Parceria Europa-África

São muitas as razões para olharmos o futuro olhando para África. Portugal, que tem uma relação privilegiada com o continente africano, em especial com os países de língua portuguesa, deve contribuir decisivamente para esta parceria.

A Europa, em geral, mas Portugal, em particular, devem olhar para o continente africano com uma visão de futuro. No continente africano encontram-se potenciais problemas para a Europa mas também é no continente africano onde se encontram as maiores oportunidades. Temos de decidir, junto com os governos africanos, o que queremos. Se queremos os problemas ou se preferimos as oportunidades. Naturalmente que devemos optar pelas oportunidades. E elas existem e são muitas.

Quando falamos de África estamos a falar num mercado de 1200 milhões de pessoas que dentro de 30 anos serão 2500 milhões (25% da população mundial), sendo a grande maioria jovens. O continente africano é um mercado potencial para a Europa e pode-se transformar num mercado contínuo à Europa. Naturalmente nos dois sentidos. Só há uma forma de evitar que África se possa transformar num problema para a Europa e passa por termos uma estratégia de partenariado. Benéfica para África e benéfica para a Europa. Uma estratégia feita e aprovada por ambos os lados. 

O pior cenário, para ambos os continentes, será a persistência da dimensão da pobreza no continente africano. Nesse cenário não é difícil de imaginar que num futuro próximo a onda humana de refugiados africanos a caminho da Europa se possa transformar num autentico tsunami que levará naturalmente a Europa a se transformar numa fortaleza virada para o Mediterrâneo. Um cenário mais que provável se o desenvolvimento em grande escala não chegar ao continente africano, onde por ano são necessários muitos milhões de empregos para os jovens que chegam ao mercado de trabalho.

As potencialidades do continente africano têm despertado a atenção de muitos países que têm estabelecido relações especiais com o continente. A China, a Rússia, o Japão, a Arábia Saudita, o Qatar, os Emirados Árabes Unidos, a Turquia, a India, além da Alemanha, do Reino Unido e da França, têm organizado cimeiras com a região e apresentado planos de cooperação que envolvem centenas de milhões de euros. A União Europeia também. Proximamente haverá a Cimeira União Europeia-África. Aliás, a Europa continua a ser o primeiro parceiro comercial do continente africano (36%) e o maior investidor (40%). Na verdade, as empresas europeias precisam do mercado africano. Como o contrário também é verdade. O continente africano também precisa de muito investimento para construir as infraestruturas que ainda lhes faltam (600 mil milhões de dólares/ano). A Europa pode contribuir.

Vale a pena referir que 65% da terra arável do Mundo encontra-se no continente africano, que tem condições para não só alimentar o seu continente como parte do Mundo. Apesar de 60% da população africana trabalhar na agricultura, a verdade é que o continente importa 80% do que consome (45 mil milhões de dólares). A área da agropecuária tem, por isso, uma enorme potencialidade.

Para ajudar a um cenário otimista, os países africanos decidiram criar uma zona de comércio livre que coincide com o seu enorme continente. É o mais ambicioso projeto de integração regional do Mundo e está a avançar com bons resultados. Também o continente africano tem chegado rápido à nova economia digital. Há 800 milhões de pessoas utilizadores de telemóvel e 281 milhões utilizadores de internet. Os números não param de crescer. 

São, assim, muitas as razões para olharmos o futuro olhando para África. Portugal, que tem uma relação privilegiada com o continente africano, em especial com os países de língua portuguesa (será em África que se irá falar mais a língua portuguesa dentro de 30 anos), deve contribuir decisivamente para esta Parceria Europa-África. Afinal, nós vivemos mesmo ao lado do continente africano, a capital mais próxima de Lisboa é Rabat (e não Madrid) e seis dos nove membros da CPLP são países africanos. Além disso, vivemos ao lado de Marrocos, um dos países mais desenvolvidos do continente africano e com uma clara estratégia de sucesso. O nosso futuro passa pelo sucesso do futuro de África e por uma parceria exitosa para ambos os lados.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
 

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