Restaurante Noélia & Jerónimo reabre com flores, lágrimas e casa cheia

Dois meses depois de ter encerrado devido a um surto de covid-19, o afamado restaurante de Cabanas de Tavira reabriu esta quinta-feira, ainda “devagarinho”, com menos lugares e ementa reduzida.

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Foi com casa cheia, palmas, um “balcão cheio de flores” oferecidas pelos clientes e muitas lágrimas que o restaurante Noélia & Jerónimo voltou a abrir portas esta quinta-feira, dois meses depois de um surto de covid-19 entre a equipa ter obrigado ao encerramento do afamado restaurante em Cabanas de Tavira.

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Foi com casa cheia, palmas, um “balcão cheio de flores” oferecidas pelos clientes e muitas lágrimas que o restaurante Noélia & Jerónimo voltou a abrir portas esta quinta-feira, dois meses depois de um surto de covid-19 entre a equipa ter obrigado ao encerramento do afamado restaurante em Cabanas de Tavira.

“Nunca imaginei que isto demorasse tanto tempo. Não sabíamos o que nos esperava”, confessa à Fugas a cozinheira e proprietária, Noélia Jerónimo. Um mês depois de reabrir, o restaurante viu-se obrigado a encerrar a 21 de Junho, quando foram detectados cinco casos de coronavírus entre a equipa da cozinha, incluindo Noélia – 12 pessoas, no total, contabilizando os contágios entre familiares.

“Felizmente fui eu que fiquei pior. Foi galopante. Comecei a sentir-me mal de um dia para o outro e, ao fim de três dias, estava no hospital”, recorda a cozinheira. “Foi horrível.” Esteve internada durante três semanas, com uma pneumonia, os primeiros quinze dias a oxigénio. “Por pouco não fui parar aos ventiladores.” Terminou a recuperação em casa, em isolamento.

É por isso que, ainda que tenha sido “muito bom poder regressar à cozinha” esta quinta-feira, confessa sentir-se ainda “um bocadinho cansada” e com “medo de tudo o que possa vir a acontecer”. Se, ao início, tinham sido algo permissivos porque “as pessoas ficavam ofendidas”, agora não facilitam “a entrada de cliente algum sem máscara”.

E o serviço “vai ser um bocadinho a meio gás”, pelo menos para já. “Preciso de saber as minhas capacidades e até onde posso chegar, porque os médicos avisaram-me desde sempre para ter cuidado e ir devagarinho.”

A lotação do restaurante, habitualmente de 100 lugares, foi reduzida para 40 clientes por refeição, com dois turnos ao almoço (às 12h30 e às 14h) e dois ao jantar, ainda que desfasados, para não sobrecarregar o serviço (entram cerca de 20 pessoas às 19h, às 19h30, às 21h e às 21h30).

Também a ementa vai manter-se mais curta, até porque “ainda falta uma pessoa na cozinha”, à espera de receber o último teste negativo à covid-19 para poder regressar. Não caem pratos específicos, antes encolhe a diversidade oferecida em cada dia, consoante a frescura dos produtos. “Em vez de comprarmos mais para fazermos uma maior quantidade de pratos, vamos ser mais selectivos.” Em vez de quatro ou cinco pratos de arroz com diferentes tipos de peixe e marisco, haverá apenas um ou dois, exemplifica.

Os últimos meses, aponta a cozinheira, foram “muito complicados”, vividos com muita “angústia e ansiedade”. Encerrado desde Novembro, para obras na cozinha, o Noélia & Jerónimo voltou a abrir a 11 de Fevereiro, fechou com o decretar do estado de emergência devido à pandemia, reabriu a 21 de Maio, fechou a 21 de Junho. “Já temos nove meses de ordenados e só trabalhámos dois meses”, contabiliza, reconhecendo “o desespero de estar a ver chegar o Verão, querermos trabalhar e a porta estar fechada”.

Agora, é como recomeçar “completamente” do zero, “em pleno mês de Agosto” e com “uma pressão tremenda”, mas muita vontade de continuar a lutar e a trabalhar. “O que me interessa no meio disto tudo é que ainda hoje saíram pessoas daqui extremamente felizes. Chorámos muito. Bateram-me palmas, trouxeram-me flores. Tenho o balcão cheio de flores.”

Praticamente até ao final do mês já está a casa cheia, com reservas que tinham sido feitas anteriormente e entretanto confirmadas. E Noélia promete novidades “muito giras” a caminho. “Quando estive parada fiz um livro com uma série de receitas de pratos novos. Mas só os lançarei depois de termos a equipa completa e de estarmos todos juntos.” Neste momento, diz, só quer “dar tempo ao tempo”.