Invertebrados procuram-se e qualquer pessoa pode ajudar a encontrá-los

Campanha de ciência-cidadã para encontrar invertebrados em Portugal continental é lançada esta sexta-feira.

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Libélula-esmeralda (Oxygastra curtisii), uma das espécies que devem ser procuradas Albano Soares

E se nos próximos tempos ajudasse a reunir informação sobre invertebrados em Portugal? Este é o desafio da equipa do projecto Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental. Através da campanha de ciência-cidadã ​“Invertebrados da Lista Vermelha Procuram-se”, lançada esta sexta-feira, propõe-se que todos possam ajudar a mapear a distribuição de 16 espécies de invertebrados, contribuindo assim para a elaboração da primeira Lista Vermelha de Invertebrados de Portugal Continental. Basta descarregar uma aplicação no telemóvel e encarnar o espírito de explorador.

O projecto da Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental começou em 2018 e prevê-se (por enquanto, pois este ano as equipas foram impedidas de sair para campo na Primavera devido à pandemia e podem ter de fazê-lo na próxima Primavera) que termine em Maio do próximo ano com o lançamento do primeiro Livro Vermelho de Invertebrados de Portugal Continental.

“O grande objectivo é ter pela primeira vez a avaliação do risco de extinção das espécies de invertebrados do nosso país, sobretudo de espécies que são endémicas, porque se se extinguirem em Portugal extinguem-se no mundo”, assinala Carla Rego, coordenadora executiva deste projecto e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Com o livro vermelho, pretende-se ter uma ferramenta que indicará quantas das pouco mais de 700 espécies-alvo de invertebrados deste trabalho estão ameaçadas. Dessa forma, permitirá ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas incluir essas espécies ameaçadas no Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados e tomar medidas de protecção para elas e aos seus habitats.

Por agora, há apenas dados preliminares. Por exemplo, as fichas preliminares de avaliação indicam que há duas espécies de crustáceos e seis de moluscos ameaçadas. “Ainda temos de complementar com mais dados de campo que não foram possíveis de recolher este ano”, indica Carla Rego.

Agora, com a campanha “Invertebrados da Lista Vermelha Procuram-se”, todos podem ajudar a reunir informação para essa lista. “O principal objectivo desta campanha é sensibilizar o público em geral para o trabalho que estamos a desenvolver”, diz a investigadora. Para isso, escolheram-se 16 espécies das cerca de 700 envolvidas no projecto.

Há um leque abrangente de espécies desde de insectos, aranhas, caracóis, lesmas, mexilhões do rio, crustáceos até sanguessugas. Oito delas estão protegidas em Portugal e as restantes foram escolhidas devido a lacunas de conhecimento ou com o objectivo de se tentar abranger todos os grupos taxonómicos do projecto. “Escolhemos 16 para não ser saturante e, ao pedirmos para nos enviarem informações sobre uma espécie em particular, as pessoas vão contribuir com informações de outras espécies”, acrescenta Carla Rego.

Da mosca à sanguessuga

Para participar, basta registar-se na plataforma Biodiversity4all e descarregar a aplicação. Depois, já em campo, se a pessoa encontrar um indivíduo que suspeite que é uma das 16 espécies, deve tirar uma fotografia. A aplicação já está programada para analisar a fotografia e sugere a espécie que a pessoa está a ver. Nos bastidores, está também uma equipa de especialista que analisará os registos e validar a informação que poderá ser usada no âmbito do projecto. A página da Lista Vermelha de Invertebrados Terrestres e de Água Doce de Portugal Continental tem também informações sobre as espécies que devem ser encontradas.

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Mosca-das-dunas-lusitânica (Tethina lusitanica) Ana Rita Gonçalves

Carla Rego exemplifica que nessa lista há uma espécie de mosca, a mosca-das-dunas-lusitânica (Tethina lusitânica), que se distribui ao longo de toda a costa, em praias arenosas, nomeadamente na faixa correspondente às dunas primárias. Tem apenas cerca de dois milímetros e pode ser observada na Primavera e no Outono. “É um indivíduo muito pequenino e difícil de ver, mas é para chamar a atenção de que temos espécies de moscas para além da mosca varejeira ou a da mosca-da-fruta”, assinala.

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A sanguessuga Hirudo medicinalis Karl Ragnar Gjertsen

A investigadora destaca ainda a sanguessuga da espécie Hirudo medicinalis. Apesar de ser uma espécie protegida na Europa, não há a confirmação de que essa espécie exista mesmo em Portugal. Há registos históricos de que existe em Portugal continental, mas mais recentemente a sua ocorrência não foi confirmada. Carla Rego diz que num trabalho realizado por investigadores de Espanha se sugere de que não existe na Península Ibérica e que foi confundida com outra espécie. Agora, qualquer pessoa pode ajudar a desvendar esse mistério: quando se encontrar uma potencial sanguessuga Hirudo medicinalis, deve-se tirar uma fotografia em que se veja bem a parte dorsal e ventral.

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