Prisa vende 64,47% da Media Capital a vários investidores por 36,85 milhões

Grupo espanhol sai do capital da dona da TVI. Acordo de venda atribui valor 63% superior ao montante oferecido pela Cofina na intenção de OPA de 12 de Agosto

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Nuno Ferreira Santos

O grupo espanhol Prisa alienou os restantes 64,47% do capital da  Vertix na Media Capital, dona da TVI, por 36,85 milhões de euros, anunciou hoje a companhia através de comunicado no site do regulador do mercado espanhol, a CNMV.  

Os compradores não são identificados no comunicado da Prisa, que afirma que “subscreveu hoje com vários investidores acordos independentes de compra e venda de acções da entidade cotada portuguesa Media Capital SGPS, que no conjunto representa a totalidade da participação accionista (64,47%) mantida pela Vertix na Media Capital”.

A operação de venda a vários investidores deverá realizar-se de forma simultânea, mediante passagens independentes de blocos de acções “por um preço total de 36.850.047,74 euros”, com uma avaliação (enterprise value) “de 150 milhões de euros, tendo por base a posição financeira da Media Capital no fecho do segundo trimestre” deste ano.

O valor agora acordado entre as partes acarreta ainda “um prémio de 63% face ao preço por acção oferecido pela Cofina SGPS SA, na sua oferta pública voluntária sobre as acções da Media Capital publicada a 12 de Agosto”, sublinha o grupo espanhol ao mercado.

O negócio, anunciado no meio da sessão em Madrid, onde a Prisa está cotada, e em Lisboa, onde a Media Capital tem ainda disperso capital, embora residual (0,26%), já foi comunicado também ao mercado português, através do site da CMVM.

O comunicado da Prisa já se pode ler no site em português do maior grupo de media espanhol. Com uma diferença: é que ao mercado espanhol, a Prisa contabiliza em 48,5 milhões de euros a perda que vai ter de reconhecer nas contas individuais e consolidadas do grupo.

O negócio, “que foi autorizada pela Pluris no âmbito do pacto de accionistas assinado com a Vertix, está condicionada à obtenção de um waiver de determinados credores financeiros da Prisa, bem como à autorização das autoridades reguladoras portuguesas que possam revelar-se necessárias”.

A Pluris é a sociedade do empresário Mário Ferreira, que em Maio adquiriu 30,22% da Media Capital por 10,5 milhões de euros.

O NCG Banco, da Abanca, detém os restantes 5% da Media Capital.

No comunicado hoje emitido, a Prisa sublinha ainda que “a venda enquadra-se na política de desinvestimento de activos não estratégicos iniciada” pelo grupo e “está em linha com o plano já anunciado que se foca no fortalecimento da Santillana e na transformação digital dos seus meios de comunicação em Espanha e na América Latina”. O grupo Prisa entrou na Media Capital em 2005.

Muita gente, sem acordo

Em comunicado autónomo o da Prisa, a Media Capital garante que cada investidor, que irá comprar as várias acções que perfazem os cerca de 65% agora a alienar pela Prisa, actua de forma individual.

Em nenhum dos comunicados emitidos esta sexta-feira foi divulgada a identidade dos compradores, mas Eco e Expresso dão como certo que entre os novos accionistas estão Pedro Abrunhosa, Tony Carreira e Cristina Ferreira, além dos empresários Luís Guimarães (Polopique), Avelino Gaspar (Lusiaves), e a família Serrenho, dona das tintas CIN. À Lusa, João Serrenho, presidente executivo da CIN, afirmou que deverá ficar com “cerca de 5%”, no que pode ser um “negócio interessante”. Salientando que o negócio “não está fechado”, já que “é preciso pedir autorizações, o que não é pouco”, o empresário disse à agência noticiosa, tratar-se, “para já”, de uma “declaração de intenções”.

Diz a comunicação ao mercado publicada na CMVM pela dona da TVI e da rádio Comercial que o acordo de negócio hoje anunciado pela Prisa foi feito “através da celebração de vários contratos-promessa de alienação com diversos investidores, realizadas separadamente com cada um deles, sem que, do seu conhecimento, exista qualquer acordo parassocial entre os adquirentes, tratando-se, pois, de dispersão de 64,47% do capital social da Media Capital pelo mercado” no entender da Media Capital.

No fundo, se os investidores não forem parte relacionadas, a declaração visa dizer ao mercado que não há acordo prévio dos futuros novos accionistas da Media Capital em matérias de direitos económicos, o que poderia constituir um bloco dominante, respondendo cada investidor por si quando forem chamados em assembleia geral accionista para decidir matérias relevantes para a empresa.

A Media Capital foi ainda “informada pela sua accionista dominante [a Prisa] que tal dispersão das acções da sociedade junto dos novos investidores não resultará num novo domínio sobre a Media Capital por parte destes novos investidores, na medida em que, tanto quanto é do seu conhecimento, não existirá nova influência dominante em substituição do domínio da Prisa”.

Neste caso, o que fica afastada é a obrigatoriedade de lançar uma oferta pública de aquisição, já que sempre que é ultrapassado o controlo de 33,3% ou de 50% do capital de uma sociedade dispersa em bolsa o código de valores mobiliários assim o exige.

Para chegar a este modelo de negócio, e as operações de venda hoje conhecidas, “e os respectivos contornos legais e operacionais”, a Prisa informou também a Media Capital que todos são suportados “na auscultação feita a eminentes juristas, com destaque para um parecer elaborado a pedido da Prisa pelo Professor Doutor Paulo Mota Pinto”.

O que dá “conforto legal, no entendimento da Prisa, à execução da operação, no contexto do quadro legal e regulatório que se lhe aplica, cumprindo assim as obrigações regulatórias e legais que se lhe aplicam”.

Notícia actualizada às 22h40 com informação complemetar

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