WhatsApp lança software em português para erradicar notícias falsas sobre covid-19

O chatbot em português liga o utilizador com mais de 24 organizações de verificação de factos portuguesas, brasileiras e espanholas. O objectivo é erradicar mitos em torno do novo coronavírus.

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O novo chatbot vai lutar contra as notícias falsas sobre a covid-19 (e não só) através do WhatsApp Nacho Doce/Reuters

O chatbot do WhatsApp, criado em Maio para desmistificar mitos e notícias falsas sobre a covid-19 e consultado diariamente por cerca de 60 mil pessoas em todo o mundo, já fala português. Para o experimentar, basta enviar uma mensagem para +1 (727) 2912606 (ou carregar neste link). Está a ser desenvolvido desde Maio pela International Fact-Checking Network (IFCN), a rede internacional de verificação de factos do Instituto Poynter, uma das mais reputadas escolas de jornalismo dos Estados Unidos.

Apesar de o sistema apresentar grafia e expressões típicas do português do Brasil, os utilizadores portugueses (que utilizem o chatbot com um número de telefone português) devem obter informação de agências de verificação de factos portuguesas em primeiro lugar.

“O objectivo é que as pessoas tenham uma ferramenta de confiança que possam utilizar no meio de um debate sobre o coronavírus e, por exemplo, o uso de máscara, o 5G ou a hidroxicloroquina”, explica ao PÚBLICO Cristina Tardáguila, directora-adjunta da IFCN e responsável pelo projecto.

Depois de escrever “Oi” ou “Olá”, o chatbot (programa informático que “conversa” com o utilizador) apresenta um menu simples que permite fazer perguntas, consultar verificações de factos recentes, obter dicas para combater desinformação e contactar directamente agências de verificação de factos. Ao fazer perguntas em português ao chatbot, o sistema remete para ideias, notícias e mitos que circulam sobre esses temas e indica se já foram classificadas como “falsas”, “parcialmente falsas”, “enganosas” ou “sem evidência” por agências de verificação de factos oficiais. O programa está treinado para perceber palavras e expressões até dois erros ortográficos (por exemplo, se alguém escrever “hidruxicloroquina” o chatbot responde sobre a hidroxicloroquina).

Ao todo, o chatbot português obtém informação de 24 agências de verificação de factos brasileiras, espanholas e portuguesas que já publicaram mais de 2260 artigos sobre desinformação associada à covid-19. Em Portugal, os primeiros resultados devem ser do jornal português Observador e do site Polígrafo, ambos parceiros do projecto da IFCN.

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Para começar, basta escrever "Oi" DR

“O chatbot também remete para informação publicada no Brasil e em países hispânicos porque é uma pena desperdiçar esse tipo de informação de qualidade quando as línguas são tão próximas”, justifica Cristina Tardáguila, reforçando que a equipa do IFCN verifica todos os artigos que são publicados pelas agências parceiras.

Eliminar teorias de conspiração 

Para Tardáguila, um dos objectivos de incluir informação de fora de Portugal é eliminar teorias da conspiração sobre as intenções das equipas de verificação de factos de cada país. “Há teorias da conspiração a circular de que quem faz verificação de factos está comprado, ou é enviesado”, nota Tardáguila. “Espero que ao usar o nosso chatbot as pessoas comecem a questionar esta ideia. Afinal, qual é a possibilidade real de um verificador de factos na Bolívia e outro em Portugal tenham a mesma viés sobre uma tema?”

Além de português, o chatbot da IFCN também fala inglês, espanhol e hindi. 

“Isto mostra que o chatbot veio para ficar”, sublinha Tardáguila. “Na base, é uma ferramenta que permite a agências de verificadores de factos oferecem informação relevante sobre um assunto de urgência”, explica. “Se hoje é sobre a pandemia da covid-19, amanhã pode ser outra coisa como as mudanças ao nível do clima ou eleições em Portugal.”

O novo chatbot do WhatsApp faz parte dos esforços do Facebook (dono do WhatsApp) para lutar contra a desinformação a circular nas suas plataformas. Nos últimos anos, a plataforma de mensagens WhatsApp ganhou fama por ser um palco de difusão de informação falsa e perigosa em todo o mundo. Em 2018, por exemplo, várias pessoas foram mortalmente agredidas na Índia por multidões influenciadas por mensagens falsas na aplicação sobre supostos criminosos e raptores de crianças. Mais recentemente, em Março, a Direcção-Geral de Saúde teve de alertar que mensagens de voz de alegados médicos, a circular em grupos portugueses do WhatsApp, não eram verdade.

Correcção: A versão inglesa do chatbot foi lançada em Maio de 2020

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