a seguir Espanha (12,7%) e Irlanda (10,9%), enquanto no extremo oposto estão os trabalhadores dos Países Baixos, da Croácia, da Suécia e do Luxemburgo, que sofreram perdas salariais inferiores a 3%.

A OIT nota ainda que a maioria dos países europeus deitou mão de vários apoios para prevenir despedimentos em massa, permitindo compensar uma parte significativa da perda salarial provocada pela redução das horas trabalhadas e, ao mesmo tempo, mitigando o aumento da desigualdade. Sem as subvenções, a redução do montante médio dos salários perdidos em todos os grupos teria sido de 6,5%. No entanto, os apoios aos salários permitiram compensar 40% deste montante, nota a OIT.

Portugal não foi excepção, tendo lançado um conjunto de apoios às empresas e aos trabalhadores que se estenderão por 2021.

Ainda que as medidas de confinamento tenham levado a uma interrupção da produção de muitas indústrias e do sector dos serviços, as reduções relativamente pequenas na massa salarial total, considerando os subsídios aos salários, sugerem que a combinação de medidas de retenção do emprego e o teletrabalho permitiram que parte da economia europeia continuasse a funcionar, conclui a OIT.

O relatório inclui uma análise sobre o papel do salário mínimo na recuperação sustentável e equitativa da economia. Cerca de 90% dos membros da OIT têm sistemas de salário mínimo, mas, globalmente, há 266 milhões de pessoas (15% da população empregada) remuneradas abaixo do mínimo, quer por incumprimento da lei quer por terem sido legalmente excluídas desse regime.

“Salários mínimos adequados podem proteger os trabalhadores e as trabalhadoras dos baixos salários e reduzir as desigualdades”, afirmou Rosalia Vázquez-Alvarez, uma das autoras do relatório.

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