Arménia declara lei marcial e mobiliza militares na reserva após confrontos com o Azerbaijão

Rússia e França apelam ao fim das hostilidades e ao início de conversações sobre o conflito que tem como foco o enclave independentista de Nagorno-Karabakh, no interior do Azerbaijão.

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Voluntários da Federação Revolucionária Arménia respondem aos apelos das autoridades de Nagorno-Karabakh LUSA/MELIK BAGHDASARYAN

A Arménia declarou a lei marcial e mobilizou os militares na reserva, este domingo, após a subida da tensão com os vizinhos do Azerbaijão por causa do enclave de Nagorno-Karabakh, um território de etnia arménia situado no interior das fronteiras azeris que declarou independência em 1991.

“Todos os homens devem apresentar-se nos comissariados dos seus distritos, pela nossa pátria e pela vitória. Por decisão do Governo, a lei marcial e a mobilização geral foram declaradas na República da Arménia”, anunciou o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan. 

Mais tarde, em resposta à acusação da Turquia de que a Arménia é um obstáculo à paz na região, e à promessa de Ancara de que vai continuar a apoiar o Azerbaijão, a Arménia avisou o Governo de Recep Tayyip Erdogan. O primeiro-ministro Nikol Pashinyan disse que o eventual envolvimento turco no conflito sobre Nagorno-Karabakh teria “sérias consequências” para a situação na região.

“Apelo aos arménios que assumam o controlo do seu futuro contra a liderança do seu país, que os arrasta para a catástrofe e os usa como marionetas, mas também pelo a todo o mundo que defenda o Azerbaijão na sua batalha contra a invasão e a crueldade”, disse Erdogan na rede social Twitter.​

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou ao telefone com o primeiro-ministro da Arménia e sublinhou que é importante travar a escalada do conflito no terreno.​

Acusações mútuas

O Governo arménio acusou o Azerbaijão de ter lançado um ataque com fogo aéreo e de artilharia contra o enclave, uma acusação que as autoridades azeris rejeitam e devolvem aos seus vizinhos, acusando-os de terem sido eles os primeiros a atacar as tropas do Azerbaijão.

Na Arménia, os activistas dos direitos humanos disseram que uma mulher e uma criança foram mortas por fogo azeri. Do outro lado, o Azerbaijão diz que vários civis foram mortos e seis ficaram feridos no confronto. No enclave de Nagorno-Karabakh, onde as autoridades também declararam a lei marcial, há registo de dez militares mortos.

Segundo a agência Reuters, nenhuma das informações avançadas pelas três partes foi confirmada de forma independente.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, que tem servido de mediador no conflito entre a maioria cristã arménia e a maioria muçulmana azeri, apelou a ambos os lados que ponham fim aos confrontos e que iniciem conversações.

O ministério francês dos Negócios Estrangeiros, através da sua porta-voz, Agnes von der Muhll, também se mostrou “extremamente preocupado com os confrontos”. E apelou ao fim imediato das hostilidades e ao início de conversações.

Para além da Rússia, a França e os Estados Unidos da América fazem parte do Grupo de Minsk, responsável pela mediação do conflito entre Arménia e Azerbaijão.

O território de Nagorno-Karabakh é o foco principal das tensões entre os dois países, e agudizou-se quando o território declarou a sua independência do Azerbaijão, ao mesmo tempo do colapso da antiga União Soviética.

Apesar de um cessar-fogo acordado em 1994, Azerbaijão e Arménia acusam-se mutuamente de lançarem ataques na região de Nagorno-Karabakh e ao longo da fronteira entre os dois países.

O conflito preocupa os países ocidentais e os vizinhos da região porque pode desestabilizar a situação no Cáucaso do Sul, que serve de corredor para os oleodutos e gasodutos que abastecem os mercados mundiais.

O Ministério da Defesa da Arménia disse que as suas tropas destruíram três tanques e abateram dois helicópteros e três drones não tripulados, em resposta a um ataque contra alvos civis na capital de Nagorno-Karabakh, Stepanakert.

“A nossa resposta será proporcional, e a liderança política e militar do Azerbaijão tem toda a responsabilidade nesta situação”, disse o Ministério da Defesa da Arménia.

O Azerbaijão devolve a acusação, dizendo que as forças arménias lançaram “ataques deliberados e com alvos precisos” na linha da frente, quando a situação estaria a ser controlada pelos azeris.

“Defendemos o nosso território, a nossa causa e os nossos direitos”, disse o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, numa declaração transmitida para todo o país.

Em Julho, 16 pessoas morreram em confrontos entre os dois lados, e em Abril de 2016 morreram pelo menos 200 pessoas.

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