“Rui Pinto pôs em causa subsistência da advocacia”

Dois profissionais viram as suas caixas de correio electrónico devassadas e expostas.

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LUSA/MARIO CRUZ

O representante legal de dois advogados que pertenciam à sociedade PLMJ e viram as suas caixas de correio electrónico devassadas e expostas, Tiago Rodrigues Bastos, diz que a actuação do pirata informático Rui Pinto “pôs em causa a subsistência da advocacia”.

“O que aconteceu é muito grave do ponto de vista do funcionamento da democracia”, observou este advogado. “Porque o que aconteceu não foi a mera intromissão numa qualquer caixa de correio electrónica – que já de si seria gravíssima. O que está aqui em causa é uma devassa que põe em causa uma profissão”, defendeu, numa alusão à violação do sigilo profissional cometida com a divulgação online dos conteúdos das caixas de correio de João Medeiros e Inês Pinto da Costa. Na PLMJ foram também espiados dezenas de outros advogados. 

João Medeiros é um dos três advogados que representam o Benfica no processo e-Toupeira, e supõe-se que terá sido por isso que viu a sua correspondência electrónica devassada, incluindo a que dizia respeito a assuntos de carácter pessoal. Exige uma indemnização de 20 mil euros a Rui Pinto, montante que se compromete, caso lhe seja entregue, a doar à ala pediátrica do Instituto Português de Oncologia. Já a devassa da sua colega terá tido como objectivo a recolha de material relacionado com o Luanda Leaks, que tem como protagonista a filha do ex-presidente angolano Isabel dos Santos. 

Na contestação que apresentaram às acusações pelas quais responde Rui Pinto, os advogados do pirata informático reconhecem que a documentação obtida através do acesso à caixa de correio da
advogada Inês Pinto da Costa lhe permitiu “completar o puzzle que deu origem ao
Luanda Leaks”.

Questionado sobre um eventual perdão judicial a Rui Pinto — por via da chamada delação premiada, uma vez que o pirata informático entregou material importante para as autoridades investigarem terceiros —, Tiago Rodrigues Bastos reagiu dizendo que isso seria “uma verdadeira perversão”.

Na mesma contestação os defensores do pirata informático deixaram claro que o seu cliente se remeterá ao silêncio no que diz respeito aos crimes de violação da correspondência destes dois profissionais, uma vez que no seu entender estes assuntos não estão abrangidos pelo mandado de detenção europeu que o obrigou a voltar a Portugal. 

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