“Um dos dias mais complicados do ano”: dois bombeiros feridos em Porto de Mós e mais de 300 operacionais em Sernancelhe

Há 15 fogos activos em todo o país. Em Sernancelhe, combate a incêndio em zona de “mato, pinhal e fenos”, tem sido dificultado pelo vento. Durante a tarde dois bombeiros ficaram feridos em Porto de Mós.

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A Protecção Civil apela “ao sentido cívico” dos portugueses LUSA/NUNO ANDRÉ FERREIRA

Há 1700 operacionais a combater 15 incêndios em todo o país. A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) fez esta quinta-feira o balanço de “um dos dias mais complicados do ano”, em que cerca de 4600 operacionais combateram 113 ocorrências.

O segundo comandante da ANEPC, André Fernandes, disse que “os incêndios que preocupam mais são os de Mirandela, Torre de Moncorvo, Sernancelhe, Alijó, Sabugal, Fundão e Porto de Mós”. Tanto os incêndios no distrito de Bragança (Mirandela e Torre de Moncorvo), como o de Porto de Mós, estão dominados.

As autoridades dão conta de um ferido grave no Alijó e de uma bombeira com ferimentos ligeiros no Fundão.

Até às 19h30, hora do balanço realizado pela ANEPC, estavam activos 15 incêndios, que mobilizam cerca de 1700 operacionais, 546 meios terrestres e 16 aeronaves. André Fernandes referiu ainda que estavam nos teatros de operações 11 grupos de reforço dos bombeiros, três grupos da força especial da protecção civil e as três companhias de unidade especial de operação e socorro, além de quatro máquinas de rasto.

Cinco dos quinze incêndios mobilizam mais de 1100 operacionais. Segundo o site da ANEPC, pelas 19h estavam nesses cinco incêndios 334 meios terrestres e de 16 aeronaves.

Três meios aéreos e mais de 300 operacionais combatem incêndio em Sernancelhe

O incêndio florestal em Sernancelhe, no distrito de Viseu, deflagrou cerca das 12h02 de quinta-feira. Com o foco localizado numa “zona de mato, pinhal e fenos”, o combate tem sido dificultado devido ao vento, o que faz com que “haja uma progressão do incêndio muito rápida”, explicou Miguel Ângelo David, comandante Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Viseu. 

Segundo o comandante, existem aldeias próximas da linha do incêndio, estando, por isso, a ser mobilizados “meios para essas zonas e a concentrarem-se esforços para salvaguardar as localidades”. 

Ao PÚBLICO, o CDOS explicou que, apesar desta proximidade, “não existem habitações em risco iminente, pelo que ainda não houve qualquer evacuação habitacional”. Ainda assim, esta hipótese não está descartada, por causa do “vento forte que se faz sentir no local”.

Ao final da tarde de quinta-feira, já depois do balanço realizado pela ANEPC, a Protecção Civil procedeu à retirada de alguns idosos de algumas aldeias. Em declarações à Agência Lusa, Miguel Ângelo David refere que as pessoas foram “levadas para locais mais seguros”, sendo que “Carregal, Lapa, Penso e Vila da Ponte são as freguesias de maior risco.”

O incêndio tem várias frentes activas. Segundo Carlos Santiago, autarca de Sernancelhe, em declarações ao Jornal do Centro, “o incêndio já se encaminha para Moimenta da Beira, em direcção à aldeia de Mileu. Em Tabosa do Carregal, o fogo está numa fase ainda descontrolada. Já temos um reforço de meios”.

Bombeira ferida no Fundão e sapador em estado grave em Porto de Mós

Outro dos incêndios que levanta preocupações deflagrou esta tarde em Porto de Mós, no distrito de Leiria. Segundo fonte do CDOS de Leiria em declarações ao PÚBLICO, “há a registar dois feridos. Um bombeiro com queimaduras leves nos membros inferiores” (ferido ligeiro) e um “sapador florestal em estado grave devido à inalação de fumos.”

Segundo o CDOS de Leiria em declarações à agência Lusa, o incêndio de Porto de Mós teve início durante a madrugada (2h00) e entrou em fase de resolução às 20h40. Até às 21h, a Protecção Civil informava que estavam mobilizados neste fogo 196 operacionais e 61 viaturas.

