Hariri é de novo primeiro-ministro no Líbano

Antigo chefe de Governo volta a estar à frente do país, com o desafio de ganhar credibilidade após o desastre no Porto de Beirute.

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Saad Hariri e Michel Aoun, em 2019: o antigo primeiro-ministro volta a ocupar o cargo Reuters/MOHAMED AZAKIR

A política do Líbano vê o regresso de um clássico: depois de ter feito consultas com os grupos parlamentares, o Presidente, Michel Aoun, designou o antigo chefe de Governo, Saad Hariri, de novo para o cargo.

Hariri enfrenta a pior crise desde a guerra civil (1975-90), com uma enorme quebra de confiança, não só dos cidadãos, mas da comunidade internacional, face aos políticos e autoridades libanesas, com a necessidade de reconstruir o porto e parte da cidade de Beirute destruída pela explosão no porto, que matou quase 200 pessoas e provocou danos de milhares de milhões de euros, e com a crise bancária, a desvalorização da moeda, e a enorme queda da economia, que já vinham de trás, e que se agravaram com a explosão e a pandemia de covid-19.

A última coligação com Hariri à frente do Governo, nota a agência Reuters, caiu há quase um ano, após enormes protestos no país contra a elite governante que num esquema de empréstimos e corrupção levou à crise económica. Hariri prometeu agora fazer o país sair da crise, reconstruir Beirute, e formar rapidamente um Governo de especialistas.

O movimento de protesto teve sucesso em derrubar governos, mas não conseguiu apresentar uma alternativa política, notam vários analistas. E assim, o sistema, dividido por grupos religiosos e as mesmas caras de sempre, voltou a produzir um dos seus.

Hariri foi apoiado pelos deputados do seu próprio partido (sunita), apoiado pelo Amal (xiita), pelo político druso Walid Jumblatt e por outros pequenos blocos, enquanto o movimento xiita Hezbollah, que não nomeou nenhum candidato à chefia do Governo, disse que iria “contribuir para o clima positivo”, declarou o seu chefe parlamentar, Mohammed Raad, à Reuters.

O Hezbollah, apoiado pelo Irão, e os seus aliados, incluindo o partido de Michel Aoun (o segundo maior partido cristão), têm a maioria no Parlamento. O partido de Aoun decidiu, no entanto, não apoiar Hariri, argumentando que o planeado governo tecnocrata, de especialistas, não devia ser liderado por um político veterano.

“Esta classe política que fez o povo refém não aprendeu que não pode continuar deste modo?”, questionou.

Hariri apresentou-se como um candidato natural que podia reavivar o plano francês que prevê reformas para obter ajuda internacional. O anterior nomeado, o antigo embaixador na Alemanha, Mustafa Adib, desistiu de formar Governo.

O chefe de Governo agora responsável pela reconstrução de Beirute, por outro lado, é filho de Rafiq Hariri, assassinado em 2004, que como primeiro-ministro deixou como obra a reconstrução de Beirute – e que beneficiou a empresa Solidare, fruto de uma parceria público-privada, da qual Hariri era accionista apesar de ocupar a chefia do Governo.

A detenção de parte da Solidare pela família é um tema antigo na política libanesa, e a empresa simboliza tudo o que muitos libaneses rejeitam: não foi por acaso que os protestos de Outubro contra o Governo começaram precisamente ali.

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