Renovar compromisso com Portugal

A tecnologia digital mudou o nosso mundo, mas os seus benefícios são distribuídos de forma desigual.

Durante o confinamento, muitos de nós fizemos coisas que nunca teríamos pensado serem possíveis fazer à distância. Quando o meu terceiro filho nasceu, umas semanas antes da pandemia, passámos a ver os nossos amigos, familiares e até médicos somente através de um ecrã. Com as nossas outras crianças, estudávamos na cozinha e na sala de estar. Não íamos trabalhar, mas o trabalho veio até nós. As ferramentas online têm sido uma espécie de tábua de salvação. Pelo menos, isto foi verdade para os mais afortunados entre nós: aqueles que, com acesso à tecnologia certa, foram capazes de fechar o fosso entre nós e o resto do mundo.

Recentemente, um estudo pré-pandemia da BCG revelou que o impacto directo do digital na economia portuguesa era já de nove mil milhões de euros, ou quase 5% do PIB, mas significativamente abaixo da média europeia (8%) e especialmente de países como o Reino Unido (14%). O tamanho do prémio é gigante, apanhar a média europeia significaria que o peso do digital no PIB poderia passar a 20 mil milhões de euros em 2025. Mas para isso acontecer o estudo diz-nos que há várias coisas que têm de acontecer em Portugal, a principal das quais é o investimento em competências digitais.

Portanto, isto já era verdade muito antes do coronavírus: a tecnologia digital mudou o nosso mundo, mas os seus benefícios são distribuídos de forma desigual. À medida que as economias iniciam o processo de reconstrução, estarão em melhor posição para vingar aquelas que conseguirem abraçar as novas tecnologias. E as ferramentas online e competências digitais serão um catalisador poderoso.

Os governos estão também a olhar para este desafio. No documento Europe’s Moment: Repair and Prepare for the Next Generation, a Comissão Europeia descreveu a necessidade da “transição digital” como sendo “ainda mais importante agora do que antes do início da crise”, e o Governo de Portugal também colocou o tema como uma das prioridades. Com cerca de 60 milhões de empregos em risco na Europa, não podíamos estar mais de acordo. Este é o momento para garantir que, à medida que as economias recuperam, as oportunidades são distribuídas de forma justa e que a ninguém é negada a oportunidade de singrar após o coronavírus por falta de conhecimentos digitais adequados.

Por isso, temos vindo a trabalhar com o Governo de Portugal e outras entidades para colocar o poder da tecnologia digital nas mãos de todos. A nível europeu assumimos o compromisso de ajudar 10 milhões de pessoas e negócios na Europa, Médio Oriente e África a beneficiarem do digital antes do final de 2021. Em Portugal, assinámos um Memorando de Entendimento com o Governo português que estabelece quatro grandes eixos de actuação em articulação com o plano do Governo para a Transformação Digital: desenvolvimento de competências digitais e empregabilidade, apoio a startups e a PME e Inteligência Artificial.

Primeiro, precisamos de investir nas pessoas e nas suas competências para atingir uma recuperação económica sustentável e inclusiva. Há quatro anos, vimos muitos jovens sem trabalho e lacunas em competências digitais. Por isso, em 2016 numa cerimónia no Politécnico de Setúbal, lançamos o Atelier Digital com o objectivo de mudar essa situação. Desde então, em colaboração com o Governo e com o conselho coordenador dos politécnicos portugueses, o Atelier Digital formou mais de 83 mil portugueses em competências digitais. No próximo mês, além da formação online, irá arrancar também uma versão webinar em parceria com 10 institutos politécnicos e o objectivo de formar mais 32 mil pessoas em competências digitais.

Paralelamente, e porque o desemprego voltou a ser um desafio para muitos e para ajudar as pessoas a encontrarem empregos, vamos investir no lançamento da experiência de empregos no motor de busca da Google em Portugal que será lançado em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Sabemos também que, em Portugal, existe um ecossistema vibrante de programadores em Android e, na senda do sucesso da primeira edição do Android Training Program em Portugal – que tinha como objectivo formar três mil portugueses em programação Android –, vamos lançar no próximo mês de Outubro uma nova versão do programa para dar continuidade ao projecto, treinando mais três mil programadores portugueses e prepará-los para novos desafios e oportunidades.

Naturalmente, é também preciso garantir que as competências necessárias para singrar, após o coronavírus, não estão apenas disponíveis para as grandes empresas. Os pequenos negócios são, no fim de contas, espinha dorsal da economia europeia e, em Portugal, representam 99,9% de todos os negócios (números da Pordata). É por isto que a Google disponibilizou um montante de 340 milhões de dólares em créditos de publicidade para PMEs em todo o mundo e mil milhões de dólares para apoiar as organizações sem fins lucrativos. Fizemos também mudanças no motor de busca e no Google Maps de modo a que os negócios pudessem actualizar, de forma mais rápida, os seus consumidores sobre as alterações de horário de funcionamento entre outras informações.

Estamos então a investir mais para ajudar os negócios para uma digitalização mais rápida, incluindo o acesso a ferramentas gratuitas. No caso das empresas que não estão ainda online estamos a ajudá-las a construir uma presença digital. Organizamos com a AICEP três webinars gratuitos com foco na expansão internacional, especialmente para as empresas de retalho, e como o digital pode ajudá-las a escolher o mercado correcto para a expansão internacional.

A Inteligência Artificial (IA) também promete ser uma grande ajuda neste processo: oferece o potencial para transformar a forma como os negócios chegam aos consumidores, como aumentam as receitas e como se tornam mais eficientes e rentáveis. É por isso que apoiamos os planos da Comissão Europeia para canalizar fundos de recuperação para tecnologias digitais inovadoras como a IA. E é também por isto que iremos lançar em Portugal AI for Business, uma ferramenta que proporciona a qualquer empresa, seja ela pequena ou média, um relatório personalizado destacando as melhores aplicações de IA e que melhor se adequam a cada caso bem como sugestões práticas de como implementar as mudanças.

E por fim, mantemos o compromisso de continuar a apoiar startups e o empreendedorismo em Portugal. Juntamo-nos à Indico Capital Partners para lançar o programa de aceleração Indico Accelerator Program do Google for Startups. O programa está actualmente a decorrer com o apoio da StartUp Portugal. O programa inclui mentoria, formação, apoio na obtenção de financiamento, recrutamento e segmentação de produto e de consumidores da parte da Google e da Indico.

Continuamos optimistas sobre o futuro, sobre o potencial da tecnologia para ajudar pessoas, negócios e comunidades na recuperação. As ferramentas online foram uma tábua de salvação para pessoas e negócios durante o confinamento e podem ajudar a adquirir novas competências e a encontrar novos empregos. Mas à medida que as nossas economias iniciam a recuperação face ao coronavírus, a responsabilidade de garantir que todos prosperam é partilhada. Governo, empresas e indivíduos precisam de trabalhar em conjunto em prol de um benefício comum e para todos.

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