OCDE prevê queda de 8,4% da economia portuguesa este ano

Organização reviu em baixa a sua projecção de queda do PIB. Para o próximo ano prevê uma recuperação menor do que a do Governo.

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O peso do turismo penaliza a capacidade de recuperação nesta fase, diz a OCDE Rui Gaudêncio

Depois de apontar para uma contracção da economia portuguesa de 9,4% neste ano, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) melhorou a sua projecção para 2020, prevendo uma quebra do Produto Interno Bruto (PIB) de 8,4%.

Nas previsões económicas divulgadas nesta terça-feira, a OCDE estima um crescimento do PIB de 1,7% em 2021 e de 1,9% em 2022.

A projecção mais recente para 2020, conhecida numa altura em que as restrições sanitárias voltaram a ser alargadas para se prevenir o contágio do novo coronavírus, aproxima-se da previsão do Governo (uma queda de 8,5%), embora para o próximo ano a equipa do ministro João Leão esteja a contar com uma progressão mais acelerada, ao prever um crescimento do PIB de 5,4%.

A economia teve uma recuperação parcial no terceiro trimestre, mas, com a segunda vaga da pandemia, a Europa dá novos sinais de contracção neste último trimestre — o Purchasing Manager Index (PMI) calculado pela IHS Markitos, usado para medir a evolução das economias mundiais, revelou uma queda acentuada no indicador relativo a Novembro.

Para a OCDE, a recuperação da economia da actual crise provocada pela pandemia da covid-19 será suportada pelo consumo.

Depois disso, segundo a organização, poderá haver uma recuperação mais ampla, com a retoma dos sectores mais afectados pela crise, como os do turismo e do alojamento, e “assumindo que a situação sanitária melhora com o desenvolvimento de uma vacina eficaz”.

A taxa de desemprego continuará a subir em 2021, para os 9,5%, e continuará acima do nível pré-crise em 2022.

A dívida pública (de acordo com a definição de Maastricht) deverá atingir os 139% do PIB em 2022, com a OCDE a prever que o défice recupere à medida que a recuperação da economia avance e as medidas extraordinárias de apoio sejam retiradas.

Segundo a OCDE, para evitar o descarrilamento da recuperação, o retorno da prudência orçamental só deverá ocorrer após o ritmo da recuperação estar consolidado. “A ampliação dos programas de aprendizagem ao longo da vida e o fortalecimento da aprendizagem baseada no trabalho podem facilitar a realocação dos trabalhadores na economia”, refere.

De modo a combater a tendência que prevê para o desemprego, a OCDE admite que trabalhadores do sector do turismo possam ter de encontrar alternativas em sectores com maior procura.

A organização avisa também sobre a recuperação “desigual” entre os vários sectores, referindo que a “elevada incerteza sobre a evolução da pandemia e o elevado peso do turismo no PIB” são factores que penalizam a capacidade de recuperação económica de Portugal e que não serão superados antes de haver vacinas no mercado.

A instituição alerta ainda para a recuperação mais “lenta” do sector do turismo do que havia sido antecipado e avisa que um crescimento económico débil poderá “agravar os efeitos secundários no sector financeiro através do aumento significativo do crédito malparado”.

Já uma rápida e eficaz “absorção” dos fundos europeus que serão colocados à disposição do país poderá melhorar o cenário, refere.

A OCDE sinaliza que o número de infecções diárias em Portugal está outra vez a aumentar rapidamente e que o Governo impôs medidas para travar o avanço da pandemia, como a limitação de ajuntamentos acima de cinco pessoas, uso obrigatório de máscara em todos os locais públicos e incentivo ao teletrabalho.

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