Perder um irmão é perder metade de nós

Ter um irmão não é só ter um confidente, não é só ter um amigo. Ter um irmão é uma constante partilha para a vida inteira sem vergonha de dizer e de mostrar a alegria ou a dor... Se a vida deixar.

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Kylo/Unsplash

Um dia, a vida pode dar-nos um irmão, mas essa mesma vida que um nos deu o maior dos bens pode também um dia retirar, sem avisar, o que nos deu.

Vivi parte da minha vida com esse maior dos bens. Cresci com ele, ensinou-me a viver, a dizer o que não devia dizer e a pensar. Principalmente, a pensar sobre a vida e o que era isto de viver.

Ensinou-me que o primeiro desgosto de amor faz parte do crescimento e um dia abraçou-me na dor que eu julgava insuperável, de quando se pensa que se percebe o que é amar.

Ter um irmão não é só ter um confidente, não é só ter um amigo. Ter um irmão é uma constante partilha para a vida inteira sem vergonha de dizer e de mostrar a alegria ou a dor... Se a vida deixar.

A minha vida não deixou. O que um dia ela me deu, também um dia ela me tirou.

Quando se perde alguém assim do nada, que é parte integrante de nós, que nos viu nascer, que nos deu e mostrou um outro caminho, é perder o sentido da vida, é perder metade daquilo que somos feitos. Só somos completos com a partilha.

Perde-se para sempre essa partilha de sentimentos com a perda de um irmão, perdem-se os copos de uma tarde qualquer e as confidências. Perdem-se lágrimas e sorrisos e outras coisas que tais.

Em suma, perde-se tudo porque se perde metade da vida.

E quando se perde metade da vida, perdemos o rumo, o sentido das coisas e o norte. Como quase tudo na vida, a dor atenua com o tempo, mas, quando perdemos um irmão, esse tempo não faz nada e só nos faz questionar todos os dias, como seria hoje se ele hoje aqui estivesse.

Há sempre um amor diferente entre irmãos. Há uma verdade, acima de tudo, que o sangue não desmente. Há sempre qualquer coisa que se sente no olhar do outro sem falar. E só sente isto quem tem um irmão.

Só sente a falta disto quem já teve aquilo que a vida nos deu, mas que um dia nos roubou.

E ter um irmão a ensinar-nos que, possivelmente, o caminho da vida pode ser outro, é mesmo de aproveitar e agradecer, mas não o ter é ir, às vezes, sozinho e esperar que ele nos guie lá onde estiver, seja lá por onde for, porque não sabemos muito bem para onde devemos ir.

Perder um irmão é perder metade de nós, mas, principalmente, é perder o amor que nem todos podem entender. Eu ainda tive tempo de entender, mas nunca irei saber ao certo se o caminho que vou percorrendo deverá ser este ou se poderia ser outro.

Falta-me a tua opinião, mano.

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