O comandante operacional distrital de operações de socorro do CDOS de Bragança, João Noel Afonso, disse à Lusa que o incêndio em Torre de Moncorvo, a deflagrar nas freguesias de União de Freguesias da Cardanha e Adeganha, ainda tem duas frentes activas e está a consumir mato numa zona de difícil acesso, com muitas rochas, o que dificulta a entrada de veículos de combate às chamas”.

Em Mirandela, o incêndio entrou em fase de resolução às 23h28, segundo o CDOS de Bragança, que contou à Lusa que o fogo está em “uma fase que já não nos traz grandes preocupações”.

Os outros grandes fogos na zona Centro do país, que ainda não foram dominados, mobilizam cada um mais de cem operacionais. No Fundão, Castelo Branco, lavra um incêndio com duas frentes activas numa zona de povoamento florestal em Bogas de Baixo. Às 22h30, o fogo mobilizava 326 operacionais, 106 veículos e seis máquinas de arrasto. Segundo o CDOS de Castelo Branco, o fogo continua a motivar uma crescente mobilização de meios.

À Lusa, o comandante distrital de operações de socorro, Francisco Peraboa, adiantou que está preocupado com “as condições meteorológicas, a temperatura, o vento e a humidade relativa do ar, que não são favoráveis”. O comandante apontou que a noite será “a nossa janela de oportunidade” para dominar o fogo.

Em Castelo Branco, fonte do CDOS disse que “há um ferido ligeiro, que sofreu queimaduras. Trata-se de uma bombeira da corporação do Fundão”. A fonte explicou que a operacional foi transportada pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para o Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã.

No distrito da Guarda, no concelho de Sabugal, um incêndio em mato lavra desde as 13h46, contando até às 22h45 com 287 operacionais e 84 viaturas. O fogo tem três frentes e uma delas foi dominada no início da noite.

Em declarações à Lusa pelas 22h40, o vice-presidente da Câmara do Sabugal, no distrito da Guarda, Vítor Proença, disse que se está a atravessar “uma fase mais calma”, com o vento a abrandar e a temperatura do ar a baixar.

Já mais a Norte, em Alijó, no distrito de Vila Real, estavam à meia-noite de sexta-feira 223 operacionais, apoiados por 71 viaturas, a tentar combater um incêndio que começou ao início da tarde.

Durante a tarde o fogo esteve quase controlado, no entanto, segundo informou comandante operacional distrital de Vila Real à Lusa, numa altura em que os aviões tiveram de fazer um reabastecimento e as máquinas de rasto estavam no local, apareceu vento forte que deu mais intensidade às chamas e o trabalho que estava a ser feito “perdeu-se”.

No início do fogo, um trabalhador de uma empresa que estava a prestar serviços à rede eléctrica sofreu ferimentos, foi assistido pelo INEM e transportado para o hospital de Vila Real.

Quinta-feira foi “complicada” e sexta-feira não será diferente, avisa Protecção Civil

Segundo os dados apresentados pelo segundo comandante da ANEPC, André Fernandes, entre a meia-noite e o meio-dia foram registadas 46 ocorrências, e entre o meio-dia e as 17h mais 67 ocorrências. Relativamente ao incêndio em Porto de Mós, o segundo comandante considerou que “é sempre estranho haver ignições neste período nocturno, às 2h”, mas salientou que as causas dos incêndios ainda não conhecidas.

A ANEPC admitiu que este foi “um dos dias mais complicados do ano e amanhã seguramente vai ser um dia também complicado”, não devido à dimensão dos incêndios, mas antes pela “simultaneidade que causa um constrangimento na gestão de meios e de recursos”, disse André Fernandes.

Os distritos mais afectados pelos incêndios desta quinta-feira são a Norte. No distrito do Porto, registaram-se 23 ignições, 13 no distrito de Viana do Castelo, 12 no distrito de Braga, 12 em Aveiro e 9 em Vila Real.

Os bombeiros e outros operacionais não deverão ter uma sexta-feira muito menos complicada, mas espera-se que a noite ajude o combate aos incêndios. O segundo comandante da ANEPC informou que “é expectável uma redução da velocidade do vento e um aumento da humidade do ar, que vai facilitar dominar os 15 incêndios”.

André Fernandes aproveitou ainda a conferência de imprensa para apelar “ao sentido cívico” dos portugueses, “que sempre pautou pela tolerância zero no uso de fogo” em tempos de incêndio.

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