BCE melhora previsão para este ano, mas incerteza ainda é “significativa”

Técnicos do BCE vêem uma queda do PIB um pouco menor em 2020, mas uma recuperação também ligeiramente mais fraca em 2021. Lagarde avisa que incerteza continua a dominar

Foto
LUSA/ARMANDO BABANI

Apesar do abrandamento na retoma no sector dos serviços, dos entraves persistente ao aumento do consumo e do investimento e do efeito negativo do aumento de casos de covid-19 durante o Verão, o Banco Central Europeu (BCE) melhorou ligeiramente as suas previsões para a variação do PIB deste ano, identificando uma “recuperação forte” na economia. No entanto, a incerteza é ainda “muito significativa”, alertou Christine Lagarde.

Depois de na reunião do conselho de governadores desta quinta-feira se ter decidido não realizar qualquer alteração às medidas de política monetária actualmente em vigor (taxas de juro a níveis mínimos e volume recorde de compras de activos), a presidente do BCE explicou em conferência de imprensa a opção tomada e divulgou as novas previsões dos serviços técnicos para a evolução do PIB e da inflação na zona euro.

O banco central aponta agora para uma contracção da economia da zona euro de 8% este ano, um resultado ainda extremamente negativo, mas que mesmo assim representa uma melhoria face à estimativa de quebra de 8,7% do PIB que tinha sido feita pelo BCE no passado mês de Junho.

Lagarde começou por dizer que se está a assistir, depois do colapso na actividade nos meses de confinamento mais apertado, a uma “recuperação forte”, mas logo a seguir fez questão de adoptar um tom muito prudente no seu discurso.

Primeiro, lembrou que os níveis de actividade económico continuam a ser claramente mais baixos do que os registados antes da crise e assinalou que, “no sector dos serviços, o dinamismo abrandou recentemente”. Depois, fez questão de salientar que a incerteza ainda é muito grande, não dando espaço a grandes optimismos. “A força da retoma continua rodeada por uma incerteza significativa, até porque permanece altamente dependente da evolução futura da pandemia e do sucesso das políticas de confinamento”, disse a presidente do BCE.

Aliás, a prudência do BCE está evidente nas suas novas previsões, já que, apesar de ter revisto em alta a sua previsão para 2020, reduziu também ligeiramente a sua projecção de crescimento para 2021. Em Junho apontava para uma recuperação do PIB de 5,2%, agora projecta um crescimento de 5%.

A monitorizar o euro

No que diz respeito à inflação, que actualmente se encontra em valores negativos na zona euro, o BCE quase não alterou as suas previsões, estimando uma variação dos preços de 0,3% este ano e de 1% e 1,3% em 2021 e 2022. Continuam a ser valores que ficam longe da meta do BCE de ter a inflação “abaixo, mas perto de 2%”.

Ainda assim, Christine Lagarde tentou retirar algum dramatismo ao facto de a inflação estar actualmente em território negativo, afirmando que tal já era previsível e deverá prolongar-se durante mais alguns meses.

Um dos factores que pode contribuir para esta inflação muito baixa (que cria o risco de entrada em deflação) é a recente apreciação do euro face ao dólar, acentuada pela política mais expansionista que passou a ser adoptada pela Reserva Federal.

Existia no mercado a expectativa de que Christine Lagarde pudesse dar sinais de que estava disposta a contrariar esta apreciação do euro. No entanto, a presidente do BCE ficou-se pela declaração habitual relativamente a este tema. “Discutimos a situação do euro, mas como sabem não definimos objectivos para o seu valor”, afirmou, concedendo apenas que o BCE irá monitorizar a evolução da sua divisa para perceber que tipo de impactos pode estar a provocar nos preços.

Estas declarações, em combinação com a apresentação de previsões ligeiramente mais positivas, criaram nos mercados a ideia de que o BCE não parece disposto a adoptar uma política mais agressiva que contrarie a escalada do euro. Nos minutos a seguir à conferencia de imprensa de Christine Lagarde, o euro voltou a ganhar terreno face à divisa norte-americana, superando a barreira dos 1,19 dólares.

Sugerir correcção