Lusitano, colectividade histórica lisboeta, fecha sede que ocupava há apenas três anos

Como todos os pequenos clubes de Lisboa, colectividade com 115 anos ficou sem receitas durante a pandemia e não consegue pagar a renda. “Algumas colectividades se calhar não abrem mais”, diz dirigente associativo. PCP pede apoios da câmara.

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O Lusitano fechou a porta da sede. Onde e se a abrirá de novo são incógnitas Miguel Manso

Há três anos, com ordem de marcha da sua sede histórica no coração de Alfama, o Lusitano Clube subiu um pouco a colina e foi instalar-se nas Escolas Gerais, pronto a cativar novo bairro e a prolongar ali uma existência já então centenária. Agora, a colectividade está de saída dessas instalações.

A decisão de encerrar a sede foi recentemente tomada, confirma o dirigente João Campos, sublinhando que a pandemia tornou difícil garantir as verbas suficientes para pagar a renda, que ronda os mil euros. Mas “isto ainda não é a extinção do clube”, frisa.

A actual sede do Lusitano, nos números 25 a 29 das Escolas Gerais, é um espaço arrendado à Câmara de Lisboa. Em 2017, mais de um ano depois de o senhorio ter comunicado ao clube que teria de abandonar a sede da Rua de São João da Praça, que ocupava desde 1905, a autarquia ajudou o Lusitano a encontrar esta nova casa.

Já não era o coração de Alfama onde o clube nascera, se desenvolvera e definhara antes de ganhar novo dinamismo por via de uma direcção mais jovem, mas era ainda centro histórico da cidade e fervilhavam as ideias para captar novos públicos e mostrar como um clube de bairro ainda podia ser relevante.

“A renda era difícil de suportar. Fomo-nos mantendo à tona”, desabafa João Campos. O Lusitano, ainda assim, teve alguma programação cultural e as receitas do bar foram ajudando a lidar com as despesas correntes.

Até que chegou a covid-19. Esta terça-feira, em comunicado enviado às redacções, os vereadores do PCP revelaram que o Lusitano Clube quer “rescindir o contrato de arrendamento” com a câmara e apontaram a pandemia como principal culpada: “A situação que o país atravessa actualmente veio trazer problemas acrescidos a estas colectividades, não permitindo uma actividade regular das suas actividades tão importantes nos bairros históricos de Lisboa.”

Muitas vezes com quotas irrisórias ou até sem elas, os pequenos clubes dependem dos habitués de bairro que religiosamente passam para uma partida de cartas ou dos aniversariantes que procuram fugir ao circuito mais corriqueiro dos jantares de grupo.

Pedro Franco, presidente da Associação das Colectividades do Concelho de Lisboa (ACCL), confirma que “o que sustenta muitas colectividades são os bares e festas”. Por isso, com os sócios metidos em casa e as sedes fechadas por causa do coronavírus, o dinheiro vai escasseando. “Algumas colectividades se calhar não abrem mais. Para algumas vai ser muito difícil”, diz Pedro Franco.

Durante o estado de emergência, a câmara aprovou medidas de apoio financeiro às colectividades lisboetas e o dirigente da ACCL diz ter conhecimento de clubes que apresentaram candidaturas, mas não sabe em que ponto estão. Sabe é que os clubes não podem continuar fechados, sob pena de se perderem de vez. “Não há ainda autorização para que as colectividades possam abrir e estamos a tentar junto das entidades obter mais informações”, garante Pedro Franco.

Nos últimos anos, por fim dos contratos de arrendamento ou por desaparecimento dos seus últimos sócios, várias colectividades de Lisboa fecharam e outras estiveram em risco de encerrar. Aconteceu, entre mais, com os Amigos do Minho, com o Ginásio do Alto do Pina, com os Leais Amigos, com o Sport Clube Intendente, com o Grupo Excursionista do Castelo.

Num requerimento que enviaram a Fernando Medina, os vereadores do PCP argumentam pela “importância social, cultural e económica das colectividades de cultura, recreio e desporto na cidade”, pedindo à autarquia “apoio efectivo” para que possam continuar a trabalhar.

O Lusitano Clube, para já, regressa à situação em que esteve quando saiu da Rua São João da Praça e ainda não tinha casa nova. Dessa sede pôde despedir-se com um histórico concerto do cantor romântico Marante, que nessa ocasião actuou pela primeira vez em Alfama. Para estas instalações não há adeus público – só uma porta fechada.

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