Sintra quer colocar Alto da Vigia como novo ponto de interesse do município

Além do Alto da Vigia, projecto vai englobar a foz do rio de Colares. Área regista ocupações da época romana e islâmica.

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Vestígios foram encontrados no Alto da Vigia, junto à Praia das Maças Patricia Martins

O projecto de exploração arqueológica do Alto da Vigia, em Sintra, vai entrar numa nova fase para analisar a existência de estruturas soterradas, através de métodos arqueológicos não intrusivos que não impliquem a total escavação do solo. 

O projecto, apresentado esta segunda-feira, envolve a utilização de tecnologias avançadas de robótica, laser, tecnologia 3D e inteligência artificial, veículos aéreos não tripulados dotados de sensores, câmaras e sistemas de análise de imagens que permitem um mapeamento do terreno e terá, de acordo com o arqueólogo Alexandre Gonçalves, responsável científico das escavações, um grande impacto no conhecimento disponível sobre esta área.

“O projecto, que agora está a nascer, alicerça-se nos trabalhos que a Câmara de Sintra está a realizar naquele local há 12 anos, quando foram encontrados vestígios da época romana e islâmica. O que agora se pretende é, através do uso de novas tecnologias para sondar o solo e utilizando métodos arqueológicos não intrusivos, analisar a existência e continuidade de estruturas soterradas, sem ter de escavar tudo”, explicou o arqueólogo à agência Lusa.

O especialista do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas adianta ainda que, paralelamente, um conjunto de análises laboratoriais permitirão entender algumas estruturas, como restos de animais ali existentes e outros vestígios minerais, sempre de forma não intrusiva.

“Esperamos caracterizar e diagnosticar o subsolo de forma a identificar onde é mais provável o aparecimento de estruturas, para depois as equipas de arqueólogos escavarem e confirmarem a leitura que os dados vão propor. Em vez de andarmos às cegas, actuámos de modo cirúrgico, mais barato, mais rápido e com menos impacto”, esclarece Alexandre Gonçalves.

Este projecto, que além do Alto da Vigia vai englobar a foz do rio de Colares, pode, segundo o arqueólogo, vir a tornar-se um ponto de referencia turístico de Sintra. “Conhecer melhor esta zona pode oferecer um produto diferenciado e aligeirar um pouco da pressão turística sentida pelo centro histórico de Sintra”, assume o arqueólogo.

O presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, concorda que pode estar a nascer um novo pólo de atracção no município e realça que o investimento na arqueologia tem sido aposta da autarquia.

“Este projecto é muito relevante, num local que faz parte da riqueza da costa marítima portuguesa e que da nossa parte tem merecido um grande investimento em meios e recursos humanos. Sintra é um dos municípios do país mais ricos em arqueologia e por isso estamos a apoiar esta actividade, não só aqui como noutros locais do concelho, com um investimento de três milhões de euros, para tornar esta ciência num cartão de visita de Sintra”, afirma Basílio Horta. Para o autarca, o Alto da Vigia “é mais um ponto de grande interesse que Sintra poderá ganhar”.

O Sítio Arqueológico do Alto da Vigia está em avaliação para ser classificado como Sítio de Interesse Público, visto registar ocupações da época romana, islâmica e moderna.

Os vestígios mais antigos encontrados no local poderão corresponder a um templo romano dedicado ao Sol Eterno, à Lua e ao Oceano. Do período islâmico foi encontrado um Rîbat (um posto de defesa da costa e de recolhimento espiritual) e, do período moderno, uma torre de vigia.

A colaboração em preparação entre o AIR Centre, o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC-TEC) e o Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas visa a caracterização do sítio arqueológico do Alto da Vigia e área envolvente - incluindo zona de mar - utilizando tecnologias sensoriais avançadas, combinando meios robóticos, como drones aéreos e veículos robóticos submarinos e de superfície, com métodos tradicionais de recolha de dados em terra e no mar.

A iniciativa insere-se no âmbito das actividades transdisciplinares em curso pelo AIR Centre, incluindo a preparação de uma iniciativa internacional a ser promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior no contexto da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021 sobre a evolução, ao longo dos últimos 20 séculos, das práticas e agendas de “interacções entre a Europa e os Oceanos”.

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