Novo Banco: Rio desvaloriza auditoria, PCP fala em “escândalo”, BE quer documento na praça pública

PCP diz que o “escândalo continua” e CDS quer ministro das Finanças e Governador do Banco de Portugal no Parlamento.

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Novo Banco Miguel Manso

O líder do PSD, Rui Rio, desvalorizou nesta terça-feira a auditoria ao Novo Banco, insistindo que deve ser feita uma investigação pelo Ministério Público. 

“Aquilo que eu suspeito, e que tenho vindo a dizer, é que, nós contribuintes, e, portanto, o Estado tem pago uma factura que vai muito para lá daquilo que era justo que acontecesse. E isso é que era preciso que uma auditoria apurasse, sendo certo que as auditorias são um bocado como – desculpem-me dizer, isto é polémico – as sondagens: valem o que valem”, afirmou, dando como exemplo a banca, que apesar de ter sido alvo de várias auditorias “estava praticamente falida”.

O líder social-democrata disse ainda estranhar que se fale mais do BES do que das operações realizadas pelo Novo Banco. “Sobre o BES já todos sabemos a desgraça que foi e pagámos a factura que pagámos e inclusive há já uma acusação formulada pelo Ministério Público, que agora segue os trâmites normais e irá acabar com um julgamento. O que importa saber é o que aconteceu depois, a partir do momento em que o Novo Banco foi vendido e o que aconteceu com todas essas perdas. Se o dinheiro que os contribuintes têm pago para o Novo Banco está correcto ou incorrecto e aquilo que eu suspeito é que o Governo tem pago uma factura que vai muito para lá daquilo que era justo que acontecesse”, salientou, após uma visita ao Hospital de São João, no Porto.

PS responsabiliza Governo PSD/CDS

O PS responsabiliza o anterior Governo pela má situação do Novo Banco, agora conhecida pela auditoria.

“A doença do BES passou para o Novo Banco. Aquilo que foi prometido pelo anterior Governo PSD/CDS e também pelo Banco de Portugal de que tinham criado um banco bom e esse banco está contaminado pelos activos tóxicos que deveriam ter ficado no BES mas passaram para o Novo Banco”, afirmou aos jornalistas o deputado João Paulo Correia.

O parlamentar socialista lembrou ainda que o Novo Banco foi criado com uma capitalização de “4,9 mil milhões de euros e precisava de perto de dez mil milhões de euros": “Muitos dos activos não foram reconhecidos à época. As perdas desses activos têm sido reconhecidas agora”. 

“O Governo da altura, de Passos Coelho, não teve a coragem de dizer a verdade ao país. A resolução do BES foi deficiente”, acrescentou em declarações ao Jornalistas no Parlamento. 

BE quer auditoria pública

Já o BE diz não ver razões para que a auditoria ao Novo Banco se mantenha confidencial e pede que seja divulgada publicamente.

“Da análise preliminar da leitura que fez da auditoria não há nenhuma razão para que ele se mantenha confidencial. Nem aos deputados foi entregue nenhum dado pessoal de nenhum cliente”, afirmou a deputada Mariana Mortágua.

A bloquista diz que o Parlamento “continua sem saber, quando a analisa operações de crédito efectuadas pelo BES e por Ricardo Salgado, quem foram os clientes que beneficiaram dessas condições de crédito”.

“Muitas vezes, quando se procura fazer tudo, corre-se o risco de dizer muito pouco sobre cada coisa. E é o que parece ser esta auditoria”, acrescentou.

Mariana Mortágua afirmou ainda que a auditoria “não nos diz” é se as perdas do Novo Banco “poderiam ter sido evitadas” e se “a Lone Star está a enganar o Governo português e os contribuintes”, obrigando “o Governo a pagar por prejuízos que poderiam ter sido evitados”.     

PCP diz que “o escândalo continua” 

Já o PCP considerou que “o escândalo do BES continua com o Novo Banco” e insiste na necessidade de controlo público da instituição financeira.

“Estas perdas hoje [terça-feira] divulgadas revelam, mais uma vez, que o PCP tinha e tem razão quando afirma que, uma vez que o Estado continua a pagar a conta da limpeza do Novo Banco, este deve ser revertido para a esfera pública e colocado ao serviço da economia e do país. Quanto mais cedo se avançar com o controlo público mais cedo se acaba com a gestão danosa que acaba sempre por ser paga por todos os portugueses”, afirmou o deputado Duarte Alves, em declarações aos jornalistas no Parlamento.

O parlamentar comunista acrescentou que, “mais uma vez, se confirma que o escândalo BES continua com o Novo Banco, desde logo com a fraudulenta resolução pelo Governo PSD/CDS, em que se mentiu aos portugueses, dizendo que era possível resolver o banco com o que restava dos fundos da troika e separando um suposto banco bom de um banco mau”. 

“Depois, com a ruinosa privatização pelo Governo PS em que se entregou, praticamente a custo zero, o Novo Banco a um fundo abutre que continua a gerir os activos conforme os seus interesses”, acrescentou

CDS chama ministro das Finanças e governador do BdP

O CDS, por sua vez, pediu “com carácter de urgência” uma audição parlamentar ao Governador do Banco de Portugal e ao ministro das Finanças sobre a auditoria ao Novo Banco.

“De acordo com o mecanismo de capital contingente desenhado aquando da venda do Novo Banco, o Fundo de Resolução (com recurso a empréstimos do Estado e, consequentemente, dos contribuintes portugueses) responde pelas perdas relacionadas com alguns activos em determinadas circunstâncias até ao montante de 3.900 milhões de euros”, diz o CDS, num texto assinado pela deputada Cecília Meireles.

PAN apoia comissão de inquérito

O PAN vai propor a renegociação dos contratos de venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star e apoia uma comissão de inquérito parlamentar, face às conclusões da auditoria externa a esta instituição bancária.

Estas posições foram anunciadas pelo deputado e porta-voz do PAN, André Silva, num vídeo em que considera também que está demonstrado que “a transferência de 850 milhões de euros feita em Maio foi uma decisão política desastrosa e lesiva do interesse público e, portanto, também aqui deverá haver um esforço do Governo para que seja feito um mea culpa e que relativamente a esta decisão se apurem todas as responsabilidades que houver para apurar”.

“O PAN proporá, em sede do próximo Orçamento do Estado, a renegociação dos acordos de venda do Novo Banco e encargos futuros para o erário público e [quer] assegurar que durante a crise sanitária ou por causa dela não será injectado mais nenhum dinheiro público no Novo Banco”, declara André Silva.  Com Lusa

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