EUA autorizam uso de plasma convalescente de doentes recuperados

A terapia passa pela administração a doentes que ainda estejam a lutar contra a infecção de plasma sanguíneo obtido do sangue de pessoas que já recuperaram da doença covid-19.

Foto
Trump define a novidade como “uma notícia extremamente histórica” Reuters/ERIN SCOTT

A agência reguladora do medicamento dos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), autorizou este domingo o uso de emergência de plasma convalescente como um tratamento para a covid-19. Segundo a FDA, mais de 70 mil pessoas infectadas com covid-19 já foram submetidas ao tratamento. 

A terapia passa pela administração a doentes que ainda estejam a lutar contra a infecção de plasma sanguíneo obtido do sangue de pessoas que já recuperaram da doença covid-19. O objectivo é que esses doentes consigam usar os anticorpos desenvolvidos pelos pacientes já recuperados.

“Isto expande dramaticamente o acesso a este tratamento”, destacou Donald Trump numa conferência de imprensa na Casa Branca durante a tarde de domingo. Até agora, o presidente diz que o uso de plasma convalescente tem reduzido a mortalidade em 35% dos doentes infectados com covid-19 nos Estados Unidos que têm menos de 80 anos e não precisam de ventilador. 

Trump define a novidade como “uma notícia extremamente histórica” na batalha contra a pandemia que continua a definir como “o vírus da China” — uma denominação que alguns críticos acreditam ser "racista".

Vários oficiais de saúde de topo na Casa Branca alertam, no entanto, que ainda não há ensaios clínicos em massa que provem que o plasma convalescente ajude a combater o vírus mais rapidamente. As vozes que apelam a mais cautela incluem Anthony Fauci, imunologista norte-americano, e Francis Collins, director dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

Num comunicado publicado no seu site, a FDA escreve que é “razoável acreditar que o plasma convalescente pode ser eficaz na diminuição da severidade e duração da doença covid-19 em alguns pacientes hospitalizados” e acentua que “os benefícios conhecidos e potenciais do tratamento compensam os riscos”. A agência ressalva, no entanto, que o uso de plasma convalescente não deve ser visto como o novo “tratamento padrão” para a covid-19.

Uma das desvantagens do tratamento é o carácter temporário dos anticorpos no corpo dos doentes. Uma forma de conseguir imunização activa, produzida pelo próprio organismo, são as vacinas, que implicam a exposição a agentes patogénicos atenuados ou inactivados ou a pedaços desses microorganismos, para obrigar o corpo a produzir anticorpos contra a doença.

E há riscos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o sangue de qualquer dador terá de ser testado para certos agentes patogénicos como as hepatites e o vírus da sida antes de ser usado.

A vantagem, porém, reside na sua acção imediata da imunidade, ou seja, a disponibilidade de anticorpos no organismo do doente logo após a administração do soro. Isto pode ajudar a atenuar alguns sintomas do vírus ou a diminuir a duração da doença. 

Desde Junho que a Comissão Europeia descreve que as doações de sangue como “mais necessárias do que nunca”, apelando a novas dádivas de doentes recuperados, para ajudar novos doentes a combater o vírus. Em Portugal, o Governo encarregou um grupo de trabalho de estudar um Programa Nacional de Transfusão de Plasma Convalescente em Maio ​para garantir que os serviços de sangue nacionais estejam preparados para satisfazer pedidos deste componente do sangue.

Sugerir correcção