O bebé dorme numa caixa de cartão? A ideia finlandesa chegou a Portugal

O conceito presente na Finlândia desde os anos 1930 chega ao mercado português. Verónica e João trouxeram a ideia do Reino Unido.

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O conceito da Baby Box surgiu na Finlândia há mais de 80 anos. IRINA MURZA/UNSPLASH

A primeira vez que Verónica e João Cortinhas viram um bebé a dormir numa caixa de cartão foi no Reino Unido. Era filho de uns amigos. “Ficamos em choque”, confessa João. O conceito já estava a ser explorado pelo hospital britânico onde Verónica trabalhava como enfermeira, e que oferecia uma caixa cheia de produtos para o bebé às recém-mamãs. 

Depois de seis anos no Reino Unido, o casal decidiu voltar para Portugal quando Verónica engravidou. Além de trazer a bebé Constança na barriga, trazia a ideia da caixa na cabeça. Incentivados pelo “porque não?” e pelo receio de ver algo semelhante no mercado português e pensar “porque não fomos nós?”, o casal decidiu avançar com a ideia. Chamou-lhe Baby Box e custa 34,95 euros. A caixa “tem o objectivo de promover práticas de sono mais seguras de bebés, no sentido de tentar prevenir a Síndrome de Morte Súbita do Lactente”, explica Verónica ao PÚBLICO.

Também conhecida como “morte no berço” por estar associada ao sono, a Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL) é quando uma criança, no seu primeiro ano de vida, morre repentinamente e sem explicação. Na Finlândia, no final dos anos 1930, devido à elevada taxa de mortalidade infantil e à SMSL, o governo começou a distribuir caixas com bens essenciais para os recém-nascidos, com o objectivo de promover um começo de vida mais igual para todos. A caixa era utilizada para o bebé dormir nos primeiros meses.

Ainda hoje, as famílias finlandesas recebem a caixa e aquele país tem das taxas de mortalidade infantil mais baixas no mundo, segundo dados da Statista. Embora este elemento possa ter ajudado, essa queda pode estar associada “a uma melhor qualidade de vida, mães com melhor educação, serviços de saúde mais organizados para mães e bebés e avanços nos cuidados neonatais”, segundo estudos realizados pelo European Journal of Pediatrics naquele país.

Apesar de não haver dados científicos que provem que a caixa funcione de forma isolada, outros países aderiram à ideia, como a Escócia e a Inglaterra. Embora com uma baixa taxa de mortalidade infantil, que diminuiu no ano passado, a ideia chega a Portugal pela mão do casal Cortinhas — o pacote inclui a caixa, que aguenta um peso até 10 quilogramas, e um colchão.

Com a vantagem de poder ser utilizada como segundo berço por ser móvel e segura, a Baby Box e o seu conceito minimalista evita que os pais ponham coisas junto ao bebé como peluches e brinquedos. João vê a caixa como “um veículo para chamar mais à atenção dos pais” para a problemática das práticas seguras do sono dos bebés. Isolada “não vale nada” e suscita uma certa “estranheza” por parte dos consumidores, mas aliada à educação, o responsável pelas operações e marketing da marca sente “uma abertura completamente diferente” por parte dos pais portugueses.

Práticas seguras de sono

Apesar de promover práticas de sono seguras, não há evidências de que a caixa, por si só, reduza o risco da SMSL. No entanto, um estudo realizado pela Temple University concluiu que esta em conjunto com a educação sobre práticas de sono facilitou a amamentação e reduziu a taxa de partilha de cama com os pais, um factor de risco para a SMSL.

“Não existe evidência nenhuma dos benefícios, mas também não existe evidência de prejuízo”, começa por dizer Hugo Rodrigues, pediatra e autor do blogue “Pediatria para Todos”, sobre a utilização da caixa. Contudo, o médico que publicou recentemente O Livro do Seu Bebé, editado pela Contraponto, alerta para um factor de risco que pode ser potenciado pela utilização da caixa, a possibilidade de “fomentar o sobreaquecimento”.

Carmen Ferreira, enfermeira especialista em bebés, considera o conceito mais minimalista do que propriamente científico. “Agrada-me no sentido de que os pais não precisam de muitos produtos nem de muitas coisas para cuidarem do bebé”, começa por dizer a autora de Estamos Grávidos! E agora?, editado pela Manuscrito. O colchão “um bocadinho mais duro” também “ajuda na questão da morte súbita”, mas é “precoce” assumir os benefícios da caixa, salvaguarda, argumentando a necessidade de se fazerem mais estudos sobre o tema.

Por enquanto, a Baby Box não inclui produtos de puericultura como as congéneres finlandesa ou britânica. No futuro, “o objectivo é que, com parcerias, consigamos ter também produtos”, revela João, que se foca agora em mostrar a possíveis parceiros que as possibilidades da Baby Box. Vender em lojas físicas também está no horizonte, mas para já o casal dá prioridade ao site, disponível desde Março.

Texto editado por Bárbara Wong

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