Federação aceita jogos durante a semana para concluir Liga espanhola

Decisão do tribunal foi favorável à RFEF após um braço-de-ferro com a Liga.

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Reuters/Javier Barbancho

Tal como em Portugal, têm andado tensas as relações entre os dois principais organismos que superintendem o futebol espanhol. A vontade de retomar a competição levou, porém, a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) a aceitar uma proposta que a Liga já tinha feito noutras alturas, abrindo com isso a possibilidade de se realizarem jogos em dois dias úteis neste final de temporada.

O braço-de-ferro vem muito de trás e o caso mais mediático terminou mesmo em tribunal, depois de, no ano passado, a RFEF ter contrariado a intenção da Liga (presidida por Javier Tebas) de realizar as jornadas em intervalo temporais mais alargados. Advogando a necessidade de proteger os interesses dos adeptos, o organismo federativo reduziu os jogos em Espanha aos fins-de-semana e o processo ganhou contornos judiciais.

Na terça-feira, o Tribunal do Comércio deu razão à RFEF, mas o presidente do organismo, Luis Rubiales, aproveitou o momento de vitória para adoptar uma posição de maior generosidade, dando seguimento ao compromisso de trabalho conjunto que as duas entidades tinham assumido no mês passado, depois de uma reunião com a ministra do Desporto, Irene Lozano.

“A federação demonstra toda a sua satisfação perante a sentença emitida pelo juiz, que rejeita as intenções da Liga e declara que os jogos às sextas-feiras e às segundas-feiras requerem a aprovação da federação”, reagiu a direcção da RFEF, em comunicado. “Apesar de tudo, a federação deseja mostrar a sua boa vontade e fará a sua parte para facilitar a conclusão da temporada sem quaisquer problemas, salvaguardando o espírito de harmonia a que se comprometeu no encontro no Palácio de Viana [local da reunião com o Governo]”.

Na prática, esta abertura traduz-se na possibilidade de se disputarem partidas do calendário doméstico à sexta e à segunda-feira, uma medida a aplicar “desde que a época recomece e até que termine” e “sem pedir nada em troca”. Em cima da mesa fica também a hipótese de prolongar este regime de excepção até ao início da temporada que se segue, especialmente se se confirmar que as partidas continuarão a ser disputadas à porta fechada.

Em bom rigor, em causa esteve sempre a competência para decidir as datas e os horários dos jogos. De um lado, a Liga, enquanto entidade responsável por fixar os horários, defendia que os dias em que se competia estavam sob a sua alçada; do lado contrário, a RFEF, na qualidade de gestora dos calendários do futebol espanhol, entendia que a determinação dos dias de jogo era uma matéria da sua responsabilidade. E viu o tribunal dar-lhe razão. 

Entre as recomendações de um “trabalho em coordenação” e de “negociações de boa-fé” entre os dois organismos, o juiz que assina a sentença defende que não devem ser tomadas posições unilaterais nesta matéria. De resto, também não colheu o argumento da Liga de que a negociação com os operadores televisivos pressupunha a realização de jogos fora do período do fim-de-semana, dado que o entendimento do magistrado foi de que as datas estabelecidas no acordo eram meramente indicativas e não vinculativas.

O juiz já tinha decretado, como medida cautelar, que se pudesse jogar à sexta-feira, já que levou em linha de conta a vontade expressa da RFEF de negociar esse espaço no calendário. As segundas-feiras, porém, sempre foram um caso distinto. Luis Rubiales sempre encarou como prioridade erradicar o futebol no primeiro dia da semana de trabalho e, nesse sentido, veremos até que ponto este estado de excepção é para manter.

Certo é que a Liga já anunciou que irá recorrer da decisão (terá de formalizar essa intenção nos próximos 20 dias), sublinhando que as restrições impostas pela covid-19 e “decisões desta natureza põem em perigo uma indústria que é tremendamente importante para a sociedade”. Com o regresso do campeonato espanhol apontado para 8 de Junho, parecem estar agora reunidas, ainda assim, as condições mínimas para uma pacificação no futebol. O tempo dirá se vigorarão apenas no curto prazo.

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