Covid-19. Acidentes vasculares cerebrais comuns entre doentes com complicações neurológicas

Tem havido cada vez mais relatos de problemas neurológicos associados à infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2.

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Doente de covid-19 na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João, no Porto Manuel Roberto

Acidentes vasculares cerebrais, demência e encefalopatia estão entre as patologias diagnosticadas em doentes graves com covid-19 que sofreram complicações neurológicas, segundo um estudo científico britânico que analisou os dados de mais de 150 pacientes.

No estudo publicado na revista Lancet Psychiatry, analisaram-se 153 doentes internados com covid-19 durante o mês de Abril, fase exponencial da pandemia, cujos casos foram encaminhados para a investigação pelos seus médicos.

“Tem havido cada vez mais relatos de uma associação entre a infecção da covid-19 e possíveis complicações neurológicas e psiquiátricas, mas até agora só a partir de estudos com dez ou menos doentes. A nossa é a primeira investigação nacional de complicações neurológicas associadas à covid-19, mas é importante assinalar que se centra em casos tão graves que exigiram hospitalização”, afirma o autor do estudo, Benedict Michael, da Universidade de Liverpool.

“Não é possível tirar conclusões sobre a proporção total de doentes covid-19 que poderão ser afectados [neurologicamente] a partir deste estudo, cujas conclusões reclamam mais investigação”, ressalvam, no entanto, os investigadores responsáveis pela investigação.

Em relação a sequelas mais profundas, também têm surgido relatos de doentes de covid-19 que ficaram diabéticos. Estes casos estão a ser reunidos no registo CoviDiab, para se compreender melhor se de facto a infecção pelo novo coronavírus resulta na destruição das células produtoras de insulina e, dessa forma, conduz ao aparecimento da diabetes de tipo 1.

Outra das cientistas envolvida e a co-autora do estudo, Sarah Pett, da University College de Londres, acrescentou que este estudo é “uma fotografia” de um momento na pandemia e que é preciso “compreender as complicações cerebrais de pessoas que têm covid-19 mas não com gravidade que justificasse internamento”. “Esses estudos ajudarão a ilustrar a frequência destas complicações, quem está mais sujeito a tê-las e como as tratar.”

A patologia mais comum foi acidente vascular cerebral, observado em 77 doentes, a maioria com mais de 60 anos, 57 por causa de coágulos sanguíneos, conhecidos como acidentes isquémicos, em nove dos casos por causa de hemorragias cerebrais e no caso de um paciente, devido a inflamação dos vasos sanguíneos do cérebro.

Em 39 dos doentes estudados, cerca de metade tinha menos de 60 anos, verificou-se que sofriam de confusão mental ou mudanças de comportamento associadas a estados mentais alterados. Em sete deles, verificou-se que sofriam de encefalite, uma inflamação do cérebro.

Em 23 dos doentes analisados, verificou-se que sofriam de alterações psiquiátricas - psicose, demência, depressão e ansiedade - de que não tinham antecedentes, embora os investigadores admitam que pudessem já existir antes mas sem serem diagnosticadas.

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