Spamflix, a plataforma portuguesa de cinema de culto e de género

Criada em 2018, a Spamflix é uma plataforma de streaming transaccional, em que se alugam filmes durante 72 horas, dedicada ao cinema de culto e de género, a filmes de distribuição complicada.

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Julia Duarte e Markus Duffner trabalham em cinema há anos, seja como programadores ou como distribuidores, entre outras tarefas. Estavam fartos de ver filmes que não podiam partilhar com as pessoas, cinema de género, de culto e comédias estranhas que faziam sucesso em festivais e mercados de cinema, mas depois não chegavam até às pessoas. Frustrados, os dois acharam que havia “uma falha na cadeia de distribuição de filmes”. Foi por isso, conta Duffner ao PÚBLICO, que criaram, em Portugal, a Spamflix, uma plataforma de streaming transaccional, ou seja, sem um modelo de subscrição, pagando-se por filme, com alcance internacional.

A Spamflix começou a ser idealizada há mais de cinco anos, mas só existe desde 2018. E só no mês passado ganhou aplicações para tablet e dispositivos móveis, tudo em vista a tornar mais fácil o stream para os maiores ecrãs possíveis. “Somos defensores do visionamento em ecrãs o maior possível”, conta Markus, que é italo-alemão e trabalha também nos festivais de Locarno e Montecarlo e na revista francesa Le Film Français, tendo também passado mais de uma década no Festival de Roma.

Por falar em festivais, a Spamflix diz que quer ter parcerias com festivais como MOTELX, IndieLisboa ou Fantasporto, entre outros, já que, para eles, diz a brasileira Julia, que foi programadora da Mostra de São Paulo e produtora, tendo passado também pelo Cinema do Brasil — “um órgão de promoção do cinema brasileiro no exterior” — “é importante a sala de cinema, é uma experiência insubstituível”, comenta, adicionando que a Spamflix “não está aqui para brigar com a sala”, mas sim para “juntar, porque a gente prefere ver um filme no cinema”.

O nome, tal como o dos emails indesejados, vem de um sketch dos Monty Python. Cada semana adicionam um filme novo, com insistência em vozes autorais fortes. O aluguer custa 3 euros e fica disponível por 72 horas. Há à venda vários packs, dos 9 euros, com direito a três filmes, aos 50, com 25, podendo ser, também, oferecidos a outras pessoas. Explica Markus: “Nós gostamos de propor mais do que um filme, outra obra do mesmo autor, quando for possível e quando gostamos do autor, que tem de ter algo diferente dos cineastas mainstream e propor um olhar original e fresco, seja no conteúdo ou na maneira de realizar”, não se limitando a nomes, anos ou países de origem dos filmes. Têm ainda “parcerias com festivais e programas de curtas que passaram em festivais de género”, o “único conteúdo externo” que há no catálogo, afirma Markus. Esta semana, por exemplo, lançaram uma série de curtas do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Neuchâtel, na Suíça.

Em destaque na plataforma estão agora, por exemplo, vários filmes de Alex Cox, o britânico que se estreou em 1984 com Repo Man (O Clandestino, em português), tendo também sido o responsável por Sid e Nancy, e alguém que nos últimos anos tem trabalhado com filmes de micro-orçamentos, muito à margem de Hollywood. Também em destaque está a obra do canadiano Denis Côté, o realizador experimental de Carcasses, Curling ou Bestiaire. Em termos de filmes portugueses, existem três curtas-metragens de António Ferreira, bem como a sua longa Embargo, e A Floresta das Almas Perdidas, de José Pedro LopesO Filme do Bruno Aleixo está apenas disponível internacionalmente.

É mais fácil, afirmam, negociar direitos internacionais quando se tem uma plataforma que não é por subscrição, mas mesmo assim foi um processo longo. “A aquisição numa plataforma que está disponível no mundo inteiro não é tão fácil. Comecei a contactar os primeiros distribuidores em 2015, e alguns só conseguimos depois do lançamento. Há territórios em que são bloqueados e por vezes é preciso fazer muito mais do que um contrato só por um título”, menciona Markus. Julia adiciona que isso mudou “de 2015 até agora” e “hoje tem uma confiança do meio, que demora um pouco a conquistar”. E o catálogo, esse “não é grande como o das outras plataformas de streaming, chegamos globalmente a cem títulos, embora cada país tenha filmes diferentes, e achamos que a nossa força é concentrar-nos numa estreia por semana, acompanhando-a, como acontecia nos clubes de vídeo”, diz Markus.

Há cada vez mais plataformas de streaming por subscrição. "A visão que temos do modelo de streaming é que uma pessoa não vai subscrever todas”, esclarece Julia. “Acreditamos numa pessoa vir buscar um filme, ver na Spamflix, e depois ir a outra plataforma de assinatura. Queremos fidelizar não de forma a obrigar as pessoas a verem todos os conteúdos, mas a saberem que podem vir à Spamflix encontrar aquele filme com que se identificam.”

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