“Operação Prato Vazio” quer combater o desperdício de comida na China

O Presidente chinês, Xi Jinping, quer maior regulamentação e já começa a ser aplicado um sistema de limitação do número de pratos pedidos nos restaurantes.

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Relatórios concluem que 18 milhões de toneladas de comida vão para o lixo todos os anos na China ROMAN PILIPEY/Lusa

O problema do desperdício de comida, uma realidade também em Portugal, é uma das prioridades do Presidente ​chinêsXi Jinping, que apela a uma maior regulamentação e supervisão, inclusive daquilo que é pedido à mesa do restaurante.

“Desperdiçar é uma vergonha e poupar é louvável”, afirmou Xi Jinping num discurso publicado terça-feira, citado pelo Guardian. O líder chinês descreveu a quantidade de comida desperdiçada no país como “chocante e perturbadora”, segundo a agência estatal Xinhua.

Citando um poema, questionou: “Quem sabe que da nossa refeição no prato cada grão provém de trabalho duro?” O impacto da pandemia terá feito “soar os alarmes”, já que Xi considera que é preciso “manter um sentido de crise acerca da sustentabilidade alimentar” num país que importa 20% a 30% dos seus cereais.

A ênfase dada ao desperdício surge depois de semanas de cheias por todo o país que destruíram colheitas e levaram à subida do preço dos bens alimentares, já altos depois de a pandemia ter afectado a economia chinesa.

Consumo frugal

Não demorou muito para que as palavras do líder se transformassem em acções. As autoridades locais rapidamente colocaram em prática a chamada “Operação Prato Vazio”, uma iniciativa inicialmente mencionada em 2013, mas que ganhou nova força depois do discurso de Xi. Entre essas políticas está o sistema de pedidos “N-1” em regiões como Wuhan, Hubein e Henan, através do qual um grupo num restaurante deve pedir um prato a menos do que o número de pessoas sentadas à mesa.

Os restaurantes devem ainda servir meias doses e porções mais pequenas, assim como disponibilizar recipientes para que as sobras das refeições sejam levadas para casa. Também estão a ser instalados ecrãs que apelam ao “consumo frugal”.

Num país em que é considerada boa educação encomendar mais comida do que o necessário, a “Operação Prato Vazio” pode ser difícil de concretizar, avançam os jornais locais. As refeições são frequentemente servidas em porções familiares com pratos partilhados e os consumidores tendem a pedir mais pratos do que o número de pessoas no grupo.

No discurso, Xi apelou a um reforço da legislação e da supervisão, de forma a criar medidas de longo prazo e uma melhor educação do público para “parar completamente o desperdício”. Segundo um relatório da China Academy Science de 2015, todos os anos as maiores cidades atiram para o lixo 18 milhões de toneladas de comida, o suficiente para alimentar entre 30 e 50 milhões de pessoas.

Na rede social Weibo, a mais utilizada no país, os internautas expressaram o seu descontentamento. “Podiam primeiro limitar as refeições dos dirigentes? Não tirem sempre ao povo”, afirmava um comentário, referindo-se aos banquetes formais dos governantes, adianta o Guardian. “Até o número de pratos que se pode pedir tem de ser regulado?”, perguntava outro utilizador.

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