Os sistemas inteligentes de Lisboa

A operação de infraestruturas e serviços críticos, como o da semaforização da cidade, deve estar confiada aos sistemas que melhor assegurem estas funções, garantindo a melhor eficiência possível ao sistema e a máxima segurança aos cidadãos.

Persiste a ideia, errada, e que o tempo e as experiências falhadas de outras cidades demonstraram, que a construção e, pior ainda, a operação de uma cidade inteligente assenta na construção de uma infraestrutura monolítica centralizada de informação, que se propõe gerir e operar todos os sistemas sectoriais de um município.

Esta ideia surge da premissa, essa sim correta, que não devem existir silos de dados dentro de uma organização. Partindo deste ponto, a teoria e a experiência demonstram que a informação deve fluir sem obstáculos dentro de uma organização, de forma natural e, tanto quanto possível, em tempo real. Para tal, devemos construir sistemas conectados, que comuniquem de forma eficiente, aberta e normalizada com outros sistemas, nomeadamente com uma plataforma de gestão urbana, como a Plataforma de Gestão Inteligente de Lisboa (PGIL).

A construção de um sistema monolítico de gestão de uma cidade, que almeja a concentração de todas as funcionalidades e de todas as operações é, no mínimo, uma conceção utópica, e do ponto de vista da gestão da inovação, irrealista. Sendo uma plataforma de gestão inteligente de uma cidade um sistema extraordinariamente complexo, o risco de concentração de todas as operações num único sistema seria elevadíssimo. Perder-se-ia também toda a flexibilidade que uma abordagem modular permite, em que diferentes componentes operam diferentes valências, sem perder capacidade de transmissão de informação, com capacidade para se conectar tanto a sistemas novos como a sistemas com décadas de existência. Em muitos destes módulos, comumente designados por verticais, existem soluções especializadas no mercado, com décadas de experiência e conhecimento, difíceis de replicar e com um pipeline de inovação que não faria sentido um município suportar, mas sim beneficiar enquanto evolução de produto.

A concretização do Sistema Inteligente de Mobilidade de Lisboa - SIM.LX é um ótimo exemplo da aplicação desta política à cidade de Lisboa, neste caso à gestão de semáforos. A operação de infraestruturas e serviços críticos, como o da semaforização da cidade, deve estar confiada aos sistemas que melhor assegurem estas funções, garantindo a melhor eficiência possível ao sistema e a máxima segurança aos cidadãos. Ao mesmo tempo, a informação relevante desta operação, deve estar centralizada e disponível a todos os sectores do município que por ele possam ser impactados, através da PGIL. Qualquer outra perspetiva é ignorar a complexidade própria de sistemas operacionais de gestão de tráfego, com a gestão centralizada da informação e dos processos de gestão de tráfego da cidade, algo que Lisboa tem vindo a concretizar com a integração de equipas da mobilidade, Polícia Municipal e EMEL no centro de gestão integrada da mobilidade, onde a PGIL assume um papel de destaque na monitorização da cidade e despacho de meios, mas não na operacionalização de algoritmos de tráfego, algo que não é de todo a sua vocação.

Esta abordagem, ainda que esteja a ser implementada em Lisboa de forma bastante avançada e pioneira, é a reconhecida e ativamente apoiada pela Comissão Europeia, através de instrumentos como o CEF – Connecting Europe Facility e os seus buildings blocks, entre outros.

No início deste mandato autárquico, em outubro de 2017, Lisboa tinha um contrato para a aquisição de uma plataforma de gestão urbana genérica, com casos de uso potenciais, ainda sem qualquer definição prática ou implementação. Uma cidade inteligente não é feita de tecnologia. É feita de pessoas e processos, suportados por tecnologia. A um ano do final do mandato autárquico, as transformações organizacionais são relevantes e hoje o município tem uma Plataforma de Gestão Inteligente implementada e premiada – nacional e internacionalmente –, mas também um conjunto significativo de planos, programas e parcerias, igualmente reconhecidos. Poder-se-ia destacar o Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa, que conta com a parceria de 11 universidades nacionais, e que visa criar respostas inovadoras aos desafios enfrentados por Lisboa, com recurso aos dados de que o município dispõe e a avançadas ferramentas tecnológicas.

Embora ainda tenhamos um caminho a percorrer, Lisboa está hoje, mais do que nunca, na vanguarda da implementação de uma estratégia de cidade inteligente, diversificada e com vários programas, integrada nos seus objetivos, que tem vindo a ser consolidada ao longo de diferentes mandatos autárquicos e com uma visão simples: fazer de Lisboa uma cidade mais inteligente, com o cidadão e as suas necessidades como prioridade.

E não, construir sistemas monolíticos não é smart.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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