Benfica está entre uma alegria fugaz e o desastre num all-in

É nesta terça-feira, na Grécia, frente ao PAOK, que o Benfica joga boa parte da época desportiva e muito do futuro do clube, depois de um grande investimento. A entrada na Liga dos Campeões está, para já, dependente de uma vitória neste jogo.

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A aposta forte do Benfica será testada nesta terça-feira LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Poucos contextos mentais são mais traiçoeiros para uma equipa de um desporto colectivo do que entrar para um jogo no qual uma derrota roçará o desastre e um triunfo será apenas “normal” e valerá um mero festejo fugaz, mais do que um coro de aplausos. E é em equilibrismo entre estas duas premissas que o Benfica entrará em campo nesta terça-feira, frente ao PAOK, em jogo da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Financeira e desportivamente, estes 90 minutos de futebol são, para o Benfica, o tempo em que se joga o futuro próximo do clube, depois do maior investimento de sempre num plantel. E mesmo um triunfo na Grécia não garante nada ao Benfica, havendo, depois, um play-off por jogar frente ao Krasnodar.

Se dúvidas existissem sobre os contornos vitais deste jogo, Jorge Jesus tratou de as dissipar. “Quando cheguei ao Benfica pela primeira vez, a ambição era ser campeão nacional, porque eu nunca tinha sido. Agora já fui e a ambição não é ser só campeão nacional, é ir o mais longe possível na Europa. Esta ambição ninguém me pode tirar”, disparou, na antevisão da partida.

É a um só jogo

Poucas vezes na história o Benfica terá jogado tanto do seu futuro em apenas 90 minutos de futebol. Primeiro, porque as eliminatórias europeias costumam ser jogadas a duas mãos – desta vez, por constrangimentos pandémicos, será apenas um jogo em Salónica. Depois, porque financeira e desportivamente o clube está, em linguagem de póquer, em pleno all-in de um projecto sustentado na retoma da glória europeia.

E é aqui que entram os contornos de “desastre” de uma eventual derrota. Não propriamente pela falta de valor da equipa grega, mas porque o investimento feito pelo Benfica para esta temporada não só não se coaduna com uma eliminação perante o 73.º classificado do ranking da UEFA como, sobretudo, não permite que o clube passe a temporada 2020-21 sem jogar no palco supremo do futebol europeu.

Até porque, dirão os benfiquistas, se fosse para não ir à Champions então não seria necessário ir buscar Jorge Jesus. E muito menos gastar 77 milhões em contratações.

Quem coordena o sector desportivo dirá ao treinador que o clube precisa da legitimação desportiva dada por uma boa campanha na Champions. Quem lidera o sector da tesouraria dirá a Jesus que os milhões da prova europeia não são supérfluos e prescindíveis.

Jesus não garante reforços no “onze”

Apesar de reconhecer a pressão existente, Jesus – que voltará a liderar o Benfica num jogo oficial mais de cinco anos depois – recusou que a equipa possa sofrer com isso. E o treinador, em particular, muito menos.

“O que aumenta a pressão é termos uma eliminatória a um jogo, na qual temos responsabilidade de ganhar e passar. Tudo o resto [investimento] não traz pressão (…) se me perguntar a mim se a pressão diz alguma coisa, direi ‘zero’. Já estou habituado. Faz parte dos grandes treinadores, grandes jogadores e grandes equipas. Esses não têm pressão”.

Apesar dos contextos de grande pressão – e este é um deles –, os jogos de futebol ainda se decidem no campo. E, aí, o Benfica apresenta argumentos de peso. Por mind game ou por crença sincera no maior poderio “encarnado”, o treinador português Abel Ferreira, que orienta o PAOK, não teve problema em dar o favoritismo do jogo ao Benfica.

“O Benfica tem um bom treinador, bons jogadores e fez um dos maiores investimentos da história. E é favorito, não vamos esconder isso, mas o PAOK quer fazer história, tem o objectivo de passar à próxima fase e é isso que vamos procurar fazer”, afirmou o técnico português, na conferência de imprensa de antevisão da partida de terça-feira, em Salónica.

Para este jogo, Jorge Jesus, treinador do Benfica, não poderá utilizar o sérvio Andrija Zivkovic. E este detalhe atesta a diferença no valor individual das equipas: Zivkovic é o grande reforço do PAOK para esta temporada, vindo do Benfica, que deixou sair o jogador a custo zero.

Apesar desta alta valia individual e do reforço massivo do plantel, Jesus deixou um alerta para os jogadores: não há “lugar cativo” para quem custou muitos milhões.

“Eles são reforços não é para jogar no “onze”, é para fazerem parte do plantel. Claro que alguns não deixam dúvida e vão fazer parte do “onze”, mas não quer dizer que todos cheguem aqui e tenham lugar”, explicou.

E é por aqui que o Benfica terá de olhar para este jogo: ter um plantel de muitos milhões ajuda, mas nada garante à partida. E achar que sim é o primeiro passo para uma desilusão.

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