Críticas à nomeação de filha do Presidente angolano para a Bolsa de Valores
É uma “distracção evitável e corrigível”, disse o jornalista e activista Rafael Marques. Fica fragilizado o combate à corrupção de João Lourenço, dizem outros analistas.
Cristina Giovana Dias Lourenço, filha do Presidente angolano, João Lourenço, foi nomeada em Março pela pela ministra das Finanças de Angola para o cargo de administradora executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva). Mas a notícia só foi conhecida agora.
Cristina Giovana Dias Lourenço, que é técnica superior de 2.ª classe no Ministério das Finanças de Angola, foi dispensada para dirigir os departamentos de Finanças e Património e de Comunicação e Intercâmbio da Bolsa angolana, avançou o Jornal de Negócios em Portugal.
Rafael Marques, jornalista e activista angolano, disse à agência Lusa que a nomeação da filha do Presidente angolano para um cargo público é “uma distracção evitável e corrigível”. Não considerou o processo nepotismo, mas disse ser “desaconselhável”.
“Primeiro, é preciso esclarecer que não é uma nomeação feita pelo Presidente, aliás a filha de João Lourenço, já antes de ele ser Presidente, exercia uma função no Ministério das Finanças. Mas do ponto de vista da opinião pública, seria de todo aconselhável que a ministra das Finanças, responsável pela nomeação, não a fizesse”, disse Rafael Marques à Lusa.
Já para Salvador Freire, líder da Mãos Livres, organização não-governamental de promoção dos direitos humanos, a nomeação de Cristina Dias Lourenço configura um ato de nepotismo. “Isto configura-se como nepotismo, não pode de forma nenhuma a filha do Presidente da República ocupar a responsabilidade que hoje ocupa. Nepotismo é tráfico de influência, isso faz com que venha beliscando a boa governação, a transparência”, afirmou à Lusa.
Rafael Marques entende que o cargo de Cristina Dias Lourenço “não trará mais-valia à Bodiva ou à carreira da filha do Presidente da República angolano”. O ideal seria ela “demitir-se do cargo para salvaguardar a imagem do pai”, João Lourenço, defendeu.
Muitos associam esta nomeação às práticas do anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que nomeou filhos, como Isabel dos Santos e José Filomeno “Zenu” dos Santos, - condenado na semana passada a cinco anos de prisão - para cargos públicos.
A antiga deputada do MPLA, Tchizé dos Santos, também filha de José Eduardo dos Santos, criticou a nomeação de Cristina Dias Lourenço para a Bodiva. “O actual Presidente da República, em reunião do próprio Comité Central [do MPLA] criticou o seu antecessor dizendo que nomeiam filhos sem experiência para cargos do fundo soberano, mas agora a sua filha que nem cinco anos de licenciada têm e já foi de pára-quedas como directora nacional das finanças sem concurso público, e agora é nomeada como administradora da Bodiva”, disse Tchizé dos Santos, citada pelo Club-K.