Marcelo: é “verdadeiramente imbecil” vandalização de estátua do padre António Vieira

O chefe de Estado manifestou-se contra a vandalização e destruição de estátuas, em geral, defendendo que a História deve ser assumida como um todo, e referiu-se em particular à estátua inaugurada em 2017 no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, do padre António Vieira com três crianças ameríndias.

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Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Reuters/POOL

O Presidente da República condenou esta segunda-feira a vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa, que considerou um gesto “verdadeiramente imbecil” contra a memória do “maior orador português” e “um homem progressista” para a sua época. “Julgar a história hoje, para o passado é um risco”, acredita Marcelo Rebelo de Sousa lembrando que nunca gostou da ideia de “queimar livros ou destruir estátuas”.

“Quanto ao padre António Vieira, o que foi feito demonstrou, não só ignorância, como imbecilidade”, declarou Marcelo, em resposta a questões dos jornalistas, nas instalações da RTP, em Lisboa, depois de dar uma aula em directo para o projecto de ensino à distância #EstudoEmCasa.

O chefe de Estado manifestou-se contra a vandalização e destruição de estátuas, em geral, defendendo que a História deve ser assumida como um  todo, e referiu-se em particular à estátua inaugurada em 2017 no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, do padre António Vieira com três crianças ameríndias, onde na semana passada foi pintada a vermelho a palavra “descoloniza”.

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que “a ignorância pode não ser imbecil, pode ser uma ignorância bem-intencionada, pode ser uma ignorância negligente”, mas que neste caso “é difícil não se saber que o padre António Vieira foi das grandes personalidades da História do país”.

O Presidente da República acrescentou que o missionário jesuíta do século XVII “lutou pela independência, foi um grande diplomata, foi um homem progressista para aquela altura, perseguido pelos colonos portugueses no Brasil, perseguido pela corte, a certa altura, perseguido pela Inquisição”.

“Foi um homem dos maiores escritores portugueses, foi o maior orador português”, prosseguiu o chefe de Estado concluindo: “Portanto, para a sua época, este homem, que era um visionário, ser considerado um exemplo do que se quer destruir e demolir de memória, de testemunho da nossa História, é uma coisa imbecil, verdadeiramente imbecil”.

Lutar contra discriminações “não é destruir História"

O Presidente da República considerou ainda que Portugal tem sectores racistas e xenófobos, mas defendeu que a maneira de lutar contra as discriminações “não é estar a destruir História, é fazer História diferente”. Em resposta a questões dos jornalistas, o chefe de Estado sustentou a História deve ser assumida como um todo e condenou a vandalização e destruição de estátuas, interrogando: “Isso traduz-se em quê?”.

“Eu acho que a maneira de verdadeiramente lutar contra as discriminações, e concretamente contra o racismo ou a xenofobia, é criar condições hoje, e para o futuro, que reduzam essas desigualdades. Não é estar a destruir História, é fazer História diferente. É fazer História diferente, é aditar História diferente”, afirmou.

Por isso, Marcelo defende que as estátuas “têm de ser respeitadas e não há razão nenhuma que justifique destruir a História, senão começa em D. Afonso Henriques e vai o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Vai tudo!”. 

Marcelo argumentou que “o destruir a História é um exercício teoricamente muito fácil, mas que não vai, na prática, mudar as condições de vida daqueles que são discriminados, que são isolados”, como os moradores do Bairro da Jamaica, no concelho do Seixal, distrito do Barreiro. “Visitei as casas deles, conheço o que é a casa deles. Como visitei bairros que não são de minorias étnicas, onde há quem, pertencendo à maioria étnica portuguesa, viva em bairros assim. É combater isso, é acabar com esses bairros, isso é que é fundamental”, contrapôs, antes de se assumir preocupado com a radicalização da sociedade portuguesa. “A minha função como Presidente da República é unir e não dividir, e o que mais me preocupa é a radicalização gratuita que incendeia a cena política portuguesa”.

Se for para o Banco de Portugal, Centeno não será o primeiro

Em véspera de votação do Orçamento Suplementar, o Presidente da República deixou também um recado aos partidos. “Às vezes esquecemo-nos mas o vírus não desapareceu, ainda não há vacinas, portanto o que eu penso é que, sendo legítimo haver pluralismo de opinião em democracia, todos terão presente a importância de não perderem canais de diálogo que existiram. Vamos viver uma crise pior do que a que neste momento vivemos, e quanto mais tempo durar a pandemia maior será a crise. Com as economias semi-paradas é evidente que todos sofrem”, disse.

No dia em que o novo ministro das Finanças, João Leão, tomou posse, Marcelo Rebelo de Sousa disse esperar que “siga a linha do seu antecessor”, lembrando que “era um colaborador muito próximo do ministro cessante” e por isso não se opôs à nomeação. “O facto de ser alguém que corresponde à continuação da mesma linha política em matéria financeira e orçamental pareceu-me importante”, disse.

Já sobre a lei aprovada pelo Parlamento para a criação de um período de nojo de cinco anos, Marcelo disse que iria esperar pela lei para formular a sua opinião. “Não conheço a lei, sei que foi votada na generalidade, mas não conheço qual é o âmbito da lei, se impede também para outras entidades, qual o regime, a aplicação no presente passado e futuro.” “Já tinha dito que não via problema que um membro do Governo, do Ministério das Finanças, ser governador do Banco de Portugal. Mas vamos deixar votar a lei”, acrescentou.

Marcelo não acredita que venha já “fumo branco” de Bruxelas

Sobre a resposta europeia à crise económica, Marcelo Rebelo de Sousa declarou-se menos optimista. “Penso que não será neste Conselho Europeu não haverá fumo branco. Seria óptimo que no dia 19 estivesse tudo aprovado, mas será mais provável que aconteça só em Julho e que tenhamos de esperar pela presidência alemã”, disse.​

O Presidente da República afirmou-se ainda “estupefacto” com a notícia de que o Novo Banco vai necessitar de mais dinheiro do Fundo de Resolução, mas escusou-se a fazer mais comentários. "Não costumo comentar casos concretos da vida de instituições bancárias. Eu ouvi a notícia, fiquei estupefacto com ela, mas verdadeiramente não comento esse tipo de notícias para não estar a entrar na situação concreta de instituições financeiras”, declarou.

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