Comportamentos de oposição nas crianças

A oposição faz parte do desenvolvimento normal da criança. É também uma forma de testar os limites ou de procurar a atenção dos pais.

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Desobediência e oposição. A oposição faz parte do desenvolvimento normal da criança. É também uma forma de testar os limites ou de procurar a atenção dos pais. Quando estes utilizam uma autoridade sensível na idade do “não” (2 – 3,5 anos), protegem a criança dos perigos e ensinam-lhe regras básicas de socialização e a gerir a frustração, o que é essencial para uma boa regulação emocional. Embora a idade do “não” seja temporária, ela é muito cansativa para os pais, uma vez que estes comportamentos são frequentes e difíceis de gerir, fazendo emergir emoções de irritação, de culpa (se perda de controlo) e de desânimo, emoções que podem coexistir e devem ser aceites como normais.

O que é uma autoridade sensível? A criança nos momentos de oposição nem sempre está consciente do seu comportamento. Por esta razão, uma hierarquia clara e uma autoridade sem autoritarismo são importantes para a ensinar a lidar com a frustração e a obedecer por respeito/confiança e não por medo, competências fundamentais para o seu equilíbrio pessoal e para a sua sociabilidade. No entanto, como a autoestima da criança é frequentemente afetada e ela pode ficar a pensar que é “má!”, é muito importante favorecer a partilha de emoções positivas e agradáveis. Para ensinar a criança a identificar as suas necessidades emocionais e a saber expressá-las  (amor, alegria, calma, tristeza, medo, raiva, nojo) o adulto deve primeiro verbalizá-las em seu lugar ("vejo que estás alegre/zangado, o que se passa?”); pouco a pouco a criança será capaz de falar sobre o que sente ("parece-me que não estás bem, o que sentes?”) e, finalmente, conseguirá pedir uma resposta emocional directa (“sinto-me triste, podes dar-me um carinho?”), em vez de procurar a atenção pela negativa. De modo a evitar dar atenção negativa aos comportamentos de oposição, deve utilizar-se a ignorância intencional se o comportamento não for grave.

Como prevenir os comportamentos de oposição? Os comportamentos de oposição são normais, mas podem ser melhorados. É sempre mais eficaz dar instruções simples e claras, uma de cada vez, formulando-as de forma positiva e calma (“por favor, fala baixo” em vez de “para de gritar! “). Escolher regras realmente necessárias e adaptadas à idade (5/6 regras são suficientes) ajuda a criança a organizar-se e a obedecer. É mais fácil se se der à criança alguns minutos para se preparar (p. ex., “dentro de 5 minutos será hora de almoço"). Mas depois, o adulto não deve repetir determinada instrução mais de 3 vezes, a fim de diminuir a probabilidade de se enervar e perder o controlo, fazendo a criança receá-lo. É importante ser-se firme sem nunca lhe fazer medo para que a criança aprenda a obedecer por respeito. O medo pode ser provocado pelo castigo físico, pelos gritos dos pais ou o uso de palavras humilhantes. Não se deve criticar a criança, mas sim o seu comportamento, optando, por exemplo, por “não gosto quando não me ouves” em vez de “és mesmo mau!, sob pena de se prejudicar a sua autoestima . Por outro lado, o uso do humor (mas nunca do sarcasmo!) ou a distração, sugerindo outra atividade, podem ajudar a contornar a oposição da criança. Se a ela obedecer deve ser elogiada de modo a aumentar a sua motivação e o seu autocontrolo. Pode-se também elaborar um quadro de pontos positivos com 2 ou3 instruções a serem seguidas por dia. Este deve ser utilizado com consistência e previsibilidade, diariamente e sem contradições. A coerência entre os dois pais é também essencial, os dois devem funcionar como uma equipa parental e apoiar-se mutuamente.

Como fazer a reparação dos comportamentos de oposição? Quando confrontada com situações frustrantes, é possível que a criança faça birras mais intensas ou frequentes do que as normais. Neste caso, o objetivo será evitar a “escalada” durante a birra. Permanecer firme (autoridade) mas simples (sem argumentação) e calmo (sensível). A argumentação é o combustível da oposição: quanto mais se conversa, mais a criança se vai opor. Numa lógica de autoridade sensível, podemos distinguir entre dois tipos de crises: 1) as crises de teste de limite, devem ter como resposta um pequeno e imediato reforço negativo a fim de sublinhar a hierarquia e ensinar a criança a gerir a frustração (p. ex., um minuto sentado numa cadeira por cada ano de vida, na mesma assoalhada que o adulto, nunca fechado sozinho, não virado para a parede, sem nada humilhante); 2) nas crises de ansiedade a criança perde o controlo das suas emoções, e o adulto deve acalmar e tranquilizar a criança, se possível com contacto físico, para ajuda-la a regular as emoções. Em ambos as situações, os pais devem controlar as suas emoções negativas e não fazer medo à criança.

Um segredo que vai mudar a vida de toda a família. Oferecer amor e tempo de qualidade à criança é a base da relação. Vinte minutos de brincadeira, idealmente com contacto físico e de diálogo com a criança, assim que chegam a casa, é um hábito a implementar antes de iniciar as rotinas da noite. Isto cria cumplicidade e hábitos de partilha, e ajudará a criança a recarregar as suas “baterias emocionais” esvaziadas pela separação do dia. Deste modo, ela vai aderir melhor às exigências da rotina da noite, não sentindo necessidade de procurar a atenção dos pais de forma negativa quando estes estiverem ocupados com as suas tarefas.


William James Center for Research, ISPA – Instituto Universitário; Instituto de Psicologia da Universidade de Paris

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