Marrom e Amarelo: excerto do novo romance de Paulo Scott

O livro, que aborda a tensão racial na sociedade brasileira, é editado pela Tinta-da-China e chega nesta sexta-feira às livrarias portuguesas. Aqui pode ler-se um dos seus capítulos.

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Reuters/DIEGO VARA

Bom dia, falou Micheliny, trinta e dois anos, assessora no gabinete do secretário de Gestão de Pessoas no Serviço Público Federal, funcionária de carreira designada pra coordenar os encontros da comissão, a última pessoa a entrar na sala de reuniões na manhã daquele segundo dia de trabalho. O grupo retribuiu o cumprimento. Ela sentou à mesa oval gigante, de costas pra tela de projeção retrátil que já estava descerrada e recebendo a luminosidade do projetor de teto. Preciso revelar aos senhores que hoje estou me sentindo mais à vontade do que em nosso encontro de apresentação na semana passada, e tirou o laptop da pasta de couro que estava sobre o tampo da mesa, abriu, O ministro do Planejamento e o ministro da Casa Civil finalmente chegaram a um consenso sobre quais serão as metas e objetivos da nossa comissão, pegou o cabo HDMI da caixa de conexão embutida no centro da mesa, plugou no laptop, Espero, sinceramente, estar à altura da missão que me foi confiada por eles e à altura das expectativas dos senhores, disse. Tenho certeza que você vai coordenar muito bem os trabalhos, Micheliny, disse Ruy, cinquenta e oito anos, diretor do Setor de Informática do Ministério da Educação com atuação na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Acompanho o voto do colega, emendou Altair, trinta e oito anos, diplomata ocupando, desde a posse do novo governo, cargo em comissão na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça. Micheliny tirou da pasta um maço de folhas, removeu a cinta elástica que mantinha os nove maços de menor volume unidos formando o maço maior, conferiu a posição dos clipes-borboleta em cada um deles, levantou e começou a entregá-los de mão em mão.

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