Futebol português prepara regresso com atenção às lesões na Bundesliga

Campeonato alemão registou vários jogadores lesionados na jornada que marcou o regresso das competições europeias. Equipas portuguesas jogarão, em média, uma vez a cada cinco dias.

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Jogador lesionado no jogo entre o Union Berlim e o Bayern de Munique Reuters/HANNIBAL HANSCHKE

Faltam menos de duas semanas para o regresso do campeonato e, para várias equipas, a recuperação física dos jogadores assume um papel fundamental para assegurar a competitividade necessária para as restantes dez jornadas da I Liga. Serão 90 jogos disputados num curto espaço de tempo, depois de três meses de paragem – 83 dias, para ser mais exacto. Para a grande maioria das equipas portuguesas será uma novidade ter tão pouco tempo de recuperação entre partidas – cinco dias entre jogos, em média –, factor que poderá potenciar um maior número de lesões e ter um impacto negativo no ritmo de jogo.

“Acho que a principal preocupação das equipas será evitar as lesões. Um dos problemas é o tempo de paragem grande do treino mais específico. O segundo ponto é o ritmo elevado para quem esteve muito tempo parado, especialmente para quem não joga com tanta frequência. As equipas que estão nas competições europeias têm esse hábito, as restantes não”, explica ao PÚBLICO José Soares, professor catedrático da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e responsável pelo Laboratório de Fisiologia do Desporto desta instituição.

A situação de paragem abrupta provocada pela crise pandémica não é inédita no passado recente do desporto. Recuemos no calendário uma década e atravessemos o Atlântico: em 2011, nos Estados Unidos, a Liga Profissional de Futebol Americano (NFL, na siga inglesa) foi suspensa em sequência de uma disputa laboral. A interrupção, espoletada pelos proprietários das equipas, arrastou-se durante quatro meses. Menos de duas semanas após o regresso aos treinos, dez jogadores sofreram lesões no tendão de Aquiles, uma das mais graves e que requer longos meses de recuperação.

Este cenário verificou-se na primeira Liga europeia a reatar os jogos, a Bundesliga. Na jornada “inicial” do campeonato alemão, lesionaram-se 12 jogadores, quatro dos quais na partida entre Borrussia Dortmund e Schalke 04. Foi um primeiro sinal negativo que enviou um alerta para alguns dos clubes com mais jogos. O Eintracht Frankfurt, por exemplo, poderá jogar 12 vezes em apenas 49 dias.

O preparador físico do Espanyol, Jaume Bartrés, diz que o aumento exponencial da duração do esforço físico está a ser a principal dor de cabeça para o departamento médico do clube catalão. “Numa pré-temporada normal, que dura seis semanas, realizam-se jogos amigáveis em que vais jogando 30,45 ou 50 minutos. Agora teremos pela frente jogos completos e duas vezes por semana. Há um risco altíssimo de lesão”, resume Bartrés, em declarações ao El País.

"Declínio de intensidade relativamente à época anterior"

Precisamente por este facto, o professor José Soares tem poucas dúvidas de que os 90 jogos que restam ser disputados terão menor intensidade e velocidade do que as restantes jornadas do campeonato. “Acho que o próprio corpo não vai estar disponível para fazer o que fazia antes, como é normal. É a mesma coisa que estar sem ler durante dois meses e começar a ler um livro de José Saramago. Essa “ferrugem” será normal. A possibilidade de fazer cinco substituições vai ajudar [a colmatar esse cansaço]. Acho que existirá um declínio de intensidade relativamente à época anterior”, explica o professor catedrático, salvaguardo o facto de ainda estarmos no capítulo das previsões. “Será interessante comparar estes jogos com os da época passada”, remata.

Já João Pedro Mendonça, presidente da direcção da Associação Nacional de Médicos de Futebol (ANMF), acredita não existirem razões que suportem o argumento de que é expectável ocorrerem mais lesões musculares nestas últimas dez jornadas do campeonato. O médico especialista em ortopedia e medicina desportiva considera que poderá existir uma tendência para ligar as lesões que ocorrerem no regresso à competição, relembrando que as equipas técnicas seguiram os jogadores à distância.

“Qualquer lesão que aconteça neste momento vai-se tendencialmente pensar que está relacionada com esta situação. Os jogadores nunca estiveram completamente parados e foram acompanhados e monitorizados mesmo quando estavam em casa. A minha ideia é de que, com os treinos que fizeram, não há razão para termos a existência de muitas lesões musculares devido a esta situação”, reitera, em declarações à agência Lusa.

A primeira lesão grave após o retorno dos plantéis aos respectivos centros de treino foi contraída pelo defesa central espanhol Iván Marcano, na passada quinta-feira. O habitual titular no eixo defensivo dos “dragões” sofreu um traumatismo directo no joelho direito, do qual resultou uma rotura do ligamento cruzado anterior, informou o FC Porto em comunicado. Apesar de não ter sido avançado o período de paragem, espera-se que o central esteja fora dos planos de Sérgio Conceição para a recta final da Liga NOS.

O campeonato português tem regresso marcado para o dia 3 de Junho e com ele trará uma verdadeira “avalanche” de futebol, suficiente para “matar a fome de bola” desenvolvida pelos adeptos nos últimos meses, garantiu a directora-executiva da Liga, Sónia Carneiro. Entre os dias 3 de Junho e 21 de Julho apenas oito datas não terão qualquer partida, que se realizarão em quatro horários — 19h, 19h15, 21h e 21h15.

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