Plasma “convalescente” vai ser usado em doentes com covid-19. Peritos definem critérios

Grupo de trabalho vai propôr um programa para definir forma de recrutamento de dadores e participantes em ensaios clínicos. Doentes recuperados podem disponibizar-se para doar plasma já a partir desta segunda-feira.

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LUSA/Zoltan Balogh

O Governo encarregou um grupo de trabalho de estudar e apresentar uma proposta, no prazo de 30 dias, de um Programa Nacional de Transfusão de Plasma Convalescente [de doentes que recuperaram de covid-19] ​de forma garantir que os serviços de sangue nacionais estejam preparados para satisfazer pedidos deste componente do sangue para ser utilizado no tratamento de pacientes com esta doença.

Maria Antónia Escoval, presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), que coordena este programa, acaba de anunciar, na habitual conferência de imprensa para balanço da situação epidemiológica, que os doentes recuperados podem disponibizar-se para doar plasma já a partir desta segunda-feira num link criado para o efeito na página do instituto na internet.  Caberá ao grupo de trabalho agora criado definir os critérios mínimos de inclusão e exclusão dos doentes em ensaios clínicos que vão avançar em Portugal, adiantou.

“Considerando a inexistência de específicos antivirais aprovados para o tratamento de doentes com covid-19, a utilização de plasma tem sido entendida, pela evidência empírica, como uma abordagem estratégica e promissora no tratamento de doentes que desenvolveram formas mais severas desta doença”, justifica o secretário de Estado da Saúde no despacho em que anuncia a constituição do grupo de trabalho e que foi publicado esta segunda-feira no Diário da República

Esta terapia consiste na utilização de plasma de indivíduos que recuperaram da infecção, que contém anticorpos específicos capazes de neutralizar os agentes infecciosos e apresenta “altos níveis de segurança”, apesar de permanecer “incerto o potencial benefício clínico” e o risco, especifica.

Ainda que seja uma terapia experimental, a Organização Mundial de Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças Infecciosas emitiram recentemente recomendações sobre a utilização de plasma convalescente como elemento de resposta a este vírus, recorda-se no despacho.

Coordenado pela presidente do IPST, Maria Antónia Escoval, o grupo de trabalho fica encarregado de propôr os moldes de funcionamento do programa, nomeadamente quanto ao recrutamento de dadores, a análise para quantificação de anticorpos neutralizantes virais e para a sua implementação em ensaios clínicos ou outras modalidades de estudos clínicos. O grupo inclui responsáveis e peritos da Direcção-Geral da Saúde, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) e do Infarmed. Integra ainda um membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

A presidente do IPST adiantara à Lusa na sexta-feira que vão arrancar este mês ensaios clínicos com plasma de doentes recuperados em 10 serviços de imunohemoterapia  do país, não apenas nos três centros de sangue e transplantação do instituto (Lisboa, Porto e Coimbra), mas também em três serviços hospitalares na região Norte, um na região Centro e três na região Sul.

Na semana anterior, depois de a directora-geral da Saúde ter anunciado a criação de uma “task force nacional” para realizar um ensaio clínico alargado para perceber se o uso de plasma humano é seguro no tratamento da infecção pelo novo coronavírus, o IPST já avaliara as capacidades técnicas e logísticas existentes nos serviços de imunohemoterapia dos hospitais para a colheita por aférese, um procedimento que permite separar os diferentes componentes do sangue. 

Ensaios com plasma humano para tratar doentes com covid-19 já foram realizados na China e estão em curso em Itália, Espanha, Bélgica, Alemanha, Holanda e EUA, disse Maria Antónia Escoval. Em Portugal, o arranque do ensaio vai ser feito através de um apelo aos doentes recuperados para a dádiva - embora a presidente do IPST tenha frisado que “não é a única” solução disponível.

